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[ENTREVISTA] Andy Timmons Sob as Ordens do Sargento Pimenta

[ENTREVISTA] Andy Timmons Sob as Ordens do Sargento Pimenta

Nero

Andy Timmons Band Plays Sgt. Peppers celebra 10 anos. Quando gravou o instrumental e colorido álbum de tributo aos Beatles, Andy Timmons veio apresentá-lo a Portugal e falou-nos desse trabalho e do seu som.

O álbum “Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band” é um dos trabalhos mais influentes na história da música. No seu quadro temporal ou fora dele, inúmeros músicos cresceram a ouvir a obra-prima dos Beatles. Andy Timmons transformou essa devoção num disco em que interpreta, instrumentalmente, todas as sensações que a banda do Sargento Pimenta o fez descobrir. Uns meses antes do lançamento do disco, que chegaria em Outubro, o shredder passou em Lisboa para o apresentar ao vivo.

Naturalmente, falámos com o líder da Andy Timmons Band [composta também pelo baterista Mitch Marine e pelo baixista Mike Daane, que assume também um trabalho de co-produção com o guitarrista]. Fiel ao som da Mesa/Boogie, deixou-nos espreitar o seu backline e falou-nos da abordagem que tem à guitarra.

Já são muitos anos a usar Mesa Boogie, qual o principal motivo para essa fidelidade?
Gosto de muitos tipos de guitarras e muitos tipos de amplificadores, mas fiquei agarrado ao Lone Star e depois, quando saiu o Stiletto, ao vivo não precisava de mais. Em estúdio também uso alguns Marshall, por exemplo. Mas com a Mesa descobri mesmo o meu som e, por onde quer que viaje, eles ajudam-me a ter os amplificadores que preciso para os concertos, são óptimas pessoas.

Referes o teu som e, para além de equipamento, penso também nas tuas influências e como referes nomes como o John McLaughlin ou o Jeff Beck…
O John nem diria ser uma referência, pelo menos de onde eu o vejo e pelo que sei, está num nível totalmente diferente – o quanto ele toca… É tremendo. É espantoso. E o último álbum do Jeff [“Emotion & Commotion”] está no mesmo patamar, é incrível!

Naturalmente um combo Lone Star, a sair também para uma coluna Rectifier 2x12, e uma cabeça Stiletto Deuce II, ligada a uma Recto 4x12. A tríade é completada com um Transatlantic.

Naturalmente um combo Lone Star, a sair também para uma coluna Rectifier 2×12, e uma cabeça Stiletto Deuce II, ligada a uma Recto 4×12. A tríade é completada com um Transatlantic.

Quero ser o Jeff Beck quando crescer!

O trabalho deles vai reflectindo mudanças nos paradigmas dos álbuns de guitarra, já não é somente uma questão de velocidade. Também passaste por essa fase?
Houve esse tempo, de facto, também pela influência do Yngwie ou do Satriani – o ênfase era colocado na velocidade. Como nunca tive muita velocidade foquei-me sempre mais na canção em si. Claro que “acelerar” é divertido, mas nunca foi algo que tivesse trabalhado muito. De resto, não é o mais importante.

E o que dirias ser o mais importante?
Penso que o mais importante é saber o que tocar e quando o tocar! Desenvolver o instinto daquilo que torna uma canção boa e saber como encaixar para fazer com que isso aconteça. Afinal, às vezes, não tem a ver com a guitarra, mas em saber como nos ajustarmos ao baixo e à bateria ou à voz, no caso de haver um vocalista. Para mim, a música instrumental tem mais a ver com sentimento e melodia que uma demonstração de técnica, que também é bom ter, pois se estiveres a pintar um quadro não queres que seja todo vermelho. É bom ter uma palete variada, para controlar melhor a canção, e isso é uma das coisas realmente espantosas do Jeff, a forma como controla as canções. Quero ser o Jeff Beck quando crescer [risos]!

Quem não quer [risos]? E o que mudou na música desde os tempos áureos de Danger Danger para os dias de hoje?
Nesses tempos, embora divertidos, a música tornou-se demasiado num negócio. Cada banda estava a tentar seguir a banda que havia tido sucesso anteriormente, era apenas negócio. Deixou de ser sobre a música em si, tudo era emendado com uma drum machine, todas as vozes levavam com afinação… Bom, claro que isso tudo continua a acontecer hoje em dia, mas a internet trouxe-nos muitas pessoas que apenas se concentram na sua arte. E se for bom, as pessoas acabarão por descobrir! O Elvis Costello, um dos meus compositores favoritos, disse que basta fazer-se boa música e que alguém irá encontrar isso, nem que seja no fundo do oceano. Não importa a analogia, concentra-te em fazer coisas com o coração e não aquilo que esteja a acontecer na indústria musical ou qualquer outra coisa. Essa é a minha fé, continuar a fazer aquilo que quero e gosto.

A pedalboard de Andy Timmons com um Memory Man em destaque, além do T-Rex Reptile; um GNI Dual Chorus [marca de boutique brasileira – um mimo]; um pedal de preamp, o Xotic BB, que o guitarrista usa como boost, tal como o Tube Driver, da Tube Works. Ainda um MXR Carbon Copy, tal como o guru John McLaughlin; o monstrinho Octa Fuzz, que como o nome indica mistura um Octave com um Fuzz, bem à Jimi Hendrix! Como compressor usa um Carl Martin. Para fazer a permuta entre os 3 amps usados em Lisboa, o guitarrista usou um switch Tonebone JX2.

No trabalho do “Sgt Pepper’s…” sendo apenas uma guitarra, procuraste focar-te mais no trabalho do John ou do George?
Não fiz essa divisão, a minha atenção foi sempre para a peça no seu total. Fiz eu próprio todos os arranjos na guitarra, com o pensamento naquilo que o Mitch faria nas baterias – ele tem um grande feeling para este tipo de música, embora com uma abordagem mais moderna, e entende, realmente, o beat do Ringo. E também tenho um respeito profundo pelo Paul McCartney e pelo seu trabalho. E a minha abordagem foi fazer as coisas de ouvido, queria que tivesse a minha musicalidade. Em vez de ir ao disco ver exactamente como estava, fiz tudo de memória, acho que ouvi o disco vezes suficientes [risos]! É isso, queria que ficasse da maneira que soa na minha cabeça, aqui tem destaque esta melodia vocal ou aquela parte de guitarra, e ver como conseguia incorporar cada elemento numa forma linear.

E gravaste tudo numa base live, não houve nenhum processo posterior de overdubs?
Sim, a ideia era mesmo ser uma performance do álbum baseada na guitarra. O que fiz foi ter algumas partes com 2 ou 3 amplificadores [como faço ao vivo] e noutras é um composto de takes múltiplos. A partir do momento que tenho os arranjos completos e estou em estúdio, sei exactamente como cada nota deve soar e não me importo de gravar 10 takes para chegar lá!

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Quando esteve em Lisboa, em 2011, as guitarras usadas foram o seu próprio modelo de assinatura, a Ibanez AT-300 e uma Ibanez AT100.

Estaremos ainda numa era de shredd guitar e álbuns a viverem exclusivamente da guitarra solo sobre camas instrumentais? Diz-se que não. O herói das 6 cordas Andy Timmons discordará, pelo menos parcialmente. Se numa conversa mantida connosco em 2011 admitiu que o shredd estava obsoleto, acabou por decidir melhor e pegou num dos melhores álbuns da história do rock para o refazer “só” com guitarra.

A genialidade original de “Sgt. Peppers Lonely Hearts Club Band” faz aqui quase todo o trabalho, mesmo sem voz, a personalidade do álbum é intocável e mesmo instrumentalmente todo o disco soa a “canção”. e é aí que entra o mérito de Andy Timmons – não complicou os arranjos, não sobrecarregou as composições com excesso de compensação de guitarra à ausência de voz. Os arranjos instrumentais, confessou-nos também, foram desenvolvidos a partir de memória auditiva, do impacto que o disco teve no músico e na força emocional das melodias originais.

Qual era o risco aqui? Que este disco se tornasse um tipo de elevator music, mas Timmons evita isso com destreza, refrescando os momentos de sing along com a sua técnica enquanto executante, com leaks interessantes que respeitam o trabalho original, mas que mantêm itocável a dimensão de capacidade técnica do guitarrista. O baixista Mike Daane e o baterista Rob Avsharian permitem uma zona rítimica dentro dos parâmetros de abordagem do trio ao disco, respeito pela fórmula simples que o tornou grande, respeitando também a sensação directa dos temas originais e deixando tranquilamente ser a guitarra a destacar-se. Aliás, até mesmo sonicamente, é a guitarra que surge com o som mais processado, sem nunca chegar a uma zona de excesso de artifícios.

No fundo é um disco que vai interessar aos ávidos consumidores de demonstrações circenses da execução da guitarra, ao mesmo tempo que segue o groove e feeling do trabalho original para interessar ao ouvinte comum.

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