Quantcast
Jibóia rende ZBD com Masala

Jibóia rende ZBD com Masala

2016-02-12, Galeria Zé dos Bois, Lisboa
Pedro Miranda
8
  • 8
  • 9
  • 8
  • 9
  • 9

Álbum novo aclamado em casa à pinha. Torto e Jibóia em grande.

Numa noite em alguma chuva e bastante frio se abatiam sobre o povo lisboeta, não deixava de se mostrar surpreendente a dimensão do grupo que se aglutinava à porta da Galeria Zé dos Bois. Não que a afluência generalizada não se justificasse, uma vez que, afastado dos palcos da cidade havia já algum tempo (pelo menos em nome próprio), Jibóia preparava-se para estrear em concerto o seu mais recente disco, “Masala”. E mesmo que, findas as apresentações, o público tenha sido o que mais agradecido deixou a ZDB, a comparência em  massa que fez encher o modesto recinto terá servido de merecido elogio a um visivelmente satisfeito Jibóia, que serpenteava pelas imediações trocando impressões com os fãs antes do início do espectáculo.

Espactáculo esse aberto pela mão dos Torto, trio instrumental que deu valorosas provas da sua diligência técnica e coesão enquanto grupo. Congregando a dinâmica de uns Explosions in the Sky com a malícia que facilmente caberia num disco de Slint, apresentaram o seu último álbum, Escabroso, com uma destreza temperamental quase infalível, como se de banda sonora de um emocionante thriller se tratasse – com elaboradas mudanças de compassos, crescendos emotivos e clímax incendiários. Tendo subido ao palco como o claro “elo mais fraco” da noite, os Torto abandonaram-no com a certeza de terem conquistado a audiência com a sua energética performance.

Jibóia conferiu às suas novas faixas um esplendor presencial irreproduzível em disco

Completado na bateria por um Ricardo Martins especialmente inspirado, que o acompanhava a cada passo com dedicação e furor admiráveis, Óscar Silva dava nova vida ao seu debutante por meio da guitarra e do sintetizador. Mesmo sendo claro pelas reacções às primeiras notas que, para os fãs, “Masala” já não era novidade, Jibóia conferia às suas novas faixas um esplendor presencial irreproduzível em disco: o baixo titânico e as batidas impetuosas de “Lisboa” ou “Ankara” criam o contexto perfeito para as divagações da cobra à guitarra, tal como fazem os caricatos padrões de “São Paulo”. Com a mesma eficácia atinge-nos ao teclado, expelindo inebriantes névoas de som em canções como “London” ou “Oslo”.

De facto, Jibóia parecia ter tudo preparado para fazer da estreia de “Masala” uma experiência transcendente: cantava e dançava sem inibições, como se se deixasse levar de assombro pela música que ele próprio produzia; tocava os seus instrumentos com toda a técnica capaz de conjurar, fazendo-se obscurecer pela gama de pedais que o rodeavam em palco; aliava tudo isto a um ecléctico e desconcertante jogo de luzes e projecções, concretizando diante dos olhos de uma audiência incessantemente vibrante um projecto que parecia, por instantes, ter existido antes apenas em diferido.

Deixou o palco com a mesma postura que lá exibiu durante todo o concerto, de poucas palavras e com um tímido sorriso de agradecimento no rosto, fruto da convicção de trabalho bem feito. Insatisfeito pela brevidade do concerto (de igual ou menor duração que aquele dos próprios Torto), o público ainda pedia mais, cultivando esperanças de algum tipo de encore que desse continuidade ao concerto que se via esmorecer. Não houve remédio certo – depois de tamanhas mostras de proficiência e exuberância, restou esperar ansiosamente que as voltas da cobra a trouxessem depressa de volta à capital.

SETLIST

  • Ankara
    São Paulo
    Lisboa
    Marrakech
    Dubai
    London
    Oslo
    Luanda