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Expresso Transatlantico (c) Ben Houdijk

ENTREVISTA: WHY Portugal, o Passaporte para os Palcos Internacionais

26/05/2025

Quando a música portuguesa quer viajar, a WHY Portugal ajuda a abrir as portas certas. Falámos com Ana Rita Feijão para ficar conhecer melhor este projecto.

Desde 2016, a WHY Portugal tem actuado como o gabinete de exportação da música portuguesa, promovendo a presença de artistas e profissionais nos principais palcos e eventos da indústria musical global. Em conversa com Ana Rita Feijão, da Direção Executiva da associação, ficamos a conhecer de que forma esta estrutura apoia músicos que querem levar a sua arte além-fronteiras, através de missões internacionais, programas de apoio, networking estratégico e parcerias que colocam a música portuguesa no mapa global.

Ana Rita Feijao
Ana Rita Feijão

Para quem ainda não conhece, como explicam o que é a WHY Portugal e se eu fosse um músico/banda qual é a vantagem em conhecer o vosso projecto?
A WHY Portugal é o gabinete de exportação da música portuguesa. Existimos para apoiar a presença de artistas e profissionais portugueses nos mercados internacionais — em festivais, feiras, conferências e circuitos onde a música se cruza com a indústria. Trabalhamos com todos os géneros e todos os formatos: bandas, artistas a solo, estruturas independentes, agentes, editoras, managers. Os artistas com interesse em internacionalizar o seu trabalho, devem acompanhar o trabalho da WHY Portugal para ficarem a par das oportunidade: showcases em eventos estratégicos, apoio logístico e institucional em missões internacionais, ligações a programadores e agentes estrangeiros, informação sobre mercados, e muito mais.

De que forma, na prática, a WHY Portugal pode apoiar músicos que queiram levar a sua música para fora do país? Que tipo de oportunidades a WHY Portugal cria para artistas portugueses em mercados internacionais?
O nosso trabalho é criar oportunidades para que a música portuguesa circule internacionalmente e isso acontece de várias formas. Na prática, a WHY Portugal organiza e acompanha missões internacionais, em festivais e conferências onde a música se cruza com o setor profissional — como o Eurosonic, Reeperbahn, Womex, entre muitos outros. As nossas parcerias com estes eventos visam facilitar a presença dos artistas, em articulação com os eventos e preparação das atividades de networking. Por outro lado, também promovemos missões inversas, nas quais acolhemos, em Portugal, convidados internacionais – programadores, agentes, etc. -, criando momentos de contacto direto entre artistas portugueses e programadores, agentes, promotores e festivais. Este trabalho contínuo é ainda reforçado pela nossa participação em redes europeias e programas de cooperação, como é o caso da EMEE (rede europeia de export offices).

Muitas vezes, o que faz a diferença não é o número de seguidores, mas a coerência do projeto, a sua identidade e o contexto certo para apresentá-lo.

Em que momentos da carreira pode fazer diferença ter o apoio da WHY Portugal? Se a minha banda ainda não tiver grande expressão em Portugal, faz sentido dar o pulo para o estrangeiro?
A WHY Portugal pode fazer a diferença em vários momentos, mas o impacto é maior quando há algum grau de preparação e estrutura já em curso: uma proposta artística clara, alguma experiência ao vivo e música editada. Não é obrigatório ter um reconhecimento artístico em Portugal antes de ir lá para fora, mas é importante estar preparado. Muitas vezes, o que faz a diferença não é o número de seguidores, mas a coerência do projeto, a sua identidade e o contexto certo para apresentá-lo. O apoio da WHY Portugal pode surgir logo numa fase de prospeção, ajudando a identificar eventos, mercados ou estratégias; ou numa fase mais avançada, facilitando o acesso a showcases, programas de apoio à mobilidade, sessões de networking ou relações com agentes internacionais.

Que tipo de músicos ou projetos acham que podem beneficiar mais com os serviços da WHY Portugal?
Todos os projetos musicais com vontade de trabalhar além-fronteiras podem beneficiar do nosso apoio, independentemente do género musical, da região de origem ou da dimensão da estrutura. Os projetos que mais beneficiam são geralmente aqueles que têm uma proposta artística clara, estão disponíveis para investir tempo e esforço na internacionalização e, idealmente, contam com uma pequena equipa ou parceiro (manager, agente) que ajude a dar seguimento às oportunidades. A WHY Portugal é uma estrutura de apoio, mas não substitui a gestão, a consistência artística ou a estratégia própria de cada projeto. O que oferecemos é o acesso às oportunidades, contexto e partilha de conhecimento para que quem está preparado possa avançar.

Podem partilhar dois ou três casos concretos em que a WHY Portugal teve um papel decisivo na exportação de um projeto musical? E, por outro lado, houve alguma situação que não tenha corrido como esperado, mas da qual se retiraram aprendizagens importantes?
Felizmente são muitos os casos de sucesso e os nomes que ajudámos a promover ao longo destes 8 anos de atividade. Pegando nos exemplos mais recentes, no início de 2025, Portugal foi o país em destaque na Folk Alliance International, no Canadá. Para esta missão levámos 11 artistas em showcase, dos quais 6 já confirmaram resultados diretos: agências internacionais, convites para festivais, propostas de digressão. Também este ano, no Eurosonic, um dos mais importantes festivais de showcases da Europa, artistas como MAQUINA., Travo e Marta Pereira da Costa regressaram com calendários de concertos cheios — de França à Alemanha, dos Países Baixos à Bélgica. Um exemplo claro do impacto que um showcase bem preparado pode ter na carreira de uma banda ou artista solo emergente.

Como tem sido a receção dos projetos portugueses nos festivais parceiros da WHY Portugal? E cantar em português, acham que é uma barreira ou pode ser uma vantagem lá fora?
A receção tem sido boa e não é apenas uma perceção nossa, mas o que ouvimos diretamente de programadores, agentes e público nos festivais onde marcamos presença. Os projetos portugueses destacam-se pela qualidade artística, singularidade e coragem criativa, o que tem levado a um crescente interesse internacional. Portugal já não é visto como um território periférico, mas como um país com uma cena musical diversa, profissionalizada e cheia de propostas únicas. Cantar em português não é uma barreira. Em alguns contextos, a diferença linguística é justamente o que desperta curiosidade. Claro que em determinados géneros ou mercados pode haver maior abertura a projetos cantados em inglês, mas isso não é uma regra. O que importa mesmo é o todo: a identidade artística, a presença em palco, a música em si. Temos visto artistas a cantar em português, crioulo ou música instrumental e a serem recebidos com entusiasmo. A internacionalização hoje não exige tradução literal, mas sim uma tradução emocional. E nisso, os projetos portugueses têm mostrado que estão preparados.

A inteligência artificial: está a tornar-se um obstáculo ou um aliado indispensável para os músicos?
A inteligência artificial aliada à música e os seus prós e contras podem ser analisados de diferentes perspectivas. Existe, naturalmente, uma grande preocupação associada à criação artística. No entanto, do lado da WHY Portugal, que já nos encontramos numa posição posterior na cadeia de valor, olhamos para a IA como uma possível ferramenta de apoio, que pode ser útil na gestão de informação, análise de mercados e na preparação de conteúdos. No entanto, acreditamos profundamente que a identidade artística, a emoção e a visão criativa humana continuam a ser o verdadeiro diferencial e são esses os elementos que mais ressoam quando a música portuguesa se apresenta lá fora.

Hoje em dia, fazer digressões internacionais implica riscos cada vez maiores, mesmo músicos com alguma notoriedade enfrentam custos tão elevados que muitas vezes se tornam incomportáveis. Qual é a vossa opinião sobre esta realidade e como achas que estruturas como a WHY Portugal podem ajudar a mitigar esse peso?
É verdade que os desafios à mobilidade são cada vez mais exigentes. Os custos associados às missões internacionais nas quais participamos (viagens, alojamento, vistos, transporte de equipamentos, alimentação) aumentaram. Isto faz com que os cachets sejam simbólicos ou inexistentes, mas é importante frisar que se tratam de contextos de promoção, de investimento e não de digressão comercial. Para minimizar o impacto destes custos, a Fundação GDA criou o programa de Apoio a Showcases Internacionais, ao qual os artistas podem candidatar-se para obter apoio para as despesas de logística associadas a estas missões.

Se tivessem de convencer uma banda a integrar a WHY Portugal numa só frase, o que diriam?
Se queres levar a tua música além-fronteiras, a WHY Portugal ajuda-te a encontrar a tua oportunidade para chegares a novos palcos, novos mercados e parceiros para a internacionalização dos teus projetos.

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