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Vicious Five, Rewind, Redux

Vicious Five, Rewind, Redux

Nero

Em 2008 os Vicious Five lançaram um álbum. Meses depois anunciaram o fim da banda. Em 2014 estão de regresso. Relembramos a conversa sobre “Sounds Like Trouble”, guitarras, rock n’ roll e atitude.

Entre os cinco membros havia o chão comum do hardcore. Juntos foram retirando peso e distorção às guitarras e distanciando-se, sonoramente, da sua cena original. Em 2008, em promoção ao segundo álbum, “Sounds Like Trouble”, a banda falou connosco, uns meses mais tarde anunciaria o split-up, relembramos a conversa de então.

“Sounds Like Trouble”, apresenta diferenças em relação a “Up On The Walls”?
Joaquim Albergaria: Tem orgânica. Não houve “guinadas” drásticas. A grande diferença tem a ver com o facto de a melodia ser mais apurada, mais trabalhada e estruturada para ter refrões. Não que sejam fáceis, mas uma preocupação para haver pontos marcantes nas músicas. Refrões que dêem para lembrar e, quando chegas ao refrão, sentes… É essa a nossa principal preocupação, que não tínhamos tanto nos outros, que eram mais coração, intenção. E, se calhar, foi o disco em que nos sentimos mais confortáveis em estúdio.

Gravaram o “Up on the Wall”, em dois dias, em take de banda, ao vivo. Seguiram o mesmo método em “Sounds Like Trouble”?
Joaquim Albergaria: Não, foi faseado, por pistas. Foi fixe porque nunca tínhamos feito isto, mas acho que prefiro em take directo, tem mais coração. Se fizeste o teu trabalho de casa bem, poupas tempo e trabalho e potencias muito mais a intenção daquilo que estás a fazer. Estares a espartilhar a coisa toda, fica mais clínico, fica mais bem tocado…
Rui Mata: Mas perde qualquer coisa…
Joaquim Albergaria: Vicious Five é um bocadinho mais de coração do que de perfeição.

Pode pensar-se que ensaiam pouco ou trabalham pouco em estúdio…
Todos: E é totalmente verdade [risos].
Edgar Leito: Não é nada intencional.
Bruno Cardoso: É um misto de preguiça e indisponibilidade, às vezes. Mas nem sequer é um ar de presunção ou arrogância, é mesmo só um facto.
Rui Mata: E a esperança de que vai correr tudo bem.
Joaquim Albergaria: [Risos] É mais fé cega!

Vicious Five é desde metal e hardcore até à canção, até ao Paião e a única coisa que muda são as barbas.

Mas como é o vosso processo de composição?
Joaquim Albergaria: Geralmente, as ideias vêm do Edgar. A partir daí, não é composto, é discutido. E reforço a palavra “discutido” porque consegue ser bastante animado [risos]. Podemos ser preguiçoso, mas toda a gente tem opinião, o que é bastante irritante para quem é mais… É um processo de discussão, mas sentes que, no produto final, toda a gente teve voz, toda a gente pode dizer «eu disse que isto não ia resultar» ou «ainda bem que isto está assim».

Somos bué estilosos.

O que é que procuram numa guitarra?
Edgar Leito: Sou um bocado limitado em termos de “guito” [risos], e também em termos de marcas, de conhecimento. Para mim, anda tudo ali no universo de Gibson ou Fender e se houver alguma cena que fuja naquelas guitarras vintage, como tenho uma Epiphone dos anos 70. Acho as Rickenbacker guitarras interessantes, não as de 12 cordas. É o som que gosto, que considero mais real. Guitarras novas, tipo PRS e cenas desse género, são muito boas e têm um grande som, mas não me dizem muito. Gosto de sentir o som mais cru, mais verdadeiro da guitarra. Gosto do som mais directo, com mais imperfeições e mais simples. Amplificadores também, tudo o que seja dentro da Fender, Orange, Marshall mais antigo, são os que gosto mais. A Orange para mim só tem um problema, não tem reverb. Vox, também gosto muito.
Bruno Cardoso: Depois há uns Gretsch, que experimentei, uma vez na Suécia, e adorei. Só que custam quase 3000 euros…

É importante ser poser no rock n’roll?
Joaquim Albergaria: Grande parte do sucesso de uma banda tem a ver com o estilo com que tu fazes a banda. É o mesmo que olhares para um campo de futebol e conseguires dizer que o Garrincha tinha uma grande estilo.
Rui Mata: Ou olhares para dois gajos a andar de skate, que fazem as mesmas manobras…
Joaquim Albergaria: Mas não é só uma questão de imagem, é uma questão de flow. Há 300 milhões de gajos a tocar melhor do que nós…
Rui Mata: Só que falta qualquer coisa ou há qualquer coisa a mais.
Joaquim Albergaria: A interpretação que dás àquilo que estás a fazer, não só tecnicamente, ou a situação em que estás a fazê-lo, o feeling que estás a transmitir, a tal onda… Chama-lhe alma, chama-lhe estilo, o que quiseres, isso é que distingue, é um factor crucial de distinção entre uma banda e outra.
Edgar Leito: Somos um bocado descomprometidos. Não temos grandes pretensões em ser grandes músicos, em estar num palco e sermos tecnicamente perfeitos e tocar tudo ao pormenor. Tocamos, dá-nos feeling, fazemos o que queremos e o que nos apetece, deixamos fluir naturalmente e acho que isso se nota, não é uma cena forçada.
Joaquim Albergaria: Agora… Somos “bué” estilosos.
Bruno Cardoso: E também somos uns gajos divertidos.
Rui Mata: Mal interpretados também.
Joaquim Albergaria: Sim! E acho que a culpa é nossa, acima de tudo.