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JUR 01 | Pega Monstro, Rainhas Sónicas

JUR 01 | Pega Monstro, Rainhas Sónicas

2015-10-22, Musicbox, Lisboa
Bernardo Carreiras
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O Jameson Urban Routes arrancou no passado dia 22 de Outubro no Musicbox, com concertos de Cave Story, Galgo e Pega Monstro. O fim da noite ficou entregue a Pilooski e Magazino.

A edição deste ano do Jameson Urban Routes, festival que surgiu em 20o6, começou esta quinta feira e trouxe mais uma vez algumas das novas tendências da música moderna ao Musicbox e ao Cais do Sodré. Com entrada gratuita, o primeiro dia viu a casa encher, como já nos tem vindo a habituar, diga-se de passagem,  numa noite repleta de boa música, inspirada pela nuvem ébria do whisky Jameson que não faltou na mão do público.

O primeiro concerto esteve a cabo dos Cave Story, a banda incendiária da cena das Caldas da Rainha. Este trio formado por Gonçalo Formiga (voz e guitarra), Pedro Zina (guitarra baixo) e Ricardo Mendes (bateria) iniciou as hostes do festival  ao som do seu estilo pós-punk característico. O EP “Spider Tracks” foi o que mais se fez ouvir, com destaque para músicas como “Southern Hype” ou o single “Richman”, que presta homenagem a Jonathan Richman, figura discreta do punk americano. A atitude energética da banda jogou a seu favor. Os três músicos mostram, em palco, uma cumplicidade e uma confiança cada vez mais notórias, provando que o punk rock ainda aí anda e pode ser reinventado todos os dias. As novas sonoridades exploradas neste EP deram espaço a maiores momentos de improviso, tornando o concerto da banda muito mais dinâmico e fluído. Com o peso aos ombros de tocar num espaço como a Musicbox, os Cave Story mostraram o porquê de ser uma das bandas que mais entusiasma o público português.

Chegaram, viram e venceram. Os Galgo são uma das bandas mais recentes do panorama musical e já estão a deixar o público português louco com as suas guitarras matemáticas , as camadas caleidoscópicas de synth  e um baixo e bateria com uma energia de outro mundo. Acabado de sair o seu primeiro EP, intitulado apenas de “EP5”, a  premissa não podia ser a melhor para um concerto nesta sala. As músicas ainda são poucas, mas as poucas que cá andam já entoam na cabeça de toda a gente e  arrastam consigo uma considerável legião de fãs da banda. Com singles como “Torre de Babel” ou “Dromomania”, estes miúdos de Oeiras pintaram de cores psicadélicas o Jameson Urban Routes, à medida que vão escalando, a pouco e pouco, para uma posição de imponência na música portuguesa. Vontade e jeito não lhes falta e assim o provam a cada concerto que dão, onde as suas influências de dance e  math rock se aliam a uma linguagem instrumental densa e repleta de improviso. A descarga energética que deixam em palco é invejável  e a rapidez com que saltaram para o foco da cena musical portuguesa faz justiça ao nome da banda.

As irmãs Maria e Júlia Reis fizeram um dos melhores álbuns deste ano. Vindas da editora Cafetra (que ultrapassa todas as barreiras de uma editora comum para ser algo mais, uma verdadeira comunidade de músicos, com uma força invejável e uma vontade de marcar pela diferença ao mesmo tempo que  premeia a música portuguesa), as Pega Monstro conseguiram com este “Alfarroba” um feito extraordinário. O rock cru e directo ao assunto alia-se, de forma genial, a uma pop dreamy e repleta de coisas a acontecer ao mesmo tempo. O universo lírico é ainda de destacar pela sua originalidade e irreverência. As manas Reis mostraram-nos um concerto de rock capaz de pôr qualquer um a um canto. Foi com o single “Branca” que abriram. Passando por músicas como “Braço de Ferro”, “Não Consegues” ou “Estrada”, o destaque vai para “Amêndoa Amarga” e os seus 6 minutos de viagem no universo do lo-fi. Entre as músicas de “Alfarroba”, sobrou ainda espaço para temas antigos e um inédito no final do concerto. Apoiadas por companheiros da Cafetra, como o músico Éme ou os Iguanas, que se encontravam na plateia, as Pega Monstro fizeram do Musicbox a sua casa e mostraram a todos o porquê de se encontrarem, depois deste novo álbum, na UPSET THE RHYTHM, label do Reino Unido. Em palco, as  vozes aliam-se de forma trepidante à bateria fervorosa de Júlia e à guitarra de peso de Maria. Mais do que um concerto, foi um verdadeiro festival do poder da música portuguesa actual.

O after party ficou entregue a Pilooski, conhecido por pisar as principais pistas de dança do mundo e pelos seus 7 Eps, que contam com remix de nomes como Tame Impala ou Lcd Soundsystem, e Magazino, que se encontra na cena musical desde o boom da música electrónica de dança. Juntos, estes DJ prolongaram a festa para os resistentes deste primeiro dia de Jameson Urban Routes.