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Excepter: xamanismo electrónico

Excepter: xamanismo electrónico

2014-04-04, Zé dos Bois
Timóteo Azevedo
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Noite de chuva com os Excepter dentro. Invocar fogo dos céus com sintetizadores analógicos e ter a voz de um guia espiritual xamânico em pele hip nova-iorquina.

Reunidos em 2002, em Brooklyn, os Excepter têm crescido ao longo dos anos junto dos circuitos mais experimentais do rock e da electrónica. Tendo sido esta a segunda vez que pisaram o palco da ZDB, tendo actuado nele em 2005, os Excepter trouxeram agora, para além de 9 anos de estrada e mais uns quantos registos adicionados à discografia, o longa-duração “Familiar”, lançado em Janeiro deste ano pela editora Blast First Petite.

Com três “Jon’s” em palco, John Fell Ryan, Jon Nicholson e Jon Williams, sendo que o quarto elemento da banda, Lala Ryan, não pôde estar presente em Portugal, foi em formato trio que os Excepter fizeram aquilo que tinham a fazer: distribuir uma electrónica suja e  hipnótica.  Lá fora, a chuva já rasgava o céu antes de John Fell Ryan apoderar-se do palco com a sua dança da chuva moderna, ao som de poderosos sintetizadores e batidas mutantes.

A quantidade de maquinaria analógica em palco deixa qualquer entusiasta de electrónica ou gear freak prostrado, e, ao vermos a prestidigitação de Jon Williams e Jon Nicholson com os patch cables nos sintetizadores, sabemos que a experiência promete, com o concerto a começar com várias ondas sinusoidais em cascata, a criar phase e overtones. É nestas alturas que a celeuma analógico/digital é silenciada com um dez a zero para o analógico.

O concerto avança com músicas dançáveis, que muitas vezes descambam para o caótico, sem deixar de, tão bem, passar por terrenos do psicadélico. O som é denso, maciço, mas bastante coeso e equilibrado. Nicholson, para além dos sintetizadores, vai contribuindo com camadas de guitarra, e Williams ocupa-se principalmente com os sintetizadores e electrónica. John Fell Ryan, passeia pelo palco, cantando, dançado, tocando maraca. Este surge como uma espécie de líder espiritual, por onde ecoa a voz do espírito de Ian Curtis, mas também onde Genesis P-Orridge e outras figuras mais obscuras do industrial encarnam. Ao fim de algum tempo, há uma falha na electricidade em palco. Estas coisas costumam ser um tiro no feeling do concerto, mas, passado alguns minutos, consegue-se repôr a electricidade, e os Excepter continuam a viagem psiconáutica, como se nada fosse, elevando ainda mais a necessidade de cartase.  Com um pé no industrial e com o outro às vezes num dub mais noise, embora, no caso de Excepter, qualquer uma destas designações seja necessariamente enganadora, o concerto foi uma agradável surpresa: apesar da abordagem mais experimental, barulhenta, e, para alguns ouvidos inexperientes, de difícil digestão, o concerto dos Excepter conseguiu ser divertido e dançável, apesar de haver poucas pessoas a fazê-lo. Há bandas que mereciam mais dos nichos onde se inserem.