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As Artes Avançam e Tomam a Dianteira ao Longo dos Próximos Meses em Guimarães

As Artes Avançam e Tomam a Dianteira ao Longo dos Próximos Meses em Guimarães

Redacção
Diana Mendes

O mês de junho abre com artes performativas e com os emblemáticos Festivais Gil Vicente ao centro, servindo de ignição à programação dos próximos meses que junta também à mesa a música, as artes visuais, lançamento de edições, cinema, e mais teatro, entre diversas outras iniciativas.

Toda a ação se desenrola nos espaços culturais geridos pel’A Oficina como o Centro Cultual Vila Flor (CCVF), o Centro Internacional das Artes José de Guimarães (CIAJG), a Casa da Memória de Guimarães (CDMG) e a Loja Oficina (LO).

Após o salto imposto pela situação sanitária que impediu a sua realização no ano passado, a edição de 2021 dos Festivais Gil Vicente (FGV) realiza-se de 2 a 11 de Junho em Guimarães, disseminando a arte do teatro pelo CCVF e pelo CIAJG nos dias 2, 3, 4, 9, 10 e 11 de Junho, sempre às 19h30. Alavancada sob “formas de imaginar o fim para lançar outros começos”, este ciclo de espetáculos – vários apresentados em estreia absoluta – desafia-se, nas palavras do programador Rui Torrinha, a “habitar o fim, um fim qualquer e irreversível, enquanto matéria para imaginar a construção de novos nexos, novas lógicas de relação e de expansão do sentir”, pretendendo dedicar maior protagonismo às novas gerações e à valorização de novas dramaturgias.

Os FGV abrem-se “Fora de Campo” com o coletivo SillySeason a 2 de Junho, expostos à desmontagem do tempo e do espaço através de um dispositivo resgatado ao mundo – a tecnologia audiovisual – que nos impõe a necessidade de decidir onde fixar a atenção, possibilitando ao público vaguear pela construção de um imaginário que dialoga, em permanência, com os acontecimentos em palco. E é nessa bifurcação entre o possível e o imaginário que a 3 de Junho nos vamos aproximando de um novo fim em “Cordyceps”, obra erguida por Eduardo Molina, João Pedro Leal e Marco Mendonça (vencedora da bolsa de criação 5 Sentidos e com residência artística no Centro de Criação de Candoso (CCC) e na Black Box da Fábrica Asa, em Guimarães) e instalada no último dia da democracia que dará lugar a uma nova ordem onde já não será possível ter acesso à cultura ou qualquer outra forma de expressão e pensamento livre. E, nas palavras dos próprios criadores, será “provavelmente, o último espetáculo que terão oportunidade de ver.”, neste caso em estreia absoluta nos Festivais Gil Vicente. Mas, para não precipitarmos demasiado o fim, “A Fragilidade de Estarmos Juntos” assinada por Miguel Castro Caldas, António Alvarenga e Sónia Barbosa, puxa o filme um pouco atrás para, a 4 de Junho, voltamos a debater os dilemas da democracia em mais uma estreia em Guimarães, refletindo sobre a forma como olhamos para a posição do outro e a possibilidade (e riscos) da empatia, tentando perceber as oportunidades de participar nessa geração de possíveis.

E, porque nesta edição o tempo não é linear, a 9 de Junho dá-se um salto sobre os alertas para o fim dos tempos, para imaginar esse depois onde já estaremos eventualmente livres do sentido de catástrofe, porque ele é inteiramente fabricado por nós. Essa futura lavagem da toxicidade do presente que nos cobre, ocorre em “Memorial” de Lígia Soares. E nesta estimulante viagem sobre o fim enquanto matéria para se lançarem outros começos, não é esquecida a inclusão de um pouco de intensidade e drama, ingredientes encontrados em “OFF” da companhia Mala Voadora, no dia 10 de Junho. Um espetáculo sobre o fim. O fim de um ciclo. O fim das nossas vidas, o fim do planeta, o fim de novas ideias, o fim da própria mala voadora. O fim de tudo. Mas, um espetáculo sobre o fim é, afinal de contas, “Um espetáculo que se sabe como acaba. E como nada há para inventar temos todo o tempo para festejar.”, como refere Jorge Andrade, o encenador e diretor da companhia. Depois do fim ou dos vários fins, Tiago Lima aproxima-se para dizer “Ainda estou aqui”, explorando a ideia de devoção ao entretenimento que, associada ao individualismo dos nossos tempos, explica que a solidão pode atingir qualquer um. Este espetáculo, escrito e encenado pelo próprio, é simultaneamente um concerto, contando com interpretação e música ao vivo de Bruno Ambrósio, Débora Umbelino aka Surma, Eduardo Frazão e Rodolfo Major. Este que é o projeto vencedor da última edição da Bolsa Amélia Rey Colaço – iniciativa promovida pel’A Oficina (Guimarães), O Espaço do Tempo (Montemor-o-Novo), o Teatro Nacional D. Maria II (Lisboa) e o Teatro Viriato (Viseu) – será apresentado em todos estes espaços, tendo nos Festivais Gil Vicente a sua estreia absoluta a 11 de Junho, após residência artística em Guimarães.

No início de junho, a música também surge pelas mãos da pianista Joana Gama com “As árvores não têm pernas para andar”, num concerto dedicado às crianças de tenra idade a ser apresentado entre 4 e 25 de Junho em escolas do concelho de Guimarães, reservando igualmente nos dias 14 e 15 uma formação para professores acerca do processo de construção deste espetáculo.

Pondo um pé na segunda quinzena de junho, dá-se início a uma série de concertos que ocuparão vários finais de tarde, sempre às 19h30 de cada sexta-feira, proporcionando momentos de fruição e descontração que se adivinham memoráveis nos jardins do Centro Cultural Vila Flor, com entrada gratuita até ao limite da lotação do espaço. No dia 18, o pianista e compositor Júlio Resende, que se tem afirmado como um dos mais internacionais músicos portugueses, contando já com sete álbuns editados, surge neste relvado com um Ensemble da Orquestra de Guimarães num espetáculo apresentado no âmbito da programação em rede que tem vindo a ser desenvolvida pelo Quadrilátero Cultural, projeto que promove e valoriza o património cultural e natural da região de Barcelos, Braga, Famalicão e Guimarães através de ações de programação artística e cultural em rede.

E a partir da sexta-feira seguinte, entra-nos pela porta da frente uma nova Lufada, que após uma primeira edição esgotada (em 2020) promete mais uma vez provocar fortes momentos de descompressão ao ar livre estendidos ao longo de três semanas, com pontuação marcada nos finais das tardes dos dias 25 de Junho e 2 e 9 de Julho com os concertos do talentoso duo de músicos de jazz portugueses Bruno Santos / Ricardo Toscano com o seu projeto “Backyard Sessions”, inspirado numa ideia de Rita Redshoes, que os “empurrou” para os seus quintais para “dar música aos vizinhos”; do músico Bruno Pernadas assinalando o seu regresso às edições com “Private Reasons” num concerto muito aguardado em que terá a companhia cúmplice de vários outros músicos como João Correia (Tape Junk, Julie & The Carjackers), Afonso Cabral (You Can’t Win, Charlie Brown) ou Francisca Cortesão (Minta & The Brook Trout, They’re Heading West), entre outros; e ainda de Surma que, para além da sua voz doce e da parafernália de instrumentos a que já nos habituou, surge em pleno jardim do CCVF acompanhada por João Hasselberg no contrabaixo e eletrónicas e Pedro Melo Alves na bateria e percussões.

As artes visuais também trazem novidades nos próximos meses e marcam presença na Loja Oficina com a inauguração a 19 de Junho de “Ainda há Beleza”, de Maria Carvalho, uma exposição de cerâmica e têxteis que reflete o mundo floral, marítimo e exótico, num efeito que nos remete ainda para as naturezas-mortas, que perpassam toda a história da arte europeia. No mesmo dia, na Casa da Memória de Guimarães, decorre igualmente a apresentação pública da “Velha Infância”, de Vera Alvelos, um grande projeto de arte participativa em ligação com a comunidade – que parte das memórias e das histórias pessoais dos participantes, dos seus saberes, dos seus modos de fazer, do sentir – e que após uma residência artística no CCC desemboca numa inauguração que incorpora uma peça de teatro, tendo a mesma um dispositivo visual associado que a partir desta data ficará disponível enquanto exposição nesta Casa (CDMG) que é de todos e para todos os vimaranenses e todos os que a visitam.

A música para todas as idades, e especialmente dedicada aos mais novos, também irá apoderar-se do jardim do CCVF no dia 1 de Julho com a “Mão Verde” de Capicua e Pedro Geraldes com Francisca Cortesão e António Serginho. A música volta, ainda, a apresentar-se em nome próprio nos dias 10, 16 e 24 de Julho com os concertos de Judas Triste (Dora Vieira, David Olé e Nuno O.), Ayom (integrado no ciclo Terra) e MotoRotos (Carlos Lima, Dora Vieira, David Olé, Tito Silva), marcando a reta final da exposição “Movimentos Bruxos” atualmente patente no Palácio Vila Flor.

De lembrar também que, ao longo destes próximos meses, é possível continuar a visitar e a (re)descobrir as recém-inauguradas exposições do Centro Internacional das Artes José de Guimarães no âmbito do programa artístico “Nas margens da ficção”, a igualmente nova exposição do Palácio Vila Flor, “Movimentos Bruxos”, bem como as exposições permanentes “Território e Comunidade” da Casa da Memória e “In Memoriam – Alberto Sampaio” da Loja Oficina.

A programação completa promovida pela cooperativa cultural vimaranense A Oficina já se encontra disponível para consulta no website aoficina.pt e restantes websites dos espaços culturais, podendo esta informação ser igualmente acompanhada nas respetivas redes sociais.