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VOA Files: Carcass

VOA Files: Carcass

Nero

A ascensão, a queda e a reanimação da banda de Liverpool.

Nos anos 60, uma banda de Liverpool revolucionou a música. Oriundos da mesma cidade, os Carcass tiveram também um papel revolucionário na música. Com origem nos anos 80, a banda teve ainda um papel preponderante na definição do grindcore, com o álbum de estreia “Reek Of Putrefaction”. Todavia, a banda ganhou o seu estatuto primeiro na definição do death metal como um dos maiores subgéneros do heavymetal, nos excelentes álbuns “Symphonies Of Sickness” e “Necrotism – Descanting The Insalubrious”, e depois na criação de uma das maiores obras-primas do género e da música extrema, o álbum “Heartwork”.

Os puristas irão defender os álbuns anteriores, principalmente “Necrotism…”, menosprezando o surgimento de uma matriz melódica nos Carcass, mas sob a ferocidade eléctrica das guitarras de Bill Steer e Michael Amott, a banda voa sobre um terramoto de peso, conseguindo concretizar um dos mais difíceis exercícios dentro do espectro mais extremo da música: mantendo a agressividade nuclear do som, consegue ampliar a musicalidade das composições, dotando o álbum de uma projecção mais universal, a roçar a esfera do rock. O tema título é um exemplo perfeito desta noção e encerra em si as várias dinâmicas que colidiram entre si para o elevar a um dos melhores álbuns dos anos 90. Ken Owen tem aí uma prestação extraordinária, combinando violência e groove na bateria – o que alterna ao longo do álbum e pode ser observado facilmente ouvindo a sequência “Carnal Forge” e “No Love Lost”. Infelizmente, Michael Amott deixou a banda após a gravação do disco.

O tremendo sucesso de “Heartwork” despertou o interesse da Sony, através da Columbia, em assinar a banda. A editora avançou mesmo com o pagamento adiantado para um álbum. A banda começou a escrever novo material e entrou em estúdio para o gravar. No entanto, a editora começou a interferir no trabalho, avisando a banda de que os temas não estavam prontos para ser gravados e sugerindo que os vocalizos fossem num registo totalmente diferente. Ao contrário dos desejos da editora, a banda descartou gravar com Terry Date – que na altura tinha já no bolso discos como “Cowboys From Hell”, “Vulgar Display Of Power” e “Far Beyond Driven”, os três álbuns da era dourada dos Pantera, ou “Badmotorfinger”, dos Soundgarden, apenas para citar alguns. Os Carcass mantiveram a parceria com Colin Richardson e Terry Date assumiu a produção histórica de “Adrenaline”, o álbum de estreia dos Deftones. A editora acabou por desistir do álbum e a banda vendeu o disco à Earache, regressando à casa de partida.

E se com “Swansong” a banda ainda teve a audácia de tornar a surpreender, fazendo um álbum que seguia o death ‘n’ roll dos companheiros de editora, os Entombed, ou o Lado B do single “Hyperballad”, de Björk, com uma remix do tema “Isobel”, o contrato falhado com a Columbia (com o mainstream tão próximo) e as mudanças de line-up provocaram o declínio e a banda parou mesmo.

A reunião do line-up clássico, em 2007, trouxe concertos vibrantes, mas Amott não participou na criação de “Surgical Steel”. Ainda assim, o álbum de 2013 mostrou um regresso às raízes death metal da banda e foi capaz de, no mínimo, se mostrar à altura dos antecessores. Na última visita ao nosso país, em que os Obituary que também actuam no VOA os acompanharam (tal como Napalm Death), ou na passagem pela primeira encarnação dos VOA (em Vagos), os Carcass deram concertos demolidores, se provas fossem necessárias de que são uma das maiores e mais importantes bandas no metal, cujos concertos são obrigatórios para qualquer headbanger que se preze.