Quantcast
Disneyland After Dark: Hard Rock, Hard Club

Disneyland After Dark: Hard Rock, Hard Club

2019-11-29, Hard Club, Porto
Nero
Inês Barrau
10
  • 10
  • 10
  • 9
  • 10

O Hard Club relembrou-nos tratar-se da melhor sala do país para concertos desta dimensão e os D-A-D, além de nos recordarem quanto vale um malhão de hard rock, mostraram que o interregno discográfico foi bom conselheiro. Os temas do novo álbum, “A Prayer For The Loud”, estão entre os melhores da banda de há muitos anos a esta parte.

Há muito que não visitávamos o Hard Club, no Porto. A passagem dos D-A-D, combinada com a realização do Oporto Soundshock foi a oportunidade perfeita para regressar. Em boa hora o fizemos, porque a Sala 01 do antigo mercado Ferreira Borges é a sala com melhor som (de forma mais consistente e recorrente) do país. A mudança de sala (o concerto estava inicialmente previsto para a Sala 02) não resultou numa plateia esgotada, mas a casa esteve bem composta e com vários rockers indefectíveis que, pelo menos, nos maiores clássicos dos dinamarqueses acompanhou em coro os irmãos Binzer, o espampanante baixista Stig Pedersen e o baterista Laust Sonne.

Da nossa parte, há muito que não víamos D-A-D ao vivo (desde o concerto no Campo Pequeno, em 2009, na ressaca do álbum “Monster Philosophy”). Pouco depois a banda editou “DIC·NII·LAN·DAFT·ERD·ARK” e quebrou agora um silêncio discográfico de oito anos com “A Prayer For The Loud” mas, sendo honestos, o que nos interessava era ouvir as coisas gravadas na era dourada, até ao álbum “Riskin’ It All”.

Diga-se também que a setlist não foi indulgente, vivendo apenas à custa do álbum referido imediatamente atrás ou da obra-prima, “No Fuel Left For The Pilgrims”. Esses temas estiveram presentes e em maioria do que os do restante catálogo anterior dos D-A-D, mas o novo álbum foi também bastante bem integrado no alinhamento. E, sem relevante conhecimento prévio de “A Prayer For The Loud”, os novos temas soaram bastante bem ao lado dos clássicos. O que também prova, de alguma maneira, aquilo que a banda também fez questão de demarcar: se o público presente no Hard Club denotava a passagem de algumas primaveras (com poucos jovens, na verdade), os músicos dinamarqueses revelaram enorme compromisso com o concerto, grande vigor técnico e uma energia exuberante e contagiante.

A propulsividade de “Burning Star”, single do mais recente disco, abriu o concerto de forma explosiva.

A propulsividade de “Burning Star”, single do mais recente disco, abriu o concerto de forma explosiva. Pela semelhança de riffs, “Evil Twin” soou logo de seguida. Se a sala reagiu fervorosamente a estas canções, o ambiente de reverência aos D-A-D ficou próximo do fanatismo com duas das jóias da coroa: “Jihad” e “Rim Of Hell”. Pela minha parte, em particular este último tema, foi emocionante, até por relembrar o primeiro contacto que tive com o álbum “No Fuel Left…”, através do programa “Vira o Vídeo”, apresentado pelo saudoso Zé Pedro na RTP2, a algumas horas apenas de celebrar-se o segundo aniversário da sua morte.

Disneyland After Dark a soar “na batata” e o público sobre-aquecido com esta sequência acolheu as primeiras palavras de Jesper Binzer. O frontman da banda introduziu mais um bom tema de “A Prayer For The Loud”, “Nothing Ever Changes”. E, de facto, pouco parece mudar nos dinamarqueses. Jesper continua com um tremendo vozeirão de “bagaço” e o seu irmão esteve dono de um senhor som de guitarra. A Gibson Les Paul Standard (modelo de conversão Larry Corsa) soou como uma rainha e Jacob Binzer teve uma noite inspiradíssima, soando com elegância e desenvoltura. À parte do desfile de baixos excêntricos, Stig esteve sóbrio e eficaz a colar a força das guitarras com a exuberância rítmica de Laust.

A velocidade de execução dos temas (uns bons bpm acima das versões de estúdio) foi então reduzida com “Everything Glows” e o tema título do novo álbum. As coisas arrefeceram um pouco e provavelmente o quarteto de músicos também o fez como forma de gestão do concerto e da sua própria estâmina. Fosse como fosse, logo de seguida surgiu o momento da noite. “Grow Or Pay” foi tocada com uma emoção extraordinária, execução primorosa e acompanhada a plenos pulmões pelo Hard Club. Se a Les Paul de Jacob Binzer havia soado como uma rainha, o músico pegou na icónica Jazzmaster de 1962 e esta soou divina. Esse emblemático som foi ainda emprestado a “The Sky Is Made Of Blues”, mais uma do último álbum.

Stig Pedersen assumiu protagonismo no momento arqueológico da noite, quando o primeiro álbum da banda (“Call Of The Wild”, 1986) foi evocado, através de um medley a tresandar a punk que juntou “Jackie O'” a “Riding With Sue”. Quando depois de “The Real Me”, outra das novas canções, à qual, ao vivo, foi colado o dedilhado spaghetti de “Ghost Riders In The Sky”, soou outro dos maiores clássicos – “Point Of View” – toda a gente estaria pronta para a aclamação que precederia o encore. Mas os D-A-D tinham outros planos. Principalmente, o divertido solo de bateria de Laust Sonne que, em vez de uma demonstração de virtuosismo atrás do kit, promoveu enorme interacção com o público portuense. Uma enorme festança rocker!

O encore, já se esperava, foi o retumbante final do concerto. Sinceramente, poucas bandas no planeta poderiam guardar malhões do calibre de “Bad Crazyness” e “Sleeping My Day Away”, além da balada “Laugh ‘N’ A 1/2”, e dispará-los em sequência no final do concerto. A cereja no topo do bolo. A despedida fez-se com o hino da banda, “It’s After Dark”.

Grande noite. Apenas deixar um par de notas. Se há coisa que gostamos é de visitar o Porto. Sempre agradável, marcante, toda a gente simpática e efusiva (talvez por também revermos sempre bastantes amigos). Depois, o Hard Club. Este espaço não merece as dificuldades que tem enfrentado. Excelente sala, excelente som (até saindo ao corredor para essa fumaça se ouve de forma articulada o que se passa no concerto) e excelente preço pela cerveja (bem tirada em copos 33cl, em vez dos 20 cl de urina mal tirada que é costume ser servida em inúmeras salas aqui na capital). O concerto, a banda e a sala, esteve relativamente cheio, mas merecia ter estado à pinha. Atenção portuenses, apoiem enquanto as coisas estão activas. Recordem-se que já perderam o Hard Club uma vez…

SETLIST

  • Burning Star
    Evil Twin
    Jihad
    Rim of Hell
    Nothing Ever Changes
    Everything Glows
    A Prayer for the Loud
    Grow or Pay
    The Sky Is Made of Blues
    Jackie O’ / Riding With Sue
    The Real Me
    Point of View
    I Want What She’s Got
    Monster Philosophy
    No Doubt About It
  • Bad Craziness
    Sleeping My Day Away
    Laugh ‘n’ a ½
    It’s After Dark