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Miguel Fonseca, Guitarristas Preferidos & Influências

Miguel Fonseca, Guitarristas Preferidos & Influências

Nero
Inês Barrau

Miguel Fonseca revela como começou a tocar guitarra e quais os guitarristas que tiveram um papel determinante na sua paixão pelo instrumento e no desenvolvimento da sua linguagem musical, que transversou os universos de Thormenthor, Plastica ou Bizarra Locomotiva.

Para criar algo especial para uma edição que, em 2018, celebrou 10 anos de publicações queríamos algo que fosse inédito ou, no mínimo, incomum, na nossa imprensa musical. Isto, claro, além dos artigos sobre instrumentos e equipamento musical de sempre. Então surgiu a ideia de reunir numa edição histórica dez grandes guitarristas portugueses.

Um dos escolhidos foi Miguel Fonseca. A Lisnave foi a sua mãe musical, aquela nascente de ruídos de decapagem dos petroleiros, das sirenes, dos guindastes, do próprio pórtico do Estaleiro da Margueira, que tinha um sistema de esferas que criava sons hipnotizantes e o constante subgrave que emanava dos motores dos petroleiros. Sons que Miguel Fonseca gravava com um gravador Yamaha de quatro pistas vintage ou num antigo Telefunken em fitas de 7’’ e que, ainda hoje, usa recorrentemente. Aliás, dessas ideias surgiram composições dos sacrossantos Thormenthor, o onirismo pop rock dos Plastica ou o poder de Bizarra Locomotiva.

O guitarrista também nos confessou como começou a tocar e quais eram as suas referências. Para a entrevista completa, podem adquirir um exemplar da revista na nossa loja, para descobrir os heróis de Fonseca, basta fazer scroll.

Diz muito sobre um indivíduo este ser atraído por capas dos Slayer…
Todo o dinheiro que conseguia juntar era para comprar discos numa discoteca que havia na Rua Do Carmo, isto antes do incêndio do Chiado, que era a única que importava discos mais underground. Na altura, saiu o primeiro álbum dos Slayer [“Show No Mercy”, ‘83], o primeiro álbum dos Bathory [“Bathory”, ‘84], esse género de coisas. Ia lá sem conhecer o que estava nos discos e comprava-os pela capa. A capa que gostava mais, levava o disco. Custava cerca de 1800 escudos, o que era muito caro na altura. E foi a partir daí que me surgiu mais aquele bichinho de ter uma banda, de tocar guitarra, porque até então a minha experiência com a música tinha sido um pouco mais experimental, só registos de sons. Depois de ver aquelas BC Rich dos Slayer, fiquei hipnotizado. Já ouvia aquela música mais extrema, foram aqueles influências mais marcantes, além dos anos 80, porque cresci muito a ouvir o rock progressivo, aquela música mais electrónica ambiental como os Tangerine Dream. Já gostava de músicas “mais complexas” porque ouvia muito Genesis, Frank Zappa, David Bowie, Pink Floyd, nos primeiros álbuns com o Syd Barret, e essas coisas.

Nessa altura, não havia muito onde aprender a tocar rock mais extremo? Comprava-se a Guitar World, trazia uns licks
A Guitar World nunca comprei. Era mais a Metal Hammer, por causa dos discos. Não era muito de ver partituras, nem de ver material, porque tinha descoberto o meu próprio mundo e, na altura, não havia, creio, muitas Guitar World à venda por aí. Não havia referências nenhumas, a única coisa era o livro do Cebolo, “Guitarra Mágica”. O solfejo assustava-me profundamente por ser matemática. Nunca fui muito apologista das matemáticas e nunca tive muita curiosidade de ir por esse caminho, foi mais de ouvido. Foi um pouco por aí, na base do aprender sozinho como é que se fazia. Talvez, o facto de ter treinado o ouvido com os sons, com os experimentalismos que fiz em fita e esse tipo de coisas, me tenha dados mais curiosidade para aprender a tocar mesmo guitarra. Além de ter construído a minha própria guitarra, experimentado fazer, sem saber, o que é que era um acorde, mais naquela de sacar feedbacks e distorção e improvisar, sobretudo.

Lembras-te que pickups tinha e como construíste o circuito disso?
Eram por microfone. Tinha um sistema em que enfiava o micro dentro da caixa da guitarra, porque era hollow-body. Uma B.C. Rich hollow-body [risos], no formato Warlock. Com um colega de turma comecei a tocar e conseguimos ter o conceito de banda. Como estudávamos os dois em design começamos a tratar de logótipo das capas dos discos. Construímos a própria bateria, uma bateria de putos, aproveitámos timbalões, depois ele construiu o bombo com um pedal assim artesanal, o primeiro prato foi a parte de trás da capa do disco dos Taxi, o “Cairo”, que saiu numa lata, e uma jante de automóvel. Soava tudo o mais industrial possível, inconscientemente, porque crescemos com aqueles géneros de sons e tentávamos reproduzi-los com o material que tínhamos. Construímos o nosso próprio palco com um set de luzes com luzes psicadélicas, os nossos monitores, cujos altifalantes retirámos de colunas hi-fi

Os vossos pais pensavam algo como «estes gajos andam na droga, andam-nos a roubar os rádios e os sistemas de som»?
Também já tínhamos começado a experienciar as drogas nessa altura, sim [risos]. Era a curiosidade, era o rock. Nos anos 80/81 deu-se o boom do rock português e gostávamos muito daquelas bandas. Toda a gente ouvia rock na altura e foi assim, mais ou menos, o começo. Foi uma base do experimentalismo, de aprender que som é este, como é que se faz, como é que eles fazem aquele som. Depois de comprarmos as nossas primeiras guitarras. Comprei um Jazz Bass, o meu primeiro instrumento a sério, na Custódio Cardoso Pereira. Uma cópia de Jazz Bass.