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The Who, My Generation

The Who, My Generation

Nero

O álbum de estreia dos The Who. A banda desconsiderou-o mas, retrato vibrante de uma época, gravado a meio de choques de egos, tornou-se num dos mais importantes discos da história da música.

No início de 1964, Keith Moon tornou-se o baterista dos Detours. E mudou tudo! A ferocidade em palco de Roger Daltrey, John Entwistle, Pete Townshend e Moon; as manifestações inspiradas no movimento de Arte Auto-destructiva, com a destruição apoteótica das guitarras e bateria nos concertos; a destreza técnica agressiva dos músicos; a sede de maior volume e potência sonora, que acabaria até por motivar a construção do imponente Marshall Super Lead (Model 1959).

No final de 1964, The Who já era uma referência do underground londrino. Um criptograma sónico que encerrava as sementes do hard rock, punk, power pop, garage rock e hardcore.

Townshend escreveu “I Can’t Explain”, de forma a seduzir a Decca, com um som “à Kinks”. O braço britânico da editora era reputado pelo seu espírito explorador de gravação e vanguardismo estético. O logro resultou parcialmente. A banda assinou pela Decca norte-americana.

Mas quando Townshend encheu “Anyway, Anyhow, Anywhere”, o single seguinte, de pick sliding, toggle switching e feedback, a editora ficou hesitante. A ideia era seguir o plano de Daltrey e gravar uma colecção de covers a clássicos rythm and blues e soul. Afinal, isso estava a resultar com os Stones. Em Abril de 1965, a gravação do álbum de estreia de The Who arrancou nos IBC Studios. No mês seguinte estava instalado o caos…

CRISTAL

Daltrey preferia as covers gravadas, com alguns originais de Townshend arranjados dentro da mesma estética. Os restantes inclinavam-se para uma predominância de canções originais. As sessões de Abril foram descartadas e, das nove covers que teriam sido o primeiro LP de The Who, apenas “I Don’t Mind” e “Please, Please, Please”, de James Brown, e “I’m A Man”, de Bo Diddley, foram regravadas nas sessões que viriam a ter lugar em Outubro. A tensão entre os 4 músicos, cuja relação era predominantemente profissional, aumentou.

Em Setembro, em digressão pela Dinamarca, uma discussão entre Daltrey e Moon acabou em pancadaria, depois do vocalista ter atirado para a sanita a metanfetamina do baterista. Daltrey foi despedido, tendo sido readmitido após aceitar o grupo como uma democracia, em detrimento da sua autoridade. Em Outubro recomeçou o trabalho em estúdio, com o produtor Shel Talmy (que estivera por trás do single “I Can’t Explain”), que conseguiu criar compromissos, controlando os egos dos músicos, pressão editorial e escassez de tempo.

O álbum acabou por congregar o fluxo musical de uma era passada, daquele momento presente e do que seria o advir da música popular. Aquelas canções formam como que um prisma sónico: há um sentido rythm and blues, com a recuperação dos três temas acima referidos; sensibilidade pop, como a harmonia a três vozes de “The Kids Are Alright”; agressividade eléctrica, na rudeza da title track; e a violação de barreiras formais, na busca de mais peso e mais poder, na explosiva “The Ox”.

Shel Talmy viera de Los Angeles para Londres. Com The Kinks, captou a fúria de viver dos primeiros teenagers pós-Guerra no irascível single “You Really Got Me”. Com The Who, tornaria essa fúria num manifesto histórico dessa geração: “My Generation”.

Já depois da edição do disco, os episódios de desacatos entre os The Who continuaram. Por exemplo, a 20 de Maio de 66, Pete Townshend e Roger Daltrey cansaram-se de esperar pela chegada de John Entwistle e Keith Moon para um concerto no Ricky Tick Club, em Windsor. Não foram de modas e subiram a palco com o baixista e baterista da banda local que abriu o concerto. Quando, finalmente, Moon e Entwistle chegaram ao concerto, já com o alinhamento a meio, rebentou a zaragata, com os quatro músicos dos The Who embrulhados numa enorme sessão de pancadaria, culminada quando Townshend acertou Moon com a sua guitarra. O fim do mundo em cuecas! O baterista e o baixista abandonaram a banda. Uma semana mais tarde tornaram a juntar-se ao vocalista e guitarrista…

TOWNSHEND RIG

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Quando abraçou as guitarras eléctricas e muito antes de criar os seus próprios modelos, Pete Townshend começou por usar uma Epiphone Wilshire, de 1961. Na antecâmara da gravação de “My Generation” o guitarrista já usava modelos Rose, Morris, Co. LTD – as Rickenbacker, às quais removia o vibrato. A primeira foi o modelo 1997, a versão de exportação britânica da 335 que se vê na fotografia. Depois a 12 cordas 360/12 de 1964 (que já se escuta nos primeiros singles). Para gravar o álbum de estreia usou ambas as guitarras e também a 345, com três pickups e com a alteração da ponte original por uma trapeze tailpiece de uma Gibson ES-175.

A amplificação foi uma mistura de modelos Fender, essencialmente, onde se destacam as cabeças ’64 Bassman e Pro a passar por colunas Bassman e Marshall.