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Eros, O Álbum Perdido dos Deftones

Eros, O Álbum Perdido dos Deftones

Redacção

Antes do acidente e da morte de Chi Cheng, os Deftones estavam a trabalhar em “Eros”. As sessões foram abandonadas quando o baixista entrou em coma e o disco tornou-se num dos maiores álbuns não editados.

Em 2008, Chi Cheng, baixista dos Deftones, sofreu um violento acidente de viação que o deixou em coma, até ao dia 13 de Abril de 2013 – dia em que acabou por falecer após quatro anos e meio em coma. À altura do acidente, a banda estava a trabalhar num disco para suceder a “Saturday Night Wrist” e a construir o seu próprio espaço criativo, mas a tragédia tornou-se demasiado pesada para a banda e o álbum foi “esquecido”.

Na antecâmara do concerto dos norte-americanos no Tivoli, em 2010, ainda antes do triste desfecho, Abe Cunningham realçou numa conversa descontraída mantida com a AS [publicada na arqueológica edição #16]: «Estivemos a trabalhar num álbum no nosso estúdio, que estamos a acabar de construir. Depois com o acidente do Chi [Chi Cheng teve um grave acidente de viação em Novembro de 2008, tendo ficado em coma] tudo se complicou, e andámos meio perdidos durante muito tempo… atingiu-nos com muita força, foi um choque tremendo, questionámos esse facto em demasia, foi um processo duro e um tempo difícil e esse álbum acabou por ficar parado… Depois fomos buscar o Sergio Vega [ex Quicksand] e juntámo-nos ainda com mais força e convicção».

Em 2014, os Deftones assinalaram um ano sem Chi Cheng com a divulgação do single “Smile”, acompanhado da frase «Chi, We miss you today and everyday». “Smile”, um inédito que conta ainda com os takes gravados pelo saudoso músico, estaria presente em “Eros”, o álbum que, na altura do acidente, a banda estava a gravar e que nunca chegou a ser editado.

Com a entrada de Sergio Vega as sessões de “Eros” foram aparentemente deixadas de lado e a banda concentrou-se em “Diamond Eyes”.

Foi logo em Julho de 2009 que os Deftones anunciaram que haviam arquivado o álbum e decidido avançar com novas composições com Vega. “Eros” teria umas seis canções completas. Segundo Moreno, o disco estava cerca de 80% completo, mas a banda optou por criar de raíz um novo trabalho, com um carácter mais optimista e positivo nas canções, servindo até como terapia para a situação emocionalmente complicada que os Deftones enfrentavam.

Com a morte do baixista, as sessões existentes de “Eros” tornaram-se a a última coisa que o músico gravou com a banda. Foram surgindo rumores segundo os quais a banda liderada por Chino Moreno tinha intenções de editar “Eros”, mas até hoje nenhuma confirmação oficial foi dada a este respeito e a banda nunca se sente confortável ao abordar o assunto. Após “Koi No Yokan”, Moreno admitia que a vontade de oferecer o disco aos fãs era muita, mas que ainda haveria de surgir um novo álbum antes disso, o que se tornou realidade em 2016, com “Gore”. Mas então o discurso de Moreno mudou, afirmando-se descontente com a qualidade do trabalho que estava registado nas sessões de “Eros”.

A culpa não era de ninguém, apenas que para Moreno o tempo passou e começou a sentir-se que faltava um extra às canções. Em entrevista, na altura de “Gore”, a uma rádio americana, Chino Moreno confessava que a decisão de abandonar o disco passara a ser puramente uma opção artística, recordando ainda a intimidade que a banda desenvolvera nas sessões de “Eros” (curiosamente, como certamente saberão, a palavra helenística para amor passional):

«Dávamo-nos muito bem. Era como se a música ficasse em segundo plano, atrás da nossa amizade. Ficávamos a jogar jogos de tabuleiro dentro do estúdio e o nosso produtor tinha que mandar a gente largar aquilo para trabalhar. Foi quando Chi sofreu o acidente. Estávamos tão perto de fazer algo sensacional e  aconteceu aquilo. Parecia que acabaríamos ali. Precisamos de seis meses ou um ano sem nem falar de música. Não tínhamos ideia do que aconteceria com Chi ou com as nossas canções. Até que um dia voltámos ao mesmo estúdio e encontramos tudo como havíamos deixado. Inclusive o baixo do Chi. Nós começamos a conversar, lembrar histórias dele… até que, de repente, de forma espontânea, cada um andou para seu instrumento e começou a tocar qualquer coisa. Foi ali que começou a surgir o Diamond Eyes [disco de 2010]».

Ou seja, a banda seguiu em frente e “Eros” terá sido definitivamente arquivado. Todavia, além de “Smile”, que a banda até estreou ao vivo em concertos realizados no ano passado, há mais material no éter que pode ser ouvido.

Logo em Julho de 2008, Moreno publicou uma demo instrumental de uma canção. “You’ve Seen The Butcher” (no player em cima) acabou por ser reutilizada e entrou mesmo na tracklist de “Diamond Eyes”. Não se tem a certeza de que a música fosse apontada ao álbum “Eros”, nunca o foi dito oficialmente, mas considerando que esse era o álbum a ser trabalhado na época e esta demo é dessa altura, pode assumir-se, no mínimo, que a sonoridade da demo não estará distante do que teria sido a do disco perdido.

Depois, em Setembro do mesmo ano a banda começou a tocar ao vivo a canção “Melanie”, que também estava apontada a “Eros”. Há outras canções que foram anunciadas e que, tal como “Melanie”, possuíam nomes provisórios de strippers: “Dallas”, “Destiny” e “Tempest” (no álbum “Koi No Yokan” há um tema com este título, mas é impossível saber se está relacionado com este aqui referido). “Dallas” conheceu-se através de um bootleg dos ensaios de pré-produção do disco.