Quantcast
As reflexões profissionais de Kurt Vile com os The Violators

As reflexões profissionais de Kurt Vile com os The Violators

2018-10-25, Lisboa ao Vivo
António Maurício
Inês Barrau
7
  • 8
  • 6
  • 7
  • 6

O concerto de Kurt Vile no Lisboa ao Vivo pode ser estatisticamente dividido entre 50% hipnótico, 25% country e 25% folk.

O Lisboa ao Vivo foi o palco do primeiro espectáculo de Kurt Vile em território português, em nomepróprio, diga-se, com o novo álbum “Bottle In” na bagagem. Espectáculo oficial e dentro das regras habituais, porque nesse mesmo dia, apresentou um pequeno showcase na Fnac Chiado. Veio acompanhado pelo trio The Violators, que constitui a sua banda de apoio.

Além do visualmente óbvio, a atitude de Kurt em palco e principalmente os seus modos ou até tiques de performance dão a entender que o músico adora e já está mais que à vontade no manuseamento da guitarra. Conseguimos imaginar Kurt, na sua juventude, de guitarra às costas em casa, na escola, no parque, no café… Basicamente, em todo o lado, a produzir músicas com instrumentais alegres, mas com reflexões líricas inquietantes, depois de ouvir discos de Neil Young ou Tom Petty, o que, aliás, nos confessou em entrevista, poucas horas antes do concerto, a ser publicada em breve (e onde falaremos de guitarras e amps).

A entrada em palco foi feita com a faixa “Loading Zones”, que, coincidência, também é a faixa introdutória no mais recente álbum, “Bottle It In”. A voz nasal e arrastada do músico é altamente reconhecível, não existem muitas assim, mas se, como Kurt, ouviram discos de Neil Young, sabem qual a voz que ele usou como molde. Transmite um sentimento de indiferença e descontracção (aliás, todo o estilo de Kurt dá essa sensação) que presencialmente proporciona um estado 50% hipnótico, 25% country e 25% folk. A afinação esteve 90% perfeita – os poucos deslizes aconteceram quando Kurt se entusiasmava mais no toque da guitarra.

“Bassackwards”, aquela melodia simples, mas extremamente sonante revelou-se um dos pontos mais altos da noite, não só pelo longo e excelente desenvolvimento instrumental a que teve direito, mas também pelo encaixe perfeito entre o tom relaxado de voz e a narrativa de memórias distantes e reflexões despreocupadas, de quem encontra sempre uma solução na vida.

O seu lado de guitar hero começou a aparecer com suavidade em “Hysteria”. No início (primeiros 30 segundos, aproximadamente), largou o instrumento de 6 cordas e trabalhou unicamente as cordas vocais, mas entrava pontualmente com mini-solos que soavam bem, era disparados com autoridade e não exageravam a sua estadia. Tempo ainda para um momento a solo, ou seja, sem os The Violators. A “Runner Ups, despida de qualquer tipo de apoio, encontrou-se com o público num momento lento e emotivo. Mas, apesar dos The Violators serem, de facto, uma banda de apoio, roubaram a luz da ribalta em “Goldtone”. O baixo e a guitarra secundária neste momento foram sublimes e os ossos de toda a sonoridade, ofuscando pela primeira vez a estrela principal.

O encore foi certeiro, com o maior sucesso de Kurt, “Pretty Pimpin”, a elevar o ânimos da plateia até ao maior nível de excitação. Apesar do músico se apresentar como um homem de poucas palavras em palco e recheado de questões existenciais, uma coisa é certa, não é fácil tocar como ele toca com tanto cabelo à frente.

SETLIST

  • Loading Zones
    Jesus Fever
    Bassackwards
    Hysteria
    Goldtone
    Cold Was the Wind
    Runner Ups (solo)
    Wheelhouse
    Wakin on a Pretty Day
    Girl Called Alex
    Check Baby
    KV Crimes
    Skinny Mini
    Wild Imagination
  • Pretty Pimpin