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Beyoncé é um mulherão!

2014-03-26, Meo Arena
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Beyoncé é uma diva, no sentido plenamente positivo do termo. Grande voz, serenidade, presença, charme e sensualidade. Teve o público a seus pés, mas não o pisou, deu-lhe a mão.

Entre “Run The World (Girls)”, gritos estridentes de aclamação e o discurso da nigeriana Chimamanda Ngozi Adichie (1), que pontua “Flawless”, percebemos que esta é uma noite de power feminino. Em “Flawless”, durante o discurso, os arranjos sintetizados de cordas são sublimes e não deixam antever a força com que a banda surge posteriormente, com enfoque na fúria dos sopros e na “patada” de bombo na estrutura final – com um som mais orgânico que a versão de estúdio. É ao terceiro tema, “Yoncé”, depois de alguma confusão na mistura do som da entrada e do muito processamento vocal de “Flawless”, que temos o primeiro vislumbre real dos atributos vocais de Beyoncé. Após as fortes afirmações feministas, “Yoncé”, “Get Me Bodied” ou “Baby Boy”, são coreografadas com um uso hipnótico da sensualidade do corpo feminino. Aqui não há Sean Paul para cantar em dueto com Beyoncé, uma coisa boa diga-se, pois a versão ao vivo é outra música – mais carregada e dinâmica, mais pesada até. A guitarrista Bibi McGill pode ser endorser Gibson, mas surgiu aqui a carregar o tema de biacordes com uma Jackson Randy Rhoads, guitarra com a qual passou a maior parte do concerto a “shreddar”.

Em “Diva”, quiçá a fazer justiça ao título, Beyoncé finalmente liberta mais a sua capacidade vocal de efeitos e dos coros. É verdade que durante toda a actuação irá muitas vezes “proteger-se” nas notas mais agudas, extremamente coordenada com o seu trio de apoio vocal, as Mamas. Mas há momentos, como “Drunk In Love”, em que a “Mrs. Carter” não usa trapézio, em que usa a voz como uma cantora gospel, uma verdadeira diva do soul. Essas estéticas genéricas são misturadas com um ryhtm & blues cheio de uma vibração funk num dos melhores momentos da noite: “Why Don’t You Love Me”. Exuberante a voz de Beyoncé, solos do trio coral, solos de guitarra (McGuill com um som spanky através de uma Telecaster), de toda a gente. Um vibe Ray Charles.

Entramos na parte final do concerto, Beyoncé faz-se ladear por Bibi McGill (com uma guitarra acústica) e pela baixista Lauren Taneil para a balada acústica “Irreplaceable”. “Love On Top” é tocado ligeiramente mais acústico que o dentro do registo mais electrónico de estúdio e Beyoncé reserva-nos outro momento impressionante: a forma como vai aumentando de notas na escala, nas estrofes de mudança que a própria música vai subindo, é segura e pouco esforçada. Parabéns às senhoras presentes na Meo Arena, que acompanharam as subidas tonais sem desafinar nas notas mais altas.

Aquela introdução acapella não é algo ao alcance de qualquer um e se Beyoncé a consegue fazer, essa é uma das razões para ser amada de volta por uma Meo Arena próxima da lotação esgotada.

O final aproxima-se rapidamente e é acelerado por um medley entre “Crazy In Love” e “Single Ladies”. Antes da versão de “I Will Always Love You” é-nos mostrado o filme “I Was Here”. Por algum motivo pensa-se na introdução ao filme de “Ride”, de Lana Del Rey, mas como se esta fosse uma versão limpa, optimista. Não há strippers, motards, armas e álcool. Há Beyoncé com o marido Jay-Z, com o seu filhote, com os fãs, com Barack Obama. O mundo perfeito de Beyoncé, o lado o qual agradece ao público cantando-lhe o original de Dolly Parton, que Whitney Houston imortalizou em “Bodyguard”. Aquela introdução acapella não é algo ao alcance de qualquer um e se Beyoncé a consegue fazer, essa é uma das razões para ser amada de volta por uma Meo Arena próxima da lotação esgotada.

Os níveis de emotividade estão stressados ao máximo. “Heaven” e, principalmente, “XO”, numa versão muito aumentada em relação ao original de estúdio, suavizariam o coração mais duro. As boas sensações transmitidas por “XO” são como injecções de optimismo, de que a vida vai correr bem e merece ser vivida no matter what! “Halo” encerra um concerto memorável.

(1) We teach girls to shrink themselves, to make themselves smaller. We say to girls, ‘You can have ambition, but not too much. You should aim to be successful, but not too successful. Otherwise you will threaten the man.’ Because I am female, I am expected to aspire to marriage. I am expected to make my life choices always keeping in mind that marriage is the most important. Now marriage can be a source of joy and love and mutual support. But why do we teach girls to aspire to marriage and we don’t teach boys the same? We raise girls to see each other as competitors – not for jobs or for accomplishments, which I think can be a good thing, but for the attention of men. We teach girls that they cannot be sexual beings in the way that boys are. Feminist: the person who believes in the social, political and economic equality of the sexes.

SETLIST

  • Run the World (Girls)
  • ***Flawless
  • Yoncé
  • Get Me Bodied
  • Baby Boy
  • Diva
  • Naughty Girl
  • Blow
  • Partition
  • Haunted
  • Drunk In Love
  • Why Don’t You Love Me
  • Irreplaceable
  • Love On Top
  • Crazy In Love
  • Single Ladies (Put A Ring On It)
  • I Will Always Love You
  • Heaven
  • XO
  • Halo