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Skulls Custom, um Hobby que Rui Veiga Transformou numa Profissão a Tempo Inteiro

Skulls Custom, um Hobby que Rui Veiga Transformou numa Profissão a Tempo Inteiro

Nuno Sarafa

Já algum dia tiveram uma paixão que serviu de inspiração para uma necessidade momentânea? E um passatempo que se transformou num negócio? O Rui Veiga teve ambos. E assim nasceu a Skulls Custom. Peças de decoração construídas a partir de guitarras, e não só.

Se ficaram curiosos, leiam as próximas linhas, no decorrer das quais contaremos a história de Rui Veiga, um apaixonado por música (guitarras em particular) que agora ganha a vida a transformar instrumentos musicais em elegantes e personalizadas peças de decoração, de candeeiros a bengaleiros; há muito para ver.

Mas comecemos pelo princípio. Rui Veiga tem 56 anos e sempre viveu rodeado de música, posters, vídeos de concertos e, especialmente, guitarras, as quais se habituou a descascar para transformar em peças personalizadas. Apenas pelo gozo de fazer algo diferente e original. Até que, há uns anos, precisou de um candeeiro lá para casa. Quem nunca? A diferença é que, em vez de ir a correr a uma loja, Rui teve uma ideia melhor – desceu as escadas até à sua garagem à procura de uma certa guitarra que lá estava guardada.

E assim nascia o primeiro candeeiro-guitarra concebido por Rui Veiga. «Ainda hoje tenho esse candeeiro na minha sala», conta Rui em entrevista a Arte Sonora. «Comecei muito novo a ter gosto pelas artes. Cá não havia nada, as coisas mais diferentes vinham todas do estrangeiro. Desde sempre que alguns amigos me iam pedindo para criar algumas peças».

Na minha colecção existia uma guitarra-candeeiro especial, que fiz com muito carinho em homenagem ao Zé Pedro

Rui trabalhou em electricidade durante muitos anos, depois enveredou por uma carreira comercial na área das bicicletas, em 1998, mas há muito tempo que pensava fazer algo na vida que o realizasse. «Um dia, a minha mulher quis comprar um candeeiro, mas pensei diferente. Fui buscar uma guitarra, trabalhei-a e ainda hoje tenho esse candeeiro na minha sala».

A peça foi tantas vezes elogiada nos jantares com amigos e familiares que as encomendas não tardaram a surgir. «A ideia tornou-se realidade e quem viu adorou. Depois fiz mais candeeiros para amigos e amigos de amigos e resolvi divulgar os meus trabalhos no Facebook e, mais tarde, no Instagram». Estávamos em finais de 2017.

Um belo dia do ano da graça de 2018, Rui conheceu o actor e músico Ricardo Carriço, que achou a ideia tão interessante e diferente que a apresentou à promotora Roberta Medina, do Rock In Rio, porque as peças se enquadravam no espírito daquele festival. «Passado algum tempo, contactaram-me e, sinceramente, pensei que fosse brincadeira. Foi uma surpresa para mim. Propuseram-me expor os meus trabalhos e iluminar a tenda VIP do festival. Ainda estava a começar isto como sendo um negócio. Foi um enorme salto para aquilo que viria a ser a minha marca».

Como se não bastasse, essa edição do Rock In Rio tinha reservada outra grande surpresa para Rui. «Na minha colecção existia uma guitarra-candeeiro muito especial, que fiz com muito carinho em homenagem ao Zé Pedro. Tive o privilégio de a oferecer pessoalmente aos Xutos & Pontapés momentos antes do concerto. O candeeiro encontra-se no estúdio deles. E foi mais um sonho realizado. Entregar-lhes pessoalmente a peça antes de entrarem em palco foi um ponto muito alto para mim».

Todos os dias, desço as escadas de minha casa e estou na oficina, onde trabalho normalmente 12h por dia

Nesta altura, Rui já desenvolvera a sua técnica e começava a ficar conhecido. Surgiam então as primeiras entrevistas, as encomendas aumentavam e começava a não ter mãos a medir. Desenvolveu peças personalizadas para artistas como António Zambujo, Ricardo Carriço, Virgul, April Ivy, Blaya, Neev, Sérgio Rosado (Anjos), Marisa Liz (Amor Electro) e Nininho Vaz Maia.

Pelo meio ainda decorou a sala de ensaios do The Voice Portugal e o cenário do programa Alta Fidelidade, da RTP, por altura dos 40 anos dos Xutos & Pontapés. Criou também um candeeiro com uma guitarra portuguesa para a Gala do Fado 2019, no Casino do Estoril, e decorou o palco dos concertos de Ricardo Carriço no Auditório Ruy de Carvalho, em Carnaxide, e no Casino do Estoril.

O que começou por ser um hobby era agora uma profissão a tempo inteiro. «Todos os dias, desço as escadas de minha casa e estou na oficina, onde trabalho normalmente 12h por dia. Acordo, tenho uma ideia e vou lá para baixo. Mas quando faço uma peça não estou à espera que as pessoas ma comprem. Aliás, tenho neste momento mais de 30 peças em stock. Faço porque as ideias surgem».

Rui não tem uma loja física, mas antes parcerias com a MC Design, em Massamá, e com a Glow, na Avenida de Roma, em Lisboa. A origem da maioria das encomendas que recebe está mesmo nas redes sociais Facebook e Instagram, que têm servido como montras de excelência. «Neste momento já existem obras minhas em Itália, França, Suíça, Brasil, Angola e Estados Unidos da América. É sempre uma satisfação muito grande saber que as minhas peças estão na casa das pessoas».

Não quer dizer que um dia destes não me ponha a criar uma guitarra mesmo a sério

Então, mas afinal, onde irá o Rui arranjar tantas guitarras para desenvolver a sua arte? «Comecei por comprar guitarras em segunda mão, mas entretanto mudei de ideias e comecei a comprar guitarras novas e prontas a tocar, mas de marcas pouco conhecidas e não muito valiosas. Mando vir da Alemanha. Vêm em kits, muitas delas nem montadas vêm. Eu aqui é que as adapto àquilo que quero fazer», explica Rui.

Mas atenção: no seu atelier, em Massamá, nada é desperdiçado. «Em primeiro lugar, não estrago instrumentos. Dou-lhes uma nova vida. E não é uma questão de ter pena, pois estou a criar uma peça para uma nova utilização. O que me entristece é ver alguns artistas a partirem guitarras em palco. Isso é que acho mau. Pode ser uma atitude de rebeldia, mas não gosto de ver. E de tudo o que sobra, uso para fazer outras peças, como bengaleiros. O headstock de uma guitarra dá para fazer um bengaleiro na horizontal, por exemplo».

Mas nem só de guitarras vive este ofício. Rui tem peças desenvolvidas a partir de violoncelos, bandolins, saxofones, tubas, violinos, baterias, trompetes e até microfones. «No entanto, o instrumento com o qual tenho de ter mais cuidado é mesmo a guitarra. A furação tem de ser feita como deve ser, por isso criei, inclusivamente, uma máquina para o fazer. Além disso, agora já tenho máquinas de corte. E neste momento estou a criar uma guitarra de raiz para candeeiro, com madeiras que arranjei. Por isso… não quer dizer que um dia destes não me ponha a criar uma guitarra mesmo a sério», atira, sorridente.

Não gasto dinheiro em roupa, mas sou capaz de ver uma guitarra, comprá-la e apaixonar-me por ela durante muitos anos

A este ponto, Rui Veiga já criou mais de uma centena de peças exclusivas. A partir do momento em que tem o tema em mente, leva cerca de 10 dias a completar cada uma. E nem todas são para vender. Muitas delas estão expostas em cafés e bares na zona onde mora, na Quinta das Flores, em Massamá. «O meu trabalho já não passa ao lado!».

O presente e futuro da Skulls Custom passam pela aposta em ainda mais qualidade. «Tenho investido não só em máquinas, como nos materiais. Por exemplo, antes, utilizava bases em alumínio e agora são em aço inoxidável. É preciso evoluir aos poucos, até para o cliente pagar por algo com qualidade».

Esta é a história de alguém que um dia começou a desenvolver uma arte para melhor passar os seus dias, em busca de «momentos de criatividade no quotidiano», mas que entretanto encontrou uma nova profissão ligada à sua maior paixão. «A música sempre esteve muito presente na minha vida. Sempre olhei para uma guitarra como uma paixão. Não gasto dinheiro em roupa, mas sou capaz de ver uma guitarra, comprá-la e apaixonar-me por ela durante muitos anos».

Entra na galeria de imagens e descobre algumas das peças pensadas, desenhadas e construídas por Rui Veiga.