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Discos ou Streaming? A Pegada Ecológica da Indústria Fonográfica

Discos ou Streaming? A Pegada Ecológica da Indústria Fonográfica

Redacção

Para lá do debate entre os formatos mais convenientes para o ouvinte e os que oferecem uma experiência de maior fidelidade sónica, há vantagens e desvantagens ambientais no consumo de vinil e no consumo do streaming digital. Desenganem-se os que pensam que não comprar álbuns e consumir música digitalmente não deixa uma grande pegada de carbono…

O ressurgimento do vinil veio para ficar e tem levantado algumas preocupações e debate, afinal o seu impacto ambiental está a tornar-se mais preocupante. Num artigo de Jon Donnison, para a BBC, refere-se que foram vendidos 22 vezes mais álbuns de vinil no Reino Unido em 2020 do que em 2007 – com vendas que saltaram de 210.000 para 4,8 milhões. Os números mais recentes da Indústria Fonográfica Britânica revelam que as vendas cresceram mais de 30% só em 2020, trazendo receitas de mais de 86 milhões de libras. Estes números reflectem os da indústria a nível global.

Pela primeira vez desde o final dos anos 80, espera-se que o valor das vendas de discos em 2021 ultrapasse o dos CDs – embora ainda fique muito aquém da transmissão digital e dos downloads. Isto no Reino Unido, pois nos Estados Unidos da América essa ultrapassagem já aconteceu. À medida que as vendas aumentam, as gravadoras e os artistas começam a olhar para as questões de sustentabilidade.

O PVC (policloreto de vinil), o plástico a partir do qual os discos são feitos, não é exactamente amigo do ambiente. «O vinil é uma forma de plástico que é bastante difícil de reciclar», diz a Dra. Sharon George, professora sénior em ambiente e sustentabilidade na Universidade de Keele. «O C em PVC significa cloreto (de cloro) que é bastante tóxico e difícil de manusear. Esta é uma das razões pelas quais os recicladores não gostam realmente do PVC, pelo que este tende ou a ir para o aterro sanitário ou para a incineração».

Isto levou alguns na indústria a começar a explorar alternativas. Nomeadamente, fabricar o vinil a partir de reciclagem, como fez Nick Mulvey, em 2019, com o single “In The Anthropocene”, «um disco de alta qualidade feito inteiramente de plástico reciclado extraído do oceano, após chegar às praias costeiras do sul do Reino Unido», diz o músico. Todavia, o projecto – um empreendimento conjunto com a Sharps Brewery, com todos os lucros a reverterem para a instituição de caridade Surfers Against Sewage – foi moroso e laborioso e apenas cerca de 100 exemplares de edição limitada foram feitos. Mas há mais empresas a explorar novas técnicas, ainda que a produção em massa utilizando plásticos reciclados esteja longe de ser uma realidade.

A favor do vinil é o facto de, na maioria dos casos, se tratar de um artigo coleccionável e não descartável. Quando falamos em vinil com registo musical, claro, é um dos objectos de plástico com o qual se criar mais empatia. bastaria pensar que muitos melómanos herdam parte da sua colecção dos seus pais e até dos seus avós e estão confiantes em passar essa paixão aos seus descendentes.

Portanto, desde que valorizemos o vinil e que o seu preço seja fixado em conformidade, na verdade, ele resiste bastante bem a formas digitais de música como o streaming e o download em termos de sustentabilidade, diz a Dra. Sharon George, que passa a enumerar a vantagem que este formato ganha, no que respeita à sustentabilidade ecológica, aos formatos digitais. «Há a suposição de que, com a música electrónica [digital], não há pegada de carbono. Claro que há, porque essa música tem de ser hospedada em algum lugar, há servidores que têm de ser arrefecidos. Há uma pegada de Tecnologia da Informação (TI)».

O cálculo é naturalmente complexo, mas a Dra aponta um número aproximado de que basta ouvir um álbum 27 vezes em serviços de streaming para se superar a pegada de carbono de um vinil. Daí aconselha: «Se vão ouvir algo apenas uma ou duas vezes, então é, provavelmente, melhor descarregá-lo e evitar o plástico. Mas se vão ouvir uma peça de música vezes sem conta, eu investiria na sua versão física e depois guardá-la-ia».

É um conselho ponderado e, sem complexos, pois a sustentabilidade também deve reflectir a vossa saúde mental, devem analisar os vossos hábitos de consumo musical, para perceberem como tornar a vossa melomania mais conscienciosa com este planeta.

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