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SBSR’19: Christine, a rainha. Phoenix, os príncipes da festa.

SBSR’19: Christine, a rainha. Phoenix, os príncipes da festa.

2019-07-19, Super Bock Super Rock 2019
António Maurício
Inês Barrau
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No segundo dia do SBSR 2019, os franceses dominaram o terreno. Christine and the Queens ofereceram uma performance memorável e Phoenix celebraram mais uma noite segura em solo português.

Ao contrário do primeiro dia do Super Bock Super Rock 2019, o dia seguinte não se encontrou esgotado. A presença de um forte cabeça de cartaz como a Lana Del Rey (review aqui), conseguiu criar o caos entre as entradas e saídas no dia de arranque do festival, mas a segunda rodada revelou-se bem mais calma apesar de existirem nomes requisitados entre festivais internacionais. O público avistou-se em menor número, mas a diferença sentiu-se principalmente no principal.

CHRISTINE AND THE QUEENS

Minutos antes da performance de Christine and the Queens, chegar até à linha da frente era tarefa fácil. A usual enchente de público estava estratificada – alguns a jantar, outros a passear pelos stands ou até a ver Capitão Fausto – uma pena para os ausentes, porque foi a melhor actuação ao vivo nestes, até agora, dois dias de festival.

Um espectáculo completo, com uma líder energética, empática e incansável que comandou o conjunto de bailarinos e uma equipa instrumental sempre em acompanhamento. Abrindo com “Comme Si”, a primeira faixa do excelente “Chris” (incluído na lista AS10 Discos da Redacção 2018), fomos agradavelmente surpreendidos pelo elevado nível de produção. A equipa de bailarinos marcou presença em todo o concerto, com movimentos contemporâneos que amplificavam as mensagens das músicas.

A disposição instrumental era constituída por dois músicos nas teclas (um deles alternava com a guitarra), uma bateria acústica com som potente e um baixo com ritmos lentos e assertivos. Héloïse, a estrela pop francesa da equipa, cantava com todas as exigências possíveis, soando, tão bem, ou ainda melhor que as versões de estúdio. “Girlfriend”, a derradeira música pop, fácil de decorar, dançável e cativante, foi apresentada com todas estas variantes a correrem em perfeita sintonia.

Fortemente influenciada pelos anos 80, resultado dos sons de sintetizadores mais vintage (como o Roland Juno-60, esse maquinão de 1982), Chris também passou a mão pela actualidade ao interpolar “Sicko Mode” de Travis Scott no final “Science Fiction”, para um interlúdio unicamente coreográfico. Depois da actualidade, que tal celebrar o passado? A cover de “Heroes”, do intemporal David Bowie, surgiu já perto do final e, apesar da plateia não estar cheia, o refrão foi fortemente vocalizado pelos presentes.

As referências a Michael Jackson foram evidentes na sonoridade, mas também na coreografia, que chegou a incluir o clássico “Thriller”. As duas últimas faixas transcenderam opostos, enquanto “Saint Claude”, cantada entre o público, desfez os mais fortes com uma balada poética, a “Intranquillité” deu o maior encontrão electrónico. Seja qual for a vertente, e depois de uma exibição deste calibre, acreditamos que será impecável.

 

PHOENIX

A apresentação de Phoenix, os segundos franceses a pisarem o palco principal neste dia, foi bem mais simples. Já bem conhecidos pelo público português, com presença assídua em festivais desfilaram o rock electrónico no último concerto da sua digressão actual. Com uma plateia bem mais composta para o palco principal, “Lasso” foi das primeiras músicas a serem apresentadas, evocando os tempos de “Wolfgang Amadeus Phoenix”, o álbum editado em 2009.

Thomas Mars não é um vocalista de muito aparato, até quando se deita no chão durante o intervalo instrumental progressivo de “Sunskrupt!” (um especial para concertos que incorpora “Bankrupt!” e “Love Like a Sunset”), exerce a queda de forma suave e discreta. É assim que se movimenta durante a performance, carregando o peso da música rock que transborda pop e sintetizadores. Sem erros, mas também sem momentos de grande alvoroço, embora no final tenha-se aventurado entre o público no crowdsurfing.

Laurent Brancowitz também foi alternando entre a guitarra e sintetização. Não conseguimos verificar as unidades do músico, mas sabemos que a sua colecção conta com coisas ilustres como um ARP Solina String Ensemble, que foi um instrumento axiomático no som do álbum “Bankrupt” e, em particular da canção “Chloroform”. Também vários Yamaha bem clássicos, como o CS-80, o PSS-380 ou o PSS-680.

No lado oposto, Thomas Hedlund surrava a bateria como se não houvesse amanhã. E de certo modo não havia, sendo que esta era a última paragem antes do final da digressão. Mas a intensidade com que se apresentou no Meco foi de louvar, marcando presença titular do início ao fim. O baixista, Deck d’Arcy, encontrou a maior luz de brilho em “Trying to Be Cool”, onde arranjou espaço para sobressair na sonoridade, fornecendo graves bem mais intensos em comparação com a gravação de estúdio.

“Entertainment” continua a ser o exemplo catchy do trabalho destes rapazes e talvez seja uma das faixas que mais elevou a banda ao mainstream. Ao vivo, alonga-se no tempo, com uma pausa instrumental minimalista no meio que serve para providenciar mais uma volta no refrão. E claro, para o baterista esmagar os pratos. No geral, performance sólida, sem grandes surpresas – unicamente para o “entretenimento” do público.