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(c) Inês Silva

Bob Vylan em Lisboa: Quando o Grime Punk é Uma Arma Contra o Genocídio

10/10/2025

Review

Bobby Vylan
9/10
Bobbie Vylan
8/10
Scúru Fitchádu
8/10
Ambiente
10/10
Som
9/10
Overall
8.8/10

Apesar de estarem debaixo de muito fogo, os Bob Vylan apresentaram-se finalmente em Lisboa. A banda mais badalada da música de protesto contemporânea estreou-se em Portugal com uma performance inquietante que articulou a irreverência do punk com o ativismo político que lhes é característico.

O ano de 2025 tem sido particularmente agitado para os Bob Vylan. Com a dupla Bobby e Bobbie no ativo desde 2017, nunca o seu nome tinha atingindo contornos tão mediáticos como aconteceu neste ano. Referenciados como um dos maiores expoentes da música de intervenção contemporânea, em particular para com a causa Palestiniana, os Bob Vylan começaram a gerar algum burburinho quando se apresentaram no festival Glastonbury, no Reino Unido, perante uma multidão de dezenas de milhares in loco e tantas outras que acompanharam a sua atuação através da transmissão da BBC. Cientes da exposição que estavam a ter, os Bob Vylan apresentaram o seu set característico, sem qualquer tipo de censura. Desta forma, quando chegou o momento indicado, o grupo incentivou o público, como faz em todos os seus concertos, a entoar a frase «morte às Forças de Defesa Israelitas». Rapidamente, a BBC foi inundada com protestos dos telespetadores e mais tarde chegou mesmo a declarar que a transmissão do concerto da banda tinha violado as diretrizes editoriais no que diz respeito a danos e ofensas.

Desde então, os Bob Vylan nunca mais tiveram descanso, para o bem e para o mal, seja lá qual for a interpretação de um e de outro. Um dos acontecimentos mais flagrantes foi o cancelamento da tour com os Gogol Bordello, que vai passar brevemente por Portugal, devido a pressões relacionadas com as declarações no Glastonbury. Mais recentemente, e após o assassinato do ativista norte-americano de extrema direita Charlie Kirk, os Bob Vylan voltaram a atiçar o fogo num concerto no Paradiso Club, em Amesterdão, ao terem proferido vários comentários impiedosos para com o seu desaparecimento. Como consequência, a sala 013 Poppodium, em Tilburg, viu-se forçada a cancelar o concerto que estava agendado. Agora, em Manchester, Inglaterra, vários deputados e líderes da comunidade judaica exigem o cancelamento de um concerto dos Bob Vylan marcado para o dia 5 de Novembro

Felizmente, um promotor português teve bom senso e não deixou os fãs portugueses de keffiyehs a abanar. O concerto em Portugal foi organizado pela recém criada promotora I Want More Live, liderada por Jorge Felizardo, ex-Primitive Reason e agora tour manager dos Bob Vylan, que chegou-se à frente para fazer com que este evento acontecesse num momento tão delicado, mas tão importante e necessário, para a política internacional.

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(c) Inês Silva
Scúru Fitchádu

Sendo este um concerto avulso dos Bob Vylan, isto é fora de uma tour, já era expectável que a primeira parte ficasse a cargo de um projeto nacional. É certo que numas vezes as escolhas surgem um bocado ao lado, noutras fazem todo o sentido, e aqui temos que dar os parabéns a Jorge Felizardo, pois acertou na muche ao escolher o projeto Scúru Fitchádu para abrir o concerto. Também ele um projeto de protesto e de fusão da atitude punk com os ritmos cabo-verdianos, Scúru Fitchádu agarrou facilmente o público com o seu set dançável e as suas letras que espelham bem as questões sociais e políticas contemporâneas, incluindo o racismo. Do crioulo ao português, Marcus Veiga deu a conhecer vários temas do seu mais recente álbum “Griots i Riots” (2025) e passou uma mensagem de resistência em temas como “Kema palasio kema” e “Idukasan i saud“, esta última com várias referências ao clássico “Liberdade” de Sérgio Godinho. Não menos importante foi a valorização da instrumentação tradicional cabo-verdiana que vimos em palco, neste caso através do uso do Ferrinho, tocado por Marcus para marcar um ritmo frenético.  

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Bob Vylan

«A banda mais fofa do punk rock», «A banda mais simpática do rock’n’roll» ou «A banda mais importante da Grã-Bretanha», foram algumas das expressões que Bobby Vylan utilizou para descrever o grupo num tom jocoso. Talvez a última tenha sido a mais assertiva, tendo em conta o impacto que os Bob Vylan têm tido nos media britânicos e não só.

Independentemente do slogan, foi perante uma moldura humana repleta de bandeiras da Palestina e keffiyehs que o grupo entrou na sala 1 do LAV – Lisboa Ao Vivo para dar início ao seu protesto na forma de concerto. No palco, encontrava-se uma produção minimalista, composta apenas por uma bateria, tocada por Bobbie Vylan, e uma espécie de sound system, mas sem dj a comandá-lo, com a bandeira da Palestina afixada. Porém, verdade seja dita, que o concerto não teria o mesmo impacto sem as mais variadas mensagens de cariz político e social que foram projetadas na tela de fundo como: «Este país foi construído às custas dos imigrantes», «Precisamos de casas acessíveis para todos», «A vida humana antes do lucro privado», «Hoje controlamos os alugueres… amanhã a polícia, as escolas e a comunidade!», «Oito anos depois e ainda sem justiça para Grenfell» ou «Os direitos das mulheres são direitos humanos.» Todas elas foram “ilustrando” temas como “GYAG (Get Yourself a Gun)”, “Wicked & Bad”, “He’s a Man” ou “I Heard You Want Your Country Back”.

Apesar da alteração da setlist face à do último concerto decorrido a 15 de Setembro em Nijmegen, nos Países Baixos, a performance dos Bob Vylan contou com a tradicional meditação e uma série de alongamentos ao som de um instrumental grime logo na abertura. Enquanto o público seguia à risca os exercícios de Bobby, já a tela de fundo transmitia uma mensagem incisiva: «Os Bob Vylan estão matar o punk rock», uma declaração claramente em jeito de provocação para com todos aqueles que se opõem ao posicionamento político do duo britânico.

Combinando a agressividade dos Rage Against The Machine, a desobediência dos Sex Pistols e o flow de Dizzie Rascal, os Bob Vylan souberam alternar temas com mensagens poderosas como “Dream Big”, “Northern Line” ou “We Live Here” com discursos que tocaram em pontos como o seu cancelamento por parte da BBC, o incentivo à liberdade palestiniana, a procura dos jornalistas em arrancar soundbites nos concertos e, em jeito de aproximação para com o público presente no LAV, o crescimento da extrema direita e do partido Chega em Portugal, fazendo assim um paralelismo com o panorama britânico.

Num momento de protagonismo de Bobbie, houve espaço para ouvir a sua bateria a acompanhar o clássico “Everybody Loves the Sunshine” de Roy Ayers, antes de mais uma chamada de atenção na forma de “Ring The Alarm”.

A noite estava a correr bem, com o duo a confessar que aquele estava ser um dos «concertos mais divertidos» da sua carreira.

Apesar do tempo fresquinho no exterior, no interior do LAV o ambiente estava bem caloroso com mosh pits constantes a acompanharem a descarga de energia contagiante e catártica dos Bob Vylan. A noite estava a correr bem, com o duo a confessar que aquele estava ser um dos «concertos mais divertidos» da sua carreira. Para premiar esse título, eis que surgiu a primeira surpresa da noite com a estreia ao vivo de “Sick Sad World”, uma nova malha a roçar o hardcore que será lançada a 10 de Outubro. Mas, para Bobbie este concerto estava mesmo a ser especial e foi numa pequena conversa com Bobby que decidiram tocar mais um inédito cuja data de lançamento ainda não está sequer definida. Bobby mostrou-se inicialmente reticente, mas o público fez barulho suficiente e conseguiu convencer o frontman a apresentar este tema que se aproxima mais do rap britânico.

Para o fim ficou guardada “Hunger Games” cuja mensagem «(…) És mais forte do que pensas/És amor/Não estás sozinho/Estás a passar por um inferno, mas continua/Tem orgulho próprio, tem abertura de espirito/Sê barulhento, sê esperançoso/Sê saudável, sê feliz/Sê gentil contigo mesmo/Sê decisivo» abriu um raio de luz num mundo profundamente nublado. Prontamente, a dupla informou o público de que no fim teriam todo o tempo do mundo para trocar dois dedos de conversa, tirar fotos e dar autógrafos, num momento que demonstrou que, apesar dos palcos e dos púlpitos, ninguém é mais que ninguém.

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