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Róisín Murphy: «Tenho Ableton… Só Preciso De Portátil, Interface E Microfone»

Róisín Murphy: «Tenho Ableton… Só Preciso De Portátil, Interface E Microfone»

Redacção

A antiga cantora dos Moloko, um dos nomes maiores da música electrónica, concedeu uma entrevista na qual fala sobre como passou de apenas andar a dançar no estúdio até saber mexer no equipamento para co-produzir o seu próprio material.

«Não descobri a música, a música descobriu-me. Estava lá, à espera de saltar para cima de mim. É uma parte da minha vida, desde que me consigo lembrar».

Róisín Murphy – que já foi outrora metade dos Moloko, mas com sucesso a solo durante a maior parte dos últimos 20 anos – cresceu em Arklow, uma pequena cidade a sul de Dublin, Irlanda. E talvez seja cliché imaginar que cada casa irlandesa esteja cheia de música mas, para a família Murphy, este parece ter sido mesmo o caso.

«Qualquer razão para uma bebida e qualquer razão para uma canção, assim era a minha casa. Quando olho para trás, parece que a canção nunca parou. Mistura-se com a forma como falámos uns com os outros. Se estávamos tristes ou felizes, a música era o meio de comunicação», refere Murphy em entrevista ao site Music Radar.

Os seus pais mudaram-se para Manchester quando Róisín tinha 12 anos, mas acabariam por regressar à terra-natal apenas três anos mais tarde. Porém, Róisín, com apenas 15 anos, decidiu ficar, vivendo com colegas de escola até ter idade suficiente para conseguir um lugar próprio.

Naquele tempo, havia muita coisa a acontecer em Manchester – Murphy assistiu ao desenrolar da cena ‘Madchester’ -, mas foi uma mudança para Sheffield, em 1993, que finalmente a empurrou para um estúdio de gravação. Uma das primeiras pessoas que conheceu foi Mark Brydon, antigo baixista da banda funk industrial Chakk. Juntamente com outras bandas de Sheffield, como os Human League, Heaven 17, Cabaret Voltaire, entre outras, os Chakk foram pioneiros na produção de música de dança conduzida por máquinas no início dos anos 80. Tiveram um sucesso limitado, mas suficiente para permitir a Brydon construir o impressionante estúdio de gravação FON.

«Eu e Mark tínhamos iniciado uma relação, mas também andávamos a brincar no estúdio durante o tempo de inactividade. Apenas a inventar merdas. Foi o início dos Moloko, na verdade. Muito amador. Mas, de alguma forma, o manager do Mark arranjou-nos um encontro numa editora discográfica em Londres e de repente tínhamos um acordo para fazer seis álbuns. Foi uma loucura! Mal tinha cantado uma palavra desde que tinha deixado a Irlanda e agora era uma cantora profissional», recorda.

Apesar de terem sido integrados nas bandas de trip-hop dos meados dos anos 1990, o seu álbum de estreia, “Do You Like My Tight Sweater?”, tinha um som muito próprio. Singles como “Sing It Back” (1999) e “The Time Is Now ” (2000) deram-lhes êxitos na Europa e nos EUA, mas como a relação de Murphy e Brydon começou a desmoronar-se, assim, infelizmente para os fãs, a banda também se desfez.

A carreira a solo de Murphy foi iniciada com “Ruby Blue”, de 2005, e o mais recente álbum, o quinto, “Róisín Machine”, foi lançado em Outubro – co-produzido pelo seu colaborador de longa data, Richard Barratt, também conhecido por DJ Parrot/Crooked Man e antigo membro dos All Seeing I.

A estranheza ainda está bem patente, mas também há aquela vibração profunda, fluída e pesada na qual a música de Murphy se transporta, directa à pista de dança.

Mas a grande diferença entre a composição e produção de “Róisín Machine” e os álbuns anteriores foi mesmo a participação de Murphy no processo de manipulação sonora.

«Não tenho bem um estúdio. Tenho um equipamento Ableton na minha casa em Londres, que é puramente para gravar e trabalhar as vozes. No passado, teria precisado de uma mesa de mistura e todas essas merdas, mas agora só preciso mesmo de um portátil, uma interface e um microfone. É um exemplo fantástico de como a tecnologia nos tornou a vida muito mais fácil», conta.

«A forma como trabalhámos neste álbum foi que Parrot juntava a música na sua casa em Sheffield, enviava-me a faixa, eu gravava uma voz, depois enviava-a de volta. Houve um par de vezes em que ele não achou que a voz fosse suficientemente boa, por isso fui até à sua casa… isto no meio do confinamento», sublinha.

«Foi assustador. Viajando através de uma Londres deserta até uma estação deserta de St Pancras, entrando num comboio vazio e chegando numa Sheffield deserta. Caminhando por ruas desertas e ficando totalmente assustada. Tenho a certeza de que um pouco desse sentimento intenso encontrou o seu caminho nas canções deste disco», explica Róisín Murphy.

Podes ler a entrevista na íntegra aqui.