“Butter Miracle: The Complete Sweets!” é o novo álbum dos Counting Crows e foi o pretexto para o há muito aguardado regresso da banda a Portugal.
[Os Counting Crows não se deixaram fotografar pela lenta da Arte Sonora]
Antes desta passagem por Lisboa, a banda norte-americana lançou “Butter Miracle: The Complete Sweets!”, o primeiro álbum completo desde o aclamado “Butter Miracle: Suite One”, de 2021. O novo trabalho representa uma síntese madura entre a intimidade das narrativas e a dimensão quase cinematográfica das melodias, um equilíbrio que tem sido a assinatura dos Counting Crows ao longo de mais de três décadas.
Há canções que não envelhecem, apenas ganham rugas novas. Quando os Counting Crows subiram ao palco do Coliseu dos Recreios em Lisboa, na noite de dia 17 de Novembro, percebeu-se que este não seria apenas um concerto, mas uma partilha entre quem dá voz às histórias e quem nelas se reconhece.

Depois de vários afastados dos palcos portugueses, Adam Duritz e companhia regressaram com a serenidade de quem já viu tudo, mas continua a cantar como se fosse a primeira vez. O Coliseu estava cheio, não apenas de gente, mas de memórias e de vozes que sabiam cada refrão, de olhares que se cruzavam ao reconhecer o som de uma canção que marcou uma fase da vida.
Há canções que não envelhecem, apenas ganham rugas novas.
A abertura com “Spaceman in Tulsa” revelou um início tímido, pontuado por falhas técnicas que só serviram para sublinhar o que viria: uma noite sem artifícios, feita de verdade e vulnerabilidade. Pouco depois, “Hard Candy” e o inevitável “Mr. Jones” incendiaram a sala. Não foi nostalgia barata, foi comunhão. O público cantou com Duritz, como se as palavras ainda fizessem sentido décadas depois.
Entre temas novos de “Butter Miracle: The Complete Sweets!” e clássicos como “Omaha”, “Colourblind” ou “Round Here”, a banda navegou entre introspeção e energia, equilibrando-se entre passado e presente. Duritz, sempre entre o improviso e a melancolia, partilhou histórias sobre o tempo, a estrada e o modo como cada canção se transforma consoante quem a ouve.
“Colourblind” acalmou e apaixonou. Pouco tempo depois, “Big Yellow Taxi” de Joni Mitchell devolveu o riso e o movimento, e “A Long December” fez o Coliseu cantar em coro, num daqueles refrões que parecem curar o que o tempo não consegue. O encore encerrou a viagem com “Under the Aurora”, “Hanginaround” e “Holiday in Spain”.
Os Counting Crows não tocaram para impressionar; tocaram para lembrar velhos tempos. Mas acima de tudo lembrar que algumas canções não pertencem ao passado, pertencem a quem ainda as sente.



