Paulo Furtado (The Legendary Tigerman) e António Ferreira (Calema) foram os músicos convidados que partilharam experiências e preocupações concretas face à utilização da IA no processo criativo e na difusão de conteúdos.
A Audiogest promoveu no Hotel Fénix, em Lisboa, um encontro inédito dedicado à reflexão sobre os Direitos Digitais e a Inteligência Artificial no setor da música, reunindo cerca de 200 participantes, entre profissionais da indústria, especialistas em propriedade intelectual e artistas.
Na sessão abordaram-se os riscos, oportunidades e potenciais impactos das tecnologias emergentes e a conclusão é unânime: é necessária mais regulamentação e proteção dos direitos de autor.
A manhã foi marcada por uma sessão formativa e informativa, com intervenções de Miguel Carretas, Diretor-Geral da Audiogest, que destacou os desafios colocados pela automatização e pela utilização de conteúdos protegidos em ferramentas de IA; Nuno Saraiva, Diretor Executivo da AMAEI, que abordou o impacto da IA na música independente e Abbas Lightwalla, Diretor de Política Jurídica Global da IFPI (em ligação online), que partilhou a perspetiva internacional sobre os esforços regulatórios em curso.
A sessão da tarde contou com um painel de discussão dinâmico e multidisciplinar, moderado por Manuel Pestana Machado (Startup Portugal), que guiou a conversa entre Mário Cruz, Adjunto do Gabinete do Ministro da Cultura, que destacou a importância da regulação proativa, Carlos Eugénio, Diretor Executivo da VISAPRESS, que comparou os desafios nos setores da música e da imprensa, os artistas Paulo Furtado (The Legendary Tigerman), e António Ferreira (Calema), que partilharam experiências e preocupações concretas face à utilização da IA no processo criativo e na difusão de conteúdos.
Ver esta publicação no Instagram
No final da sessão, Mário Cruz, Adjunto do Gabinete do Ministro da Cultura, elogiou: «Esta foi uma oportunidade única para expor a vontade deste governo. Tive a oportunidade também aqui de partilhar a nossa iniciativa de levar ao Conselho de Ministros da União Europeia da Cultura o tema da proteção dos direitos de autor no uso da Inteligência Artificial com a devida regulamentação para que não seja violadora destes direitos.»
Mário Cruz acrescentou ainda que apoia esta causa: «Devemos apoiar e incentivar que, a quem quer ver estes direitos protegidos, continue a lutar por isso.»
Não é aceitável que a IA faça arte, escreva uma canção sem intervenção humana.
Paulo Furtado, The Legendary Tigerman
Sobre o uso indevido de IA na música, o artista Paulo Furtado, conhecido por The Legendary Tigerman, frisou: «Não é aceitável que a IA faça arte, escreva uma canção sem intervenção humana. Pode ser uma ferramenta técnica e tornar processos mais simples, mas, como músicos, não queremos ser ameaçados pelo uso desregulado da IA. Mais que nunca é preciso regulamentar. Não é estar a favor ou contra a IA, é ser a favor da ética e da justiça. Os direitos de autor para todos aqui presentes são incontornáveis, sem eles não poderíamos criar e estes direitos estão em risco. Tirar a parte humana da equação é desaparecer com o conceito de arte. Sem artistas não há arte.»
Por seu turno, António Ferreira, dos Calema, considerou que: «O ser humano sente e cria conectividade. No palco sentimos e vemos isso acontecer – um avatar não consegue provocar esta experiência, não há reciprocidade. A IA é uma ferramenta e pode ser usada para fazer algo que inspire, que nos ajude a amplificar a nossa capacidade técnica e até criativa, mas não substituir o humano. É importante termos pessoas dentro da área com opiniões válidas e com preocupação ética.»
«A ideia de organizarmos esta sessão surgiu da necessidade que sentimos pelo facto de serem muitas as questões levantadas pelos artistas, e até por nós, sobre o uso da Inteligência Artificial na indústria da música. Há falta de informação, falta de diálogo e de debate, de ações e fóruns onde se possam discutir estes assuntos. Vão continuar a existir sempre mais dúvidas que respostas. Foi um dia muito produtivo, as pessoas puderam falar abertamente e ficou demonstrado que a união na indústria faz a diferença – foi este o sentimento que mais me transmitiram no final desta sessão», concluiu Miguel Carretas, diretor-geral da Audiogest.
Ao promover este evento, a Audiogest reforça o seu papel enquanto plataforma de diálogo e ação sobre os temas mais críticos da era digital, comprometendo-se a continuar a promover iniciativas que protejam os direitos dos produtores e artistas em Portugal.
Ver esta publicação no Instagram
