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Helloween, Pumpkins United: Rise & Fall

Helloween, Pumpkins United: Rise & Fall

2018-12-06, Sala Tejo
Nero
Joana Cardoso
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A digressão de reunião dos Helloween é um espetáculo épico e old school de heavy metal. Os metaleiros nacionais aderiram em massa à chamada das abóboras e viveram uma noite de nostalgia e fervor à causa.

Convém estabelecer alguns pontos prévios e assumir que esta reportagem será absolutamente tendenciosa, fanática. Primeiro, podem saber tudo sobre porque razão houve uma reunião dos Helloween, no artigo que a AS publicou de antecipação ao concerto, para vos poupar a muitas notas históricas e perceberem aí o nosso fascínio com esta banda cujos primeiros anos a tornaram uma das maiores referências no universo do heavy metal. Depois, foi uma tremenda e agradável surpresa ver como os portugueses responderam à chamada das “abóboras”, até por alguma desconfiança inicial em relação a um promotor desconhecido – a Sala Tejo não esgotou, mas esteve muito, muito bem composta e com ocupação de toda a sua área (leia-se, com a cortina puxada até ao fundo da sala) – e essa adesão criou um caloroso ambiente para o público, banda e o próprio som, que não esteve a bater em paredes despidas como já vimos acontecer várias vezes naquele espaço.

Num concerto que se estende por quase três horas, é normal haver altos e baixos (de qualidade e de intensidade), mas os melhores momentos dos Helloween em Lisboa, ofuscaram por completo aqueles menos vibrantes. Também dizer que Michael Kiske tem um carisma e evoca uma era da banda com que Andi Deris não pode rivalizar, mas este formato reunião é capaz de potenciar até os “intrusos” do line up clássico. Frescos pela pausa após a leg sul-americana da digressão, a banda iniciou novo ciclo europeu em Lisboa de forma poderosa, com destaque para a solidez da prestação ininterrupta de Kai Hansen.

Não há segredos em relação ao setlist, programado para que cada um dos protagonistas tenham uma boa fatia do bolo e que tem sido seguido fielmente ao longo da digressão. Os álbuns gémeos “Keeper Of The Seven Keys” assumiram naturalmente os momentos de maior protagonismo durante todo o concerto. A abertura com “Halloween” tratou imediatamente de revelar bom equilíbrio sonoro, as vozes dos dois vocalistas “no sítio” e uma enorme exuberância de guitarras eléctricas – com o aumento do tempo de solos a oferecer uma intenso duelo entre Hansen e Michael Weikath, além de uma miríade de harmonizações, twin guitars e até triplet guitars, nos momentos em que Sascha Gerstner também surgia na frente de palco. Primeiro clássico, primeira tremenda ovação da noite.

E sem pausas ouvimos as passadas dos monstros criados por “Dr. Stein”. A Sala Tejo rebentou num enorme coro, a acompanhar a totalidade do tema. O super single denotava algo que seria confirmado com a passagem das canções, de que na sua grande maioria as canções não foram meras reproduções dos originais, mas revelaram novos arranjos, bem desenvolvidos para as três guitarras, principalmente, mas também para as duas vozes. Além de que, quase sem excepção, os solos de guitarra foram aumentados em vários compassos.

Um início fogoso, ao qual se seguiu o primeiro intervalo, surgindo a animação Seth & Doc, as duas abóboras que nos guiavam pela história da banda, antes de Deris e Kiske surgirem em diálogo. «Estamos carecas, mas ainda temos pinta», afirmavam. Respondendo a Deris, sobre qual era a sua expressão favorita, responde Kiske com humor…  “I’m Alive”. O tema que se seguia à abertura do primeiro “Keeper”, ficando apenas Kiske na voz, soou na batata. Para defender o vocalista de desgaste afinação esteve mais baixa, em relação ao disco, e assim o som esteve mais pesado. Essa densidade na distorção das guitarras fez a ponte para depois Deris cantar sozinho a sintetizada “If I Could Fly” e “Are You Metal?”, outro tema da sua era de afinação baixa e som modernizado. Peso plástico. A questão da autenticidade e da atitude, trocadas por ferramentas de produção, é um dos maiores problemas que grassam no metal contemporâneo mais mainstream

Com Kai Hansen a assumir o protagonismo e as imagens de “Walls Of Jericho”, havia chegado o momento para o speed metal e foi o coração do concerto. Glorioso. Explosivo. Épico.

Se fosse preciso provar tal questão, “March Of Time” foi um dos malhões da noite. Debilmente contrastado por “Perfect Gentleman”. Isto antes de surgir nas animações no ecrã a evocação de “Walls Of Jericho”, ouvir-se o jingle de “Halloween” e Hansen assumir o protagonismo para, cantando no seu típico sotaque, liderar a banda na tríade “Starlight”, “Ride The Sky”, “Judas” e “Heavy Metal (Is The Law)”. Havia chegado o momento para o speed metal e foi o coração do concerto. Glorioso. Explosivo. Épico.

Como prometido por Kiske, “A Tale That Wasn’t Right” foi a única balada da noite. Era preciso alguma descompressão. Ouviu-se o solo de bateria de Daniel Löble, que em momentos colou os seus fills às imagens que se viam sampladas do falecido “Mr. Smile”. De resto, Löble esteve competente e sólido, mas discreto. Tal como Markus Grosskopf. “A Little Time” e “How Many Tears” tornaram a fazer a era inicial da banda sobre os últimos anos, com “Waiting For Thunder” e “Sole Survivor” a darem jeito para ir buscar cerveja…

O final estava próximo e o primeiro encore, com “Eagle Fly Free” foi tremendamente intenso, com muita entrega do público aos coros hiper agudos. Naquele volume ninguém desafina, todos cantam bem! Depois a versão integral do clássico “Keeper Of The Seven Keys” foi épico. Nestes temas percebeu-se distintamente o trabalho do técnico, constantemente a puxar para a frente da mistura os instrumentos sob foco, o que fez durante todo o concerto, em vez de se aburguesar na mistura após a equilibrar. Num tema quase prog como “Keeper…”, com várias chamadas de cada um dos músicos, o final de harmonização a duas vozes foi qualquer coisa. No final, Hansen apresentou os vocalistas misturando, justamente, os nomes: Andi Kiske e Michael Deris.

Para descrever a energia positiva do segundo encore todas as palavras seriam poucas. Hansen surge sozinho e já se sabe… “Future World”. Tema que foi capaz de puxar até aquelas carraças do bar para a frente do palco. No final, “I Want Out” foi uma explosão de alegria. Ninguém queria ir embora…

SETLIST

  • Halloween
    Dr. Stein
    I’m Alive
    If I Could Fly
    Are You Metal?
    March of Time
    Perfect Gentleman
    Starlight
    Ride the Sky
    Judas
    Heavy Metal (Is the Law)
    A Tale That Wasn’t Right
    Pumpkins United
    Livin’ Ain’t No Crime
    A Little Time
    Waiting for the Thunder
    Sole Survivor
    Power
    How Many Tears
  • Invitation
    Eagle Fly Free
    Keeper of the Seven Keys
  • Future World
    I Want Out