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Parkway Drive: De Byron Bay Para o Mundo

28/10/2025

Numa altura em que os aussies Parkway Drive estão a assinalar o vigésimo aniversário do seu primeiro álbum de estúdio, “Killing With a Smile”, apresentamos aqui, em jeito de retrospetiva, o percurso singular de um grupo de surfistas australianos que, sem grandes ajudas por parte da indústria musical, desbravou caminho desde as praias de Byron Bay até aos maiores palcos do heavy metal internacional.

Quando se juntaram em 2003 em Byron Bay, uma cidade costeira no leste australiano, todos os elementos dos Parkway Drive estavam profundamente entranhados na comunidade e cultura surfista local, algo perfeitamente natural para quem nasce e cresce num local onde o mar e as pranchas de surf se encontram. Porém, muitos perguntarão: «De onde é que vem esta relação entre o surf e o metal?». A resposta é simples, mas não óbvia. Neste caso vamos trocar o metal pelo punk hardcore, pois estes dois géneros cruzam-se na sonoridade dos Parkway Drive. No final dos anos 90 e início dos anos 2000, grande parte dos filmes de surf tinha como banda sonora músicas de grupos de punk do sul da Califórnia, como NOFX, Pennywise ou Bad Religion, também eles ligados à cultura do surf. Enquanto adolescentes rebeldes e consumidores destes filmes, é neste contexto que Winston McCall (voz), Jeff Ling (guitarra solo), Luke “Pig” Kilpatrick (guitarra ritmo), Ben “Gaz” Gordon (bateria) e Bret “Lagg” Versteeg (baixo) formam os Parkway Drive.

Como ainda não existia uma cena musical consolidada em Byron Bay, verificava-se uma falta de salas que permitissem às bandas da cidade ensaiar e tocar ao vivo. Ainda assim, e com os Parkway Drive a darem os primeiros passos, os ensaios da banda decorriam na cave da casa do baterista Ben “Gaz” Gordon, casa essa que recebeu a alcunha de “Parkway House” por situar-se na Parkway Drive, rua que dá o nome à banda. Além de sala de ensaios, a “Parkway House” funcionava também como sala de concertos para a pequena cena hardcore de Byron Bay.

Passados dois meses de ensaios, a banda deu o seu primeiro concerto no Byron Bay Youth Centre. No público estava Michael Crafter, vocalista da banda de metalcore australiana I Killed the Prom Queen, que, impressionado com a sonoridade e com os breakdowns do grupo de Byron Bay, convidou-os para fazer parte de um split CD editado em junho de 2003. A conexão entre as duas bandas foi também ela instantânea, o que permitiu organizar uma tour conjunta.

 

Após a edição do split CD, os Parkway Drive chamaram a atenção da Resist Records e assinaram um contrato com a editora australiana. Foi já através deste selo que, em 2004, lançaram o EP “Don´t Close Your Eyes”. Contudo, a banda não se encontrava satisfeita com a produção do EP e foi então em busca de um produtor que conseguisse captar em estúdio a energia que os Parkway Drive apresentavam ao vivo. Assim surgiu a hipótese de trabalharem com Adam Dutkiewicz, produtor e guitarrista dos Killswitch Engage, que colaborou com a banda na gravação

Parkway Drive (Killing With A Smile) CD – Epitaph Records Europe

do álbum de estreia “Killing With a Smile”, gravado nos EUA nos Zing Studios, em Massachusetts. O álbum teve uma excelente recepção e após ter estreado na tabela da ARIA no 39.º lugar, os Parkway Drive seguiram numa tour que os levou a todas as partes da Austrália. Contudo, em 2006 veio a primeira mudança na formação e é já com o novo baixista, Shaun “Cashy” Cash, que partem na sua primeira tour internacional pela Europa, em estilo DIY e sem o auxílio de promotores oficiais.

É também em 2006 que a banda fecha aquela que podemos chamar de formação clássica com a entrada de Jia “Pie” O’Connor, amigo de longa data e responsável pelo merchandise nos concertos do grupo.

Depois da tour europeia, a banda seguiu para os EUA onde despertou o interesse da Epitaph Records, principal editora no ramo do punk hardcore, que elogiou não só a sonoridade do grupo, mas também a forma como este combinava elementos de hardcore com heavy metal. As duas partes assinaram contrato e a Epitaph encarregou-se de editar o álbum de estreia dos Parkway Drive na América, algo que os fez chegar a um público ainda mais vasto.

Em 2007, voltam a entrar em estúdio para gravar o segundo álbum, intitulado “Horizons”. Neste novo registo, os Parkway Drive optaram por manter o produtor, mas procuraram elevar a fasquia com a composição de um álbum mais técnico e estrutural com secções que permitissem grandes sing alongs, como é o caso de “Carrion” ou “Idols and Anchors”, e breakdowns avassaladores como em “Boneyards”.

Em 2007, voltam a entrar em estúdio para gravar o segundo álbum, intitulado “Horizons”. Neste novo registo, os Parkway Drive optaram por manter o produtor, mas procuraram elevar a fasquia com a composição de um álbum mais técnico e estrutural com secções que permitissem grandes sing alongs, como é o caso de “Carrion” ou “Idols and Anchors”, e breakdowns avassaladores como em “Boneyards”. Com a edição de “Horizons”, os Parkway Drive cresceram de uma forma exponencial em todo o mundo, passando de concertos em salas pequenas onde tocavam para 50/100 pessoas para salas com capacidade para 250/500 pessoas onde o público entoava cada letra.

Em 2009, e após uma extensa digressão, a banda lançou o seu primeiro documentário, intitulado “Parkway Drive: The DVD”, onde o grupo recorda momentos que vão desde a sua formação até às primeiras tours internacionais, passando pelos contratos discográficos com a Resist e Epitaph.

Passados três anos na estrada a promover “Horizons”, os Parkway Drive entraram de novo em estúdio, em Março de 2010, para gravar “Deep Blue”, desta vez com o produtor Joe Barresi, conhecido por ter trabalhado com Melvins, Queens of the Stone Age ou Bad Religion. Em “Deep Blue”, a banda australiana optou por apresentar uma narrativa conceptual, como explicou o vocalista Winston McCall no anúncio do álbum: «É basicamente sobre a busca da verdade num mundo que aparenta estar desprovido disso. A história é contada a partir dos olhos de um homem que acorda e apercebe-se de que a sua vida é uma mentira e que tudo o que ele acredita não é real. Então ele vai em busca da verdade para si próprio, sendo que a sua viagem o “leva até ao fundo do oceano e depois trá-lo de volta.”». Com faixas que se tornaram autênticos clássicos ao vivo, como é o caso de “Karma”, “Home Is for the Heartless” e “Sleepwalker”,Deep Blueé um dos álbuns dos Parkway Drive que mais aclamação teve por parte da crítica e do público, algo que se verificou com a chegada à segunda posição da tabela da ARIA na Austrália e ao número trinta e nove na Billboard 200 dos EUA. Ainda em 2010, foi também na tour de “Deep Blue que os Parkway Drive se estrearam em Portugal, com um concerto na sala Santiago Alquimista, em Lisboa.

Em 2012 o grupo lançou o seu segundo documentário, intitulado “Home Is for the Heartless, que surge como uma espécie de tour/surf trip film. De uma forma bastante humilde, a banda leva-nos numa viagem pelo mundo enquanto vamos acompanhando a sua vida na estrada. No documentário, os Parkway Drive passam por países que os fazem sentir em casa, como é o caso da Indonésia e Espanha, e outros que representam choques culturais como a Rússia, China e Índia. Este é sem dúvida um registo onde se nota claramente uma banda em ascensão que vai descobrindo que tem fãs espalhados pelos quatro cantos do mundo.

Ainda no mesmo ano, é editado “Atlas”, o quarto longa duração, que demonstra uns Parkway Drive a enveredarem por um caminho mais experimental com o auxílio do produtor Matt Hyde. Apesar de não terem deixado de lado a agressividade dos registos anteriores, procuraram diversificar os arranjos e a instrumentação utilizada. Como tal, é possível ouvir instrumentos de corda friccionada como o violoncelo e o violino nas faixas “Sparks” e “Atlas”, piano em “Atlas” e até um trompete em “Blue and the Grey”. Ainda assim, são as músicas “Dark Days” e “Wild Eyes”, esta última com o seu monstruoso sing along riff, que têm até hoje lugar cativo nas setlists.

Mas se há algo que os Parkway Drive nunca esconderam, foi a ambição de continuar a evoluir a sua sonoridade com o intuito de se tornarem numa das maiores bandas de metalcore do mundo. Para tal, e usando uma estratégia semelhante a outros grupos como forma de chegar a um público ainda mais alargado, a banda australiana escolheu por redesenhar a sua sonoridade com a inclusão de novas influências. Naquele que foi o processo de composição para o seu quinto álbum de estúdio, “Ire”, o grupo começou a escrever canções que tinham como finalidade serem tocadas perante grandes multidões. Desta forma, os Parkway Drive foram à procura de dois elementos: riffs melódicos e possantes que, acompanhados por uma batida sólida, colocassem grandes plateias em alvoroço e aos saltos, e ainda refrões orelhudos que permitissem sing alongs colossais. Sem nunca se afastarem por completo do metalcore, os Parkway Drive começaram assim a direcionar o seu som para aquilo a que podemos chamar de “heavy metal de arena”, género popularizado por bandas como Iron Maiden ou Metallica.

Quando “Ire” é editado em Setembro de 2015, a crítica elogia o trabalho da banda ao referir que: «este era o álbum que os Parkway Drive precisavam de fazer para se manterem frescos e relevantes». Prova disso são as enérgicas “Bottom Feeder”, “Vice Grip” e “Destroyer” ou as demolidoras “Crushed” e “Dedicated”. Foi também na tour de “Ire”, e passados sete anos, que os Parkway Drive regressaram finalmente a Portugal, mais precisamente a 28 de abril de 2017, para um dos concertos mais intensos que o antigo LAV – Lisboa Ao Vivo presenciou. Com uma setlist que começou em “Wild Eyes” e terminou em “Bottom Feeder”, os australianos conseguiram virar do avesso a sala lisboeta com a sua actuação enérgica perante um público que retribuiu com muito mosh, circle pits e crowd surf à mistura.

Durante a tour de promoção do álbum “Ire”, os Parkway Drive passaram por uma espiral de tragédias que abalaram fortemente a confiança da banda, bem como toda a sua postura face ao futuro, isto porque o grupo foi confrontado com o falecimento de pessoas bastante próximas. Com um espírito de derrota e impotência perante toda esta situação, foram em busca de algo que os auxiliasse a deitar cá para fora todas as suas emoções e tristezas e é neste contexto que compõem “Reverence”, o seu sexto álbum, editado em 2018. Neste registo, a banda mantém a sonoridade grandiosa de “Ire” e apresenta letras que remetem para sentimentos como a raiva, como ouvimos na faixa “Wishing Wells”, onde Winston McCall berra “Burn your heaven / Flood your hell / Drown you in your wishing wells / Burn your heaven / Flood your hell / Damn you all ‘cause tonight I’m killing gods.” ou sofrimento em “The Colour of Leaving”, com McCall a confessar “You never know just what you’ve got / Till it’s slipping through your fingers / Never know just what you’ve got / Till it’s gone with the wind”. Ainda assim e apesar dos momentos mais negros em termos líricos e de uma maior predominância de vocais limpos, “Reverenceapresenta algumas das melhores composições dos Parkway Drive, nomeadamente nas faixas “Prey”, “The Void” e “Chronos”, que seguem as mesmas pisadas de “Ire” no que toca a riffs melódicos e refrães orelhudos.

Enaltecido pela crítica, “Reverence” é tido como o álbum que coloca os Parkway Drive na “primeira liga” do heavy metal e como dignos sucessores de Metallica, Iron Maiden e Judas Priest. Prova disso é o crescimento, em termos de público e de produção dos concertos da banda, envolvendo hoje em dia muita pirotecnia e uma bateria giratória. Enquanto na tour de “Ire” os Parkway Drive tocavam para salas de média dimensão com assistências que variavam entre 3000 e 5000 pessoas, na tour de “Reverencea banda entrou no circuito das arenas, passando a tocar em salas como o Alexandra Palace em Londres ou a Arena Leipzig na Alemanha, ambas com capacidade para mais de 10 mil pessoas. No circuito dos festivais o crescimento também foi notório: festivais consagrados como o Ressurection Fest em Espanha, o Wacken Open Air na Alemanha ou o Bloodstock Open Air em Inglaterra apostaram as suas fichas nos australianos e colocaram-nos como cabeça de cartaz, feito esse que ficou registado no mais recente documentário da banda intitulado “Viva The Underdogs”, lançado em Janeiro de 2020.

2020 foi um ano complicado para os Parkway Drive. Não só trouxe a pandemia, como também colocou à tona todas as tensões emocionais e interrelacionais que se faziam sentir entre os membros da banda. Afinal de contas, foram quase vinte anos de um ciclo ininterrupto de gravar um álbum e ir para estrada, e claramente exaustos e sem tempo para pensar nos seus interesses pessoais, os Parkway Drive foram deteriorando as suas relações internas, bem como o funcionamento da banda. Aspetos como masculinidade tóxica, bullying e peer pressure levaram Winston, Jeff, Luke, Ben e Jia a ponderar a dissolução dos Parkway. Contudo, o peso na consciência bem como a predisposição de todos para se sentarem à mesa com o intuito de falarem acerca dos seus conflitos emocionais levou a que a banda fosse à procura de ajuda profissional. À semelhança daquilo que os Metallica já tinham feito em “Some Kind Of Monster”, os Parkway Drive optaram por fazer sessões de terapia em banda, sendo que nestas sessões cada membro foi à procura de respostas para perguntas que, ao longo dos vinte anos, nunca tinham sido feitas. Num processo demorado que durou vários meses, conseguiram reunir as suas forças anímicas para deitar cá para fora, em Setembro de 2022, o catártico “Darker Still”. Este álbum, o registo mais negro da banda em termos líricos, traz novos elementos sonoros que ainda não tinham sido explorados, como é o caso do glockenspiel que ouvimos no início da faixa “Ground Zero” ou ainda a faixa título, uma surpreendente power ballad, que conta com uma deliciosa melodia assobiada, bem ao estilo de “Patience” dos Guns N’ Roses.

Darker Still” apresentou-se assim como o início de um novo ciclo para a banda de Byron Bay. Desde então, os Parkway Drive continuam a não dar sinais de abrandamento. O ano de 2023 antecipava uma celebração dos vinte anos da banda com grande pompa e circunstância, mas a verdade é que os Parkway Drive decidiram esperar por  2024 e 2025 para fundir a celebração das duas década de atividade com o 20º aniversário do álbum de estreia “Killing With a Smile”. Uma extremamente bem sucedida tour pelas maiores arenas australianas, assim como uma incursão pelo velho continente que os vê agora a regressar a Lisboa oito anos depois do seu concerto no LAV – Lisboa Ao Vivo, foram os planos traçados para estes dois anos. Porém, um desafio maior se levantou na sua terra natal – um convite para tocarem no edifício mais emblemático da Austrália, a Sydney Opera House, com uma orquestra. O concerto, que apresentou uma setlist cunhada com bastante detalhe, resultou numa experiência super intimista onde banda e fãs se apresentaram em trajes de gala. Quanto à performance, esta foi dividida em dois actos e um encore que foram tocados perante um público totalmente sentado. É justo dizer que no concerto da Sydney Opera House os mosh pits deram lugar à contemplação e a pirotecnia, a uma cenografia assente na vegetação autóctone da Austrália e no próprio design arquitetónico do interior da sala de espetáculos.

Quanto ao futuro dos Parkway Drive? Esse ainda é imprevisível, mas já sabemos que o conceito de impossível não faz parte do processo criativo da banda. Dos clubes para os teatros, das arenas para os lugares de cabeça de cartaz nos maiores festivais, o concerto da Sydney Opera House parece ter sido o pináculo da carreira dos australianos. Mas será que ainda dá para ir mais longe? Uma coisa é certa, depois de todas estas conquistas há um passo que pode e deve ser dado e esse é o dos concertos de estádio.

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