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Alice In Chains

Dirt

Columbia Records, 1992-09-29

EM LOOP
  • Them Bones
  • Dam That River
  • Down In A Hole
  • Rooster
  • Would?
Nero

“Dirt” é a obra-prima dos Alice In Chains. Pesado, elegante e carregado de trevas.

A química deste line-up é extraordinária. Mike Inez não é particularmente conhecido com um instrumentista virtuoso. O próprio músico considera-se mais um team player que opta pela solidez da banda e da canção, em detrimento da exibição de talento individual. Talvez por isso se refira aos Alice In Chains como uma banda que soa como “uma banda”, com solidez e coesão. O baixista e Jerry Cantrell, ambos to­camos com a mão bem pesada e daí surgem aqueles riffs pesadões.

Depois, o Sean Kinney é um baterista muito musical, usa muito bem os pratos nas acentuações, e os três soam duma forma muito natural. Além disso, Cantrell tem vocação para a estrutura das canções. Como refere Inez: «Muitos guitarristas não sabem essa diferença [entre o bom e mau para a canção], é tudo fantástico. Todas as canções são um single, todos os solos são o melhor solo de sempre. O Jerry não é um desses».

“Dirt” é marcado pelas trevas enfrentadas por Layne Staley, aqui ainda capaz de as enfrentar e já no auge da sua maturidade musical (“Hate To Feel” ou “Angry Chair” são composições exclusivamente suas). O vocalista catapultou, junto de Jerry Cantrell, os Alice In Chains para o topo do universo rock. As suas harmonizações vocais com Cantrell tornaram-se uma assinatura sonora inimitável e a sua força é impressionante neste registo.

Esta característica tão marcante, junto das supracitadas construíram um disco monstruoso, que ostenta uma impressionante colecção de malhões tão melódicos quanto pesados, desde a sua abertura (“Them Bones”), até ao final (“Would?”). Pelo meio estão pérolas como “Dam That River”, “Rain When I Die”, “Down In A Hole” ou o emblemático pilar da discografia da banda, “Rooster”.

A banda foi sempre catalogada como metal ou grunge. Os músicos nunca se preocuparam muito com as categorias atribuídas ao seu som. Nas palavras de Inez: «Nunca nos pautámos por esse termo. [O grunge] foi algo criado para mercantilizar toda uma cena que estava a acontecer em Seattle. Penso que o que havia de especial sobre as bandas de Se­attle é que, se olhares um mapa americano, Seattle está tão fora de caminho que as bandas estiveram ali uns dez anos… Sabes, os Soundgarden já existiam há dez anos quando lançaram o seu primeiro álbum. E não há muito para fazer em Seattle a não ser fumar erva, beber cerveja e estar na cave do teu amigo a fazer música [risos]. E era claro que essas bandas soavam de forma diferente umas das outras. O Kurt soava diferente do Layne, o Layne soava diferente do Eddie Ved­der, que soava diferente do Chris Cornell. Todas as bandas tinham o seu próprio estilo. O William dizia, numa entrevista, que essas bandas também redefiniram como lidar com a fama. Não era sobre comprar um Ferrari e uma casa em Malibu, enfiar lá uma supermodelo e nadar com golfinhos como o c*ralho do Axl Rose [ri­sos]. Eram apenas tipos simples e sentias que podiam, perfeitamente, morar na tua rua, vizinhos porreiros que faziam música. Todas essas bandas adoram cenas heavy – se falares com o Kim Thayil ou qualquer um deles, todos ouvem os Sa­bbath. O grunge não foi algo que tenhamos apregoado. E, de todas essas bandas, penso que os Alice In Chains são a de heavy metal. Mesmo considerando canções como “Jesus Christ Pose”, e outras pesa­donas dessas bandas, por alguma razão os Alice soam um pouco mais metal».

E na verdade “Dirt”, que foi um sucesso comercial (com mais de 5 milhões de vendas em todo o mundo até hoje) e junto do público e crítica especializada, ou seja venceu no mainstream,  é um álbum com um carácter underground (deslocado do grande público nos nossos dias, o que é uma pena), tem mesmo pontes estéticas e atmosféricas com um dos mais extremos estéticos musicais (até pela sua marcada reflexão heroinómana): o sludge.

“Dirt” coroou definitivamente os Alice In Chains como a banda capaz do som mais negro de Seattle (ao lado dos Soundgarden), tremendo no seu peso sonoro e emocional derivado das guitarras taciturnas de Cantrell e da autenticidade desesperante de Staley.