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Anna Calvi

2011-09-13, Lux, Lisboa
Redacção

Faltavam dez minutos para as onze da noite quando Anna Calvi, voz e guitarra, Mally Harpaz, guitarra, harmonium e percussão e Daniel Maiden-Wood, bateria e voz, subiram ao palco da esgotada discoteca Lux. A pista estava cheia e o ar começa a ser pouco respirável, mas o público estava sereno e procurava o melhor espaço, disponível, para ver a Londrina. 

De camisa vermelha e ar angelical Calvi pegou na guitarra e lançou os acordes para a primeira música da noite, o instrumental “Rider To The Sea”, também primeira faixa do seu homónimo álbum de estreia e começava assim o primeiro concerto em nome próprio de Calvi em Lisboa, que já tinha estado no Opimus Alive! e na noite anterior tinha tocado no Porto.

Foi um bom concerto, que como era de esperar explorou o álbum homónimo lançado no início do ano e ao vivo Anna Calvi é aquilo que mostra no disco, é uma artista rockabilly que tem canções que falam sobre intimidade, paixão e solidão.

O facto mais curioso da artista é a transformação da voz meiga e serena que mostra quando agradece, de forma genuina, no fim de cada música e o vozeirão que liberta em cada palavra que canta. É, talvez, um cameleão que se transforma e se esconde em várias peles e papéis, mas que souberam muito bem ouvir.

 

Quando ouvimos Anna Calvi a cantar “I’ll be your man” lembramo-nos de PJ Harvey a quem é muitas vezes comparada. Ela não gosta da comparação, mas se calhar faz algum sentido nem que seja pelo facto do disco ter sido produzido por um colaborador de longa data de Polly Jean, o músico e produtor Rob Ellis. Mas quando se ouve Anna Calvi também se ouve Patti Smith e Edit Piaf.

Com apenas um disco Anna Calvi já tem alguns hits que soube ir metendo pelo meio da sua actuação, como é o caso de “Blackout” e “Desire”. E isto mostra que estamos perante uma artista de sucesso rápido que conta já com algum curriculum, surgiu na lista dos 15 novos artistas mais promissores do ano, do BBC Sound of 2011 e foi  nomeada para o para o Mercury Prize que haveria de perder para PJ Harvey. Para além do curriculum tem sobretudo reconhecimento por parte da critica e de alguns artistas de renome como é o caso de Brian Enno e Nick Cave que se renderam ao talento de Anna Calvi, sendo esta escolhida para fazer a primeira parte dos espectáculos da digressão europeia dos Grinderman.

E rapidamente se passou uma hora de concerto que soube a pouco, mas também não havia mais para dar. De qualquer das formas houve tempo para um encore de duas músicas “The devil” e a fechar “Jezebel”, que faz parte do EP com o mesmo nome, lançado em 2010, música popularizada, entre outros, por Edit Piaf onde Calvi nos leva a dançar flamengo. E é desta forma que abandonamos a pista do Lux, mas antes Anna Calvi agradecu a noite especial que tinha tido. Nós também gostamos e agora aguardamos pelo sempre difícil segundo álbum quando o primeiro é um sucesso.

Por Nélio Matos