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FUNKyou2, escalada melódica

FUNKyou2, escalada melódica

Nero

Se o mundo dos DJs fosse tipo ténis, como o ATP, os FUNKyou2 estariam em clara ascensão no ranking.

A enorme vertente melódica das produções da dupla será o factor determinante para uma carreira que inclui já marcos tão importantes como “abrirem” para David Guetta ou Black Eyed Peas. Os portuenses Daniel Poças e Francisco Praia, que vão abrir o evento Where’s The Party, da Carlsberg, já no dia 28, falaram connosco sobre esse set e o seu trabalho em estúdio.

Gostam mais de produzir ou de actuar ao vivo?

Já pensámos e discutimos muito sobre isso e sabemos que são dois sentimentos diferentes e distintos. A produção faz sentido quando podemos mostrar aos nossos fãs e ao público em geral as nossas músicas, quando as tocamos ao vivo e sentimos aquele arrepio de ouvir os nossos temas nos PAs dos clubes e festivais. Claro que gostamos de produzir e passamos horas “enfiados” em estúdio, quer a fazer música de raíz, remixes, edits e bootlegs para aprimorar os nossos sets mas, no final, o sentimento que mais nos preenche é ver todos os sorrisos das pessoas que estão à nossa frente de braços no ar, a saltar e a vibrar com todas as músicas que passamos!

Como trabalham em dupla, há um que é o mais “tecnocrata”, mais apto a manipular a DAW e o outro mais tipo “polícia” estético – ou cada um assume as duas vertentes?

Quando estamos a produzir não nos interessa muito quem “mexe mais” no DAW, mas sim, procuramos sempre a melhor ideia possível, puxamos pela nossa criatividade e a forma mais “out of the box” de fazer aquele buildup ou verso e refrão. Procuramos sempre fazer algo novo, diferente do que já tenha sido feito, por isso acho que podemos dizer que somos ambos tecnocratas e cirurgiões plásticos. Estudámos na mesma faculdade e fomos da mesma turma [risos]! Estamos sempre a puxar um pelo outro, e isso acontece quer ao vivo quer na produção.

Em estúdio que software e hardware usam preferencialmente?

Usamos um iMac 27″, um Mackie Big Knob, Remote SL49 MkII da Novation, Focusrite Liquid Saffire SL, Genelec 1030a e umas KRK VXT8. Este é o nosso material de estúdio, onde passamos horas enfiados. Não temos grandes possibilidades de captação por iss,o sempre que precisamos de gravar uma voz ou instrumento, temos que recorrer a terceiros. A nível de software, usamos o Logic 9, Sylenth1, Nexus, Massive, Zebra, alguns plugins da Waves como equalizadores, limitadores e compressores. Na verdade, estes são os nossos preferidos, mas estamos atentos ao que sai no mercado e vamos experimentando VSTs novas, sempre que possível.

No final, o que interessa é que, quer num remix, quer num tema original, não deixa de ir lá algo teu, que quiseste transmitir às pessoas que vão ouvir a tua música.

Quais são as maiores diferenças entre uma produção de raíz e uma remix?

Para nós, a maior diferença é a forma de começar a criar. Ou seja, quando vais fazer um remix sabes que tens que respeitar o tom e as harmonias da música original e, logo aí, já te estás a limitar um pouco, sabes que tens uma espécie de guia a seguir. Por outro lado, também sabes que podes explorar outras vertentes e extrapolar um pouco mais, porque já tens uma base inicial. Quando começas algo do início tens que ir à procura da inspiração e pensar em tudo de raíz, como o tom da música, a forma como vais querer que a música evolua, procurar transmitir o teu sentimento actual para o tema que estás a construir. No final, o que interessa é que, quer num remix, quer num tema original, não deixa de ir lá algo teu, que quiseste transmitir às pessoas que vão ouvir a tua música.

A música electrónica tem, como todos os outros géneros, mudado também num sentido de acolher outros géneros distintos. Procuram ser tradicionalistas ou progressistas?

Tentamos ser progressistas desde o nosso início. Estamos sempre atentos às novas tendências e gostamos de as poder acompanhar. Como o que define o nosso estilo de set é “world wild music”, conseguimos, de forma equilibrada, passar as novas tendências da EDM desde trap ao bigroom e misturar ainda temas como clássicos do house ou temas de hiphop. Procuramos sempre contar uma história e levamos os nossos sets de uma forma crescente,e para tentar agradar a todas as pessoas que estão à nossa frente a ouvir-nos. Mesmo em estúdio, estamos atentos às novas tendências e mutações da música de dança. Quando estás à procura de certos sons, o ouvido guia-te para o que tu ouves mais regularmente e para o que é mais “fresco” e actual.

Como preparam um set como este do Sunset Carlsberg, que coisas deixam em aberto para responderem ao vibe do público?

A forma como nos preparamos começa, de uma maneira geral, por analisar o cartaz e tentar perceber o que todos os DJs vão tocar, para não haver grandes choques musicais ou atropelos. Posto isto, e dentro da nossa escolha musical para o evento, deixamos sempre uma grande margem para, no momento, analisar as pessoas e tocar aquilo que acreditamos que elas querem ouvir. A nossa “luta” é sempre para agradar quem está à nossa frente e tocamos sempre para eles, nunca para nós próprios.

Volta e meia surgem as controvérsias sobre os DJs não serem “realmente” músicos. Porque razão acham que isso acontece?

A controvérsia está sempre presente em todas as áreas de negócio. Há sempre pessoas descontentes com o sucesso alheio, que começam a criar rumores e a tentar levantar certos desconfortos. É verdade que a maior parte dos DJs não tem a formação musical que alguém que actua numa banda poderá ter, mas não se pode generalizar. Sempre tentámos ter uma postura positiva e, de certa forma, afastar-mo-nos de controvérsias e discussões, mantendo o bem estar com todos os nossos colegas de profissão. Para terminar, gostaríamos de ver todas as pessoas ligadas à área da música mais unidas, porque como diz o ditado “a união faz a força” e seríamos todos muito mais felizes.