Quantcast
QUINTO ANDAR: SATURNIA

QUINTO ANDAR: SATURNIA

Nero

Como reforço de som e propulsão estrutural, os Saturnia passaram a trio, com um baterista, a forma já presente no álbum “Real High”. A bateria é um instrumento cuja relação com a banda completa, neste momento, uma simbólica circunferência, numa história, refere Simões, «tão longa como a de Saturnia».

O arquitecto de todo o edifício musical de Saturnia relembra os primeiros tempos e os alicerces da banda: «A ideia inicial não era, sequer, fazer uma normal, mas uma coisa multimédia. Com música, performance e vídeo. Acabou tudo por ficar restrito à música, porque é a área que domino e na qual podia levar as coisas em diante com mais facilidade».

O conceito inicial de Saturnia e o contexto musical e pessoal de Simões, circa 97, ditou a sonoridade rítmica puramente electrónica do primeiro álbum, trabalho homónimo, dois anos mais tarde. «Na altura, estava em reacção a tudo o que era a forma de trabalhar rock. Queria fugir totalmente a estar com mais três ou quatro gajos, fechados numa sala, em altos berros a responder à bateria».

Procurei transpor técnicas de pintura para o som. Misturar aquela junção de pontos, do impressionismo, com o sfumato, que serviria para esbater [o som]

Contudo, deu-se uma metamorfose logo no segundo álbum, “The Glitter Odd”, «com a electrónica a começar a ocupar outro espaço na equalização, numa zona mais média, e comecei a usar loops de baterias acústicas por cima de uma camada de loops electrónicos filtrados». Essa exploração sublimou, em “Hydrophonic Gardening”, o álbum seguinte, o carácter electrónico como um elemento, quase estritamente, percussivo.

No álbum, refere Simões, «há sempre um tipo de pandeireta ou shaker num ritmo constante e o beat principal a ser qualquer coisa que se foi tornando cada vez mais “baterística”. E quando decidi fazer do “Musak” um álbum mais pop, mais de canções, aí sim, começou a haver algo como um baterista. Está tudo sequenciado, mas com sons acústicos samplados de uma bateria bem vintage que tenho, uma Premier dos anos 60. Além das tais percussões electrónicas».

A construção do golem rítmico que, tal como as atmosferas de sintetização de Tiago Marques, se juntou à exploração cordofónica de Luís Simões, ficou completa no ambicioso díptico “Alpha Omega Alpha”, álbum de 2012. «Há um baterista que, no fundo, é feito a partir de samples, loops e MIDI, feitos por mim, alguma programação ou electrónica, que está mais sugerida que explicita. Esse baterista imaginário foi ocupando cada vez mais espaço em Saturnia».

O círculo fecha-se com a entrada de um baterista naquele que, actualmente no processo de mistura, será o quinto LP da banda. É a partir do momento actual que Luís Simões nos guia numa conversa através do percurso conceptual e do som de Saturnia.

Na sua sessão no QUINTO ANDAR, aqui na redacção da Arte Sonora, Simões usou uma sitar para construir um improviso em torno de momentos da discografia de Saturnia como “The Twilight Bong”, “Chrysalis” ou “Moving Mandala”. O músico apenas usou como base o sample de um drone de tambura. Para ouvir o exclusivo, basta carregar no play.