Quantcast
AK-47 vs. Guitarras

AK-47 vs. Guitarras

Nero

Os californianos Eagles Of Death Metal ficarão para sempre marcados na história. Pela primeira vez um ataque terrorista teve como alvo um concerto de rock ‘n’ roll.

A banda liderada por Josh Homme e Jesse hughes, apenas o último está em digressão, passou por Paris na passada 6ª feira, 13 de Novembro de 2015, para promover o seu quarto álbum, “Zipper Down”. O evento esgotou a antiga sala de espetáculos, o Bataclan, com uma lotação máxima entre as 1000 e 1500 pessoas. Tudo decorria com normalidade quando, após sensivelmente uma hora de concerto, uma onda de ataques terroristas (o Estado Islâmico do Iraque e do Levante assumiu a responsabilidade) varreu a capital francesa, com um dos mais brutais a ter lugar no Bataclan.

Quatro indivíduos armados abriram fogo, indiscriminadamente, no meio da sala. A banda, segundo relatos do irmão do baterista Julian Dorio, estava em palco quando o ataque foi iniciado, tendo imediatamente recolhido aos bastidores. A Reuters falou com Jo Ellen Hughes, a mãe de Jesse Hughes, que confirmou ter falado com o seu filho por telefone e que este estava bem, mas bastante «triste e perturbado». A mãe do frontman confirmou ainda que a banda foi levada sob escolta policial para uma esquadra próxima, como medida de protecção. Foi uma das bandas de abertura do concerto, os franceses Red Lemons, que primeiro deu conta, através da sua página oficial no Facebook, que todos os músicos estavam em segurança.

Algumas testemunhas explicam alguma eventual demora na fuga. O som dos disparos, devido ao volume do concerto, terá passado algo despercebido de início. Foi só quando Jesse Hughes parou de tocar, tirando a guitarra, que se tornou claro o que estava a acontecer. A maioria do público presente conseguiu escapar através das saídas de emergência da sala, mas muitos foram feitos reféns pelos terroristas que, de acordo com testemunhos nas redes sociais e relatos de testemunhas, passaram a assassinar a sangue frio as pessoas que encontravam. Julien Pearce, um jornalista da rádio Europe 1 presente no local, descreve os ataques: «Foram dez minutos horrorosos, com muita gente pelo chão a cobrir a cabeça. As pessoas gritavam. ouvimos muitos tiros».

Pelo menos dois dos indivíduos, aparentando idades na casa dos 20, estavam munidos de AK-47, recarregaram duas ou três vezes e deambularam calmamente pela sala executando as pessoas que estavam no chão. De acordo com Pearce: «Os terroristas estavam muito calmos e determinados. Disparavam sobre nós como se fossemos pássaros». O terror acabou por resultar em 87 mortos (os primeiros relatórios apontavam para mais de uma centena de mortos) e só foi parado após tiroteio com as forças de segurança francesas. Quando perceberam estar cercados, três dos atacantes fizeram explodir os coletes que carregavam, cometendo suicídio e provocando a morte de, pelo menos, quatro agentes das forças de segurança, o último terrorista foi morto pela polícia.

Fundado em 1864, o Bataclan é uma das mais emblemáticas salas parisienses. Originalmente era um sala de teatro vaudeville e chegou a ser um local de espectáculos eróticos. Foi restaurado na década de 50 e tornou-se uma sala de concertos. Ao fazer a reivindicação dos ataques, um comunicado do Estado Islâmico justifica-os afirmando que o Bataclan é um antro centenário de perversão e que o rock, no geral, e os Eagles Of Death Metal são símbolos impuros… Há vários episódios de violência em concertos ao longo da história, mas esta foi a primeira vez que um ataque terrorista teve como alvo um concerto rock.

O concerto de Eagles Of Death Metal em Lisboa, marcado para dia 10 de Dezembro, foi anulado, tal como as restantes datas da digressão europeia, segundo noticia a AFP.