O Barrelas Summerfest provou pela segunda vez, a 29 e 30 de agosto, que a grande música não vive apenas nos grandes centros.
O nome do festival Barrelas Summerfest provém do antigo nome de Vila Nova de Paiva e tem com um dos principais objetivos colocar a vila no mapa e contribuir para descentralização, deslitorilzação, da oferta cultural em Portugal.
Apesar de jovem, é um festival que já tem uma dimensão relevante, bem organizado, com uma comunicação eficaz e um cartaz sólido. O Barrelas tem lugar no Estádio Municipal da Pedralva, um recinto amplo, com espaço, boa oferta a nível de alimentação e muitos bares. Praticamente não há filas e a visibilidade para o palco é garantida em qualquer ponto do recinto. Nos arredores do festival, em pleno coração da acolhedora vila, há muitos lugares onde estacionar, os acessos são fáceis, o que faz deste um festival bastante prático a nível logístico.
O cartaz está cheio de tiros certeiros. É composto por bandas e artistas todos eles consagrados, com um número considerável de êxitos e que são relevantes para várias gerações. Há bandas/artistas que atingiram o pico nos anos 90/00 e bandas/artistas em pleno pico actualmente. Até pela logística das boleias deve ser super útil. Os pais não ficam à espera dos filhos e vice-versa.
Com o brasileiro Gabriel o Pensador pelo meio, o destaque do primeiro dia de festival, no dia 29 de Agosto, foi para um encontro de gigantes que escrevem sobre o Amor. Tomás Wallenstein encontra Manel Cruz. A melancolia suave de quem ama devagar com a intensidade crua de quem ama como se fosse a última vez.
No ano em que os Capitão Fausto lançaram o primeiro álbum “Gazela”, os Ornatos Violeta lançavam o álbum “Inéditos/Raridades” e começavam a pensar em interromper um hiato que já durava há 10 anos. Talvez ninguém imaginasse na altura que, volvidos 14 anos, iriam andar a partilhar palcos.
Figuras maiores de um género e um imaginário musical que inspirou uma série de novas bandas em Portugal, os Capitão Fausto continuam líderes destacados deste movimento pelas músicas, arranjos, letras e musicalidade. Mérito também por serem das poucas bandas que vão crescendo, se vão reinventando e superando, com sucesso, álbum após álbum. Continuam a reforçar a sua relevância, não cedem à tentação de se pendurar em êxitos antigos, tão pouco dependem deles. Tem sido, de facto, uma “Subida infinita”.
«Sem vocês, não seríamos nada», diz Domingos Coimbra no final do concerto. Nós, o público, seríamos tudo na mesma, mas ajuda sê-lo com boa banda sonora.

Seguiu-se mais um concerto de Gabriel o Pensador em Portugal. O Gabriel o Pensador é aquele amigo que conhecemos há anos, que vemos de tempos a tempos, que recordamos com carinho e que, quando o revemos, parece que a última vez foi sempre ontem.
O set intercalou músicas dos primeiros álbuns com músicas do álbum “Antídoto Pra Todo Tipo De Veneno”, lançado em 2023. Embora os clássicos provoquem uma reação mais intensa do público, as novas canções mantêm uma coerência notável, sobretudo nas letras, que continuam tão actuais hoje como na altura em que foram escritas. No final, Gabriel o Pensador resumiu: «30 anos não são 30 dias».
A primeira noite do festival fechou com chave de ouro com Ornatos Violeta. Uma banda que, mesmo sem música nova, continua a chamar muito público, público esse que se vai renovando. É bom ver diferentes gerações a reagirem de forma idêntica ao apelo dos Ornatos, das suas músicas e das suas letras. Canções que faziam vibrar e chorar há quase 30 anos, ainda o fazem hoje. É curioso ver os mais jovens a cantarem em plenos pulmões as letras de Manel Cruz. Pergunto-me se saberão porque é que o protagonista da “Dama do Sinal” ia ligar a televisão no 26º canal quando chegasse a casa.
O segundo dia, com um recinto mais composto do que na primeira noite do festival, arrancou com os concertos de Morais e Kumpania Algazarra.
Entraram em palco os Hybrid Theory, caso surpreendente de sucesso dentro e fora de Portugal. Já contam com concertos na MEO Arena, em grandes festivais e por esse mundo fora. Porquê? Porque entregam malhas que o público gosta e quer ouvir, e porque o fazem de forma competente. O concerto no Barrelas Summer Fest não foi exceção: entrega do início ao fim e um esforço constante para chegar a cada pessoa do público.
Às 22h00 em ponto, Richie Campbell subiu ao palco e entregou um espetáculo vibrante que transformou o recinto numa animada pista de dança. Combinou reggae, dancehall e R&B, servindo de autêntico mestre de cerimónias, com uma humildade e gratidão notáveis, envolvendo o público com o seu repertório enérgico e contagiante.
Para terminar o festival, a banda responsável pela enchente deste segundo e último dia: Skunk Anansie. À boleia do álbum “The Painful Truth”, lançado este ano, mas às costas dos clássicos “Paranoid & Sunburnt” (1995), “Stoosh” (1996) e “Post Orgasmic Chill” (1999), este foi o quarto concerto da banda em Portugal em 2025 [Campo Pequeno, Coliseu do Porto e Festival do Crato], o último desta tour e o último do ano para o grupo. O público do Barrelas Summer Fest teve direito a uma banda oleada e em plenos poderes.
A relação dos Skunk Anansie com Portugal já é antiga. O interesse começou nos primeiros concertos em 1997, mas foi em 1999 que se consolidou o namoro. Há até uma entrevista no canal alemão Viva Zwei, nesse mesmo ano, em que o jornalista perguntou à banda como era o público de Skunk Anansie. A resposta foi elucidativa: «Nós achávamos que multidões loucas eram todas iguais. Mas em Portugal são mesmo doidos varridos!»
Mesmo que fique a ideia de que, entre o público e a banda, Skin foi a única que não gastou toda a energia e entusiasmo nesses concertos do final dos anos 90 e início dos anos 2000, foi um bom concerto. Sente-se claramente que as canções dos três primeiros álbuns estão uns furos acima das restantes do catálogo. É por elas que o público lá está. E, sobre o objetivo do festival: certamente ajudará ter os Skunk Anansie a fazer um cover de “Highway to Hell” dos AC/DC para colocar Vila Nova de Paiva no mapa.























