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A contra corrente de Ryan Adams

A contra corrente de Ryan Adams

2017-07-06, NOS Alive, Passeio Marítimo de Algés
Carlos Garcia
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O ex-Whiskeytown trouxe a Lisboa um set de canções construído à volta dos seus dois mais recentes álbuns, o homónimo “Ryan Adams” e “Prisioner”.

Portador de uma sonoridade devedora do rock clássico americano, Adams cumpre em palco os cânones do género: postura sóbria, entrega nas canções, devoção a um ideal de música que não pede, nem quer grandes floreados. Adams em estúdio e em palco é um devoto de uma determinada paisagem sonora (e cultural) americana. Som da estrada e das grandes planícies, com um toque suficiente de modernidade para apelar tanto ao votante de Trump como ao liberal de LA ou New York. Sentem-se aqui pinceladas de Grateful Dead, John Mellencamp ou Springsteen. Tanto na sonoridade como numa certa ética blue collar: não há aqui espaço para uma certa exuberância dandy que caracteriza tantas das bandas que passam pelo Alive. Em Adams sente-se que a música e a performance são sobretudo uma forma de entrega devocional e de catarse emocional. E de honestidade. Como tal a performance, aqui, foi séria e clássica, sem grandes intervalos entre as músicas e sem muita interacção com o público. Adams é um classicista do rock, e qualquer dúvida que as suas simpatias musicais pendem pouco para o teor mais experimentalista que caracteriza estes festivais é confirmada quando numa das poucas vezes que se dirigiu à audiência foi para dar uma ferroada nos Alt-j. Abrindo com “Do you Still Love Me?” Adams rasgou a direito pelas suas obras mais recentes. Pelo meio houve ainda incursões pelo seu período com os Cardinals, como “Magnolia Mountain”.

Pela vontade dele o rock clássico ainda terá um lugar assegurado pelos próximos anos.

Um músico com mais de 20 anos de carreira e mais de uma dezena de álbuns na bagagem, vai sempre destoar um pouco num alinhamento de festival onde tantos outros que partilham os mesmos palcos começaram a carreira já esta década e estão mais alinhavados com os cânones dominantes da cena musical. Mas o elemento dissonante é sempre bem-vindo para mudar a corrente energética num desfile de bandas. E corrente energética não falta em Adams, segurando a guitarra como se a sua vida dependesse disso. Pela vontade dele o rock clássico ainda terá um lugar assegurado pelos próximos anos.

Fotos: Tomás Lisboa