Iceage, Modernismo Punk
2018-10-27, Jameson Urban Routes, Musicbox LisboaO novo capítulo dos Iceage é marcado pela inexistência de remorsos, compaixão e sentido de humor.
De regresso a Portugal, depois da presença no festival Paredes de Coura em 2015, os Iceage apresentaram-se no Musicbox (no âmbito do Jameson Urban Routes) com o novo álbum “Beyondless” e uma atitude punk bem mais intensa. Em comparação com o anterior “Plowing Into the Field of Love”, a banda dinamarquesa está mais agressiva e também mais densa, entrando casualmente com o pé no território de Nick Cave ou King Krule.
A performance em palco do vocalista Elias Bender nunca deixa de ser teatral – o sofrimento expresso na lírica entra igualmente em sinergia com os movimentos corporais amargos e a voz cavada. Em momentos, a sua própria sanidade quase que se perde no meio do som, mas os reality-checks (como quem diz, uns quantos socos na própria cara) mantêm-no na linha. Nunca está sossegado e fala, literalmente, com as mãos.
Além da guitarra de Johan Surrballe, do baixo de Jakob Tvilling e da bateria Dan Kjær, os Iceage incorporam mais três instrumentos em palco: um sintetizador, um violino e um saxofone. Os dois últimos dão um toque alternativo que eleva o punk destes dinamarquesas até um nível contemporâneo, modernista. Amplificam as progressões iniciais e proporcionam finais mais dramáticos, além de que é altamente satisfatório observar um violinista perder a cabeça com movimentos em alta velocidade durante as secções intermédias onde o punk rock é realmente despejado.
A setlist foi maioritariamente baseada no mais recente álbum. “Hurrah” foi a primeira faixa a ser descarregada num Musicbox bem composto, seguida de “Pain Killer”, dona de um refrão que se cola à memória na primeira audição (e que até agora continua lá). Existem inícios abruptos e imediatos, mas também composições iniciais progressivas com a duração perfeita. Criam um clima de suspense sem cair no enfadonho. Exemplo em “Ecstacy”, onde a progressão inicial ganhou imenso poder com a utilização do violino e o baixo marcou acentuadamente o passo entre as notas da guitarra. Também em “Morals”, onde o início é lentamente dominado pela bateria e saxofone.
Em comparação com as versões de estúdio, as músicas são muito mais pujantes e a teatralidade de Elias, já referida, contribui consideravelmente para a atmosfera que não conhece remorsos, compaixão e sentido de humor. Pico de performance em “Catch It”, com uma entrega excelente, uma resposta igualmente calorosa do lado da plateia e um break prolongando a meio antes da ferocidade final. Um exclusivo ao vivo, visto que no álbum, a faixa encontra-se mais simplificada.
No encore ouvimos “Plowing into the Field of Love”, num final digno, mas que chegou cedo demais.
SETLIST
- Hurrah
Pain Killer
Under the Sun
Plead the Fifth
The Lord’s Favorite
Thieves Like Us
Ball of gillead
The Day the Music Dies
Take It All
Beyondless
White Rune
Ecstacy
Morals
Power Ballad
Catch It - Plowing into the Field of Love