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Gnod, O Mais Pesado para o Fim

Gnod, O Mais Pesado para o Fim

2016-04-16, Teatro do Bairro, Lisboa
Tiago da Bernarda
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O segundo dia do Lisbon Psych Fest terminou em grande com uma das actuações mais electrizantes do festival.

Os Gnod regressaram a Portugal e, depois de terem passado pelo Café Au Lait no dia anterior, ficaram responsáveis por fechar a mais recente edição do Lisbon Psych Fest. E, que nem um bom whisky, ajudaram a digerir com boa pujança o rodízio de prog rock e psychedelia que foi servido durante os dois dias de festival. As duas actuações anteriores, apesar de dispares, conseguiram captar a atenção do público. Os TAU, recrutados pela Fuzz Club, revelaram-se invocadores de natureza e boas vibrações. A banda nómada de várias nacionalidades, ali algures entre o psych folk de Wishbone Ashkraut e dialectos aborígenes, queria primeiramente deixar o público bem disposto. «Isto é um psych fest! Sorriam!», enquanto brincava com um pedal de citar.

Souberam dominar o palco com um som que já foi reinterpretado milhares de vezes.

The Altered Hours mostraram-se exímios post-punks, com uma estética quase nova-iorquina que invoca Sonic Youth ou até os Sex Bob-omb, a banda fictícia de Scott Pilgrim. Uma revelação impressionante de miúdos irlandeses que souberam dominar o palco com um som que já foi reinterpretado milhares de vezes.

Mas restava a dúvida: como seria a nova prestação dos Gnod ao vivo? Com “Mirrors” recentemente editado, desconhecia-se ao certo como serviriam a nova sonoridade desta banda em constante mutação.

Boas conjunções de rock experimental, que invocam semelhanças a Swans, com post-metal e uns jeitos de voz particularmente grunge.

Devidamente artilhados, apresentaram-se com uma nova formação. Contava-se pelo menos um modular synth, duas baterias, duas guitarras, e baixo. E a voz de Paddy Shine, naturalmente. Voz essa que demorou a ser ouvida devido a alguns problemas de som no início do concerto e que pela segunda ou terceira música, já parecia estar tudo devidamente no lugar. Começou com um som que não se percebia se era um sample de didgeridoo ou um feedback agreste mas, pouco a pouco, “Mirrors” tornou-se algo já decifrável. Boas conjunções de rock experimental, que invocam semelhanças a Swans, com post-metal e uns trejeitos de voz particularmente grunge. Algo mais enraizado a influências dos finais dos anos 90, com nuances industriais que pareceram puxar pelo público desde o início.

Por outro lado, o foco desde o início estava no jogo de percussão. A tensão entre aquelas duas forças que tanto pareciam estar em conflito como alinhadas em sintonia perfeita era quase palpável. A bater as 03h50, a baixista deu o sinal: tinham mais quatro minutos. Foi aí que aquelas duas baterias puxaram pela carroça e entregaram-se de tal forma que os provocaram ligeiros arrepios. A própria banda parecia beber dessa energia. Pobre de quem estava no modular, que andava a berrar para um microfone que não estava ligado, mas que pareceu não lhe fazer confusão. Tem tudo a ver com a libertação de energia e de instigar adrenalina. E, nesse sentido, os Gnod conseguiram triunfar naquela noite.