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Fat Freddy’s Drop @ Coliseu dos Recreios

Fat Freddy’s Drop @ Coliseu dos Recreios

2016-04-12, Coliseu dos Recreios
Pedro Miranda
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Se faltou algo, o Coliseu não reparou!

Os Fat Freddy’s Drop sempre fizeram por demonstrar um reggae de uma estirpe diferente. Não se tratava apenas das deliciosas inclinações para o soul ou o dub, ou sequer dos ares que traziam da sua nativa Nova Zelândia: as suas canções parecem carregar uma melancolia pouco comum ao género, um alarmante sentido de urgência que encharcava os seus versos de dramatismo, de tal forma que quando Joe Dukie bradava «I can’t eat/I can’t sleep/’Cause I know they’ll be watching me», as palavras assemelhavam-se muito menos a mero relato que a sincero pedido de ajuda.

Ocorre que, naquela que foi a última data da tour europeia do quarto álbum de estúdio, “Bays”, o septeto neozelandês não estava para tais estados de espírito. Daí que, muito em conformidade com aquilo que exigia o público que lotou o Coliseu dos Recreios (do alto dos camarotes não se distinguiam espaços vazios), Fat Freddy’s Drop tenha encetado das mais animadas celebrações, com direito a espectáculos de dança em palco e até tributos a Bob Marley. Faziam-no mais pela destreza dos instrumentos que outra coisa: ao brilhantemente executado MPC de que irradiavam os beats aliava-se uma colorida secção de sopros com trompete, trombone e saxofone, cuja grandiosidade incrementava ainda mais as extravagantes divagações do grupo entre o reggae e o dub, o techno ou o pop.

Cada uma destas curvas parecia melhor dirigida que a anterior, arrecadando aplausos crescentes de uma plateia que se mostrava genuinamente ganha. Misturavam temas de diferentes álbuns numa combinação que parecia, no entanto, destinada, e cada uma das incursões de 7 ou 8 minutos de duração era uma pequena grande demonstração da idoneidade da banda. Destaque para os recortes escolhidos de “Blackbird” (2013) – a faixa título à segunda canção, “Clean the House” à terceira – e ainda para as canções de apresentação de “Bays”, o lead single “10 Feet Tall” e a cerebral “Razor”, que fizeram boa figura no meio das bem mais conhecidas músicas anteriores.

No final, se faltou algo (para além de “Midnight Marauders”) o Coliseu não deve ter reparado. Fat Freddy’s Drop despedem-se da Europa perante ovações a mãos cheias, levando de volta para Wellington a certeza de a terem conquistado. Após surpreendentes duas horas e meia de concerto, o que mais se ouviu foram pedidos por mais.