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“Revolver”, John Lennon e o Fascínio dos Beatles Pela Electrónica

“Revolver”, John Lennon e o Fascínio dos Beatles Pela Electrónica

Nero

Ressurgiu uma rara entrevista de John Lennon, realizada no início das sessões daquele que seria o extraordinário sétimo álbum dos Beatles. Lennon confessa-se apaixonado pela manipulação electrónica da música e por um novo mundo de sons que tornaria “Revolver” num dos álbuns mais importantes da música moderna.

Quando os Beatles lançaram “Rubber Soul” atingiram um novo patamar de musicalidade e instrumentação, mas o melhor estava ainda por vir. Afinal, o álbum seguinte foi esse marco de psicadelismo que é o álbum “Revolver”. Em 11 de Maio de 1966, John Lennon concedeu uma entrevista ao jornalista Chris Hutchins da NME.

Uma conversa onde revelava aquilo que os Beatles pretendiam atingir com aquele que seria o seu sétimo álbum, nessa altura a meio das suas sessões de gravação e que viria a ser editado em Agosto do mesmo ano, que foi recentemente “desenterrada”.

O jornalista perguntou a Lennon o que se poderia esperar que surgisse das sessões de gravação e o músico respondeu: «Literalmente, qualquer coisa. Música electrónica, piadas. Uma coisa é certa, o próximo LP será muito diferente». Então Lennon referiu que, inicialmente, o plano era o álbum não possuir separadores de silêncio entre as canções. «Queríamos que não existisse espaços de silêncio entre as músicas, que tocasse continuamente. Mas eles [editora] não aceitaram». Os Beatles teriam esse desejo realizado no ano seguinte, na obra-prima “Sgt. Peppers”.

«O Paul e eu estamos muito interessados em música electrónica». Lennon fazia referência às famosas experiências com gravadores de fita que levara por diante com Paul McCartney, recorrendo a gravadores portáteis: «Captas o som de dois copos a bater ou sons da rádio, depois sequencias (loop) a fita para repetir os sons em intervalos. Há pessoas a construir sinfonias inteiras dessa forma!», afirmava entusiasmado.

Todavia, Lennon recordava que na altura da entrevista as canções ainda não tinham começado a ser verdadeiramente escritas, fazendo uma confissão curiosa: «O Paul e eu devemos começar a escrever algumas canções para o novo LP na próxima semana. Espero que ele e a Jane Asher não se ausentem ou saberá Deus quando estaremos prontos para gravar. O George pensava que estava tudo escrito e pronto. Por isso interrompeu e veio a correr da sua lua-de-mel e não tínhamos nada pronto. Temos que começar».

“Revolver” foi o último disco que os Beatles editaram antes de anunciarem que iriam deixar de tocar ao vivo. Partindo das veredas musicais que haviam aberto com “Rubber Soul”, tornou-se num dos mais inovadores trabalhos na história da música pop, com uma enorme variedade de estéticas e sons.

Sem o constrangimento de ter que reproduzir as canções ao vivo, a banda usou e abusou de técnicas de estúdio como ADT (Automatic Double Tracking, técnica de gravação musical analógica criada para realçar sons feita por meio de delays de fita, ao criar uma cópia lenta de um sinal de áudio, que é então combinada com o material original, desenvolvida nos Abbey Road nesta altura), varispeed (a manipulação do pitch), reverse tape ou captações de proximidade.

Também foram usados instrumentos fora do seu combo habitual de guitarras, baixo e bateria, como tão bem ilustra “Eleanor Rigby”, e os famosos loops de fita de “Tomorrow Never Knows”. Para muitos, este é o álbum que inspirou o desenvolvimento do rock psicadélico, da world music (reflexo das incursões pelo cânone da música hindustani em “Love You To”, que Harrison escreveu e onde usou instrumentos como a tabla e a sitar) e até da música electrónica.

Para muitos, “Revolver” é considerado superior a “Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band”.