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JOE BONAMASSA

2012-02-21, CCB, Lisboa
Nero

“Two Minutes To Midnight”. A introdução para o concerto, através dum clássico de Iron Maiden, diz muito do carácter musical de Joe Bonamassa. “Slow Train” serve de abertura ao concerto, tal como o faz ao mais recente álbum do guitarrista, “Dust Bowl”. E o californiano, se tal ainda fosse necessário, tratou de provar que está numa forma intratável durante duas horas em que só saiu de palco para acolher a ovação e o encore.

Veio com Carmine Rojas, no baixo, e Rick Melick, nas teclas, músicos que gravaram o último disco. E na bateria, se Bonamassa foi o fogo da caldeira, Tal Bergman foi a locomotiva monstruosa em movimento avassalador e perpétuo.

Só após uma boa meia hora, já depois do primeiro momento solo partilhado com Rick Melick e que serviu de entrada a “Sloe Gin” [original de Tim Curry], em que ecoam as palavras “I’m so damn lonely”, percebeu Joe Bonamassa que não estava só com a guitarra e falou com um CCB lotado. Confessa que decidiu começar a tour em Lisboa, por ser perto da Califórnia “17 horas de avião, nada mais” e que lamenta ter demorado 23 anos a visitar o nosso país – fazemos as contas, aos 12 anos já tocava com B.B. King… mostra-se um bom storyteller, como um bom blues man deve ser, e confessa que um concierge no hotel em que esteve hospedado lhe disse “vocês é aquele tal de John Henry que anda aí pelos cartazes na cidade”. Naturalmente é tocada a “Ballad Of John Henry”, bom e o que faltava demolir é deixado para a primeira utilização do Theremin – haverá algum músico presente na sala que não tenha ficado com a vontade de comprar um?

“Lonesome Road Blues” coloca de novo Tal Bergman no centro das atenções, com um solo dividido com Bonamassa colossal – um diálogo que irá repetir-se na entusiasmante e divertida rendição de “Young Man’s Blues”, standard de Mose Allison feito famoso pelos The Who. “Woke Up Dreaming” é ponto intermédio e conduz ao solo de guitarra eléctrica depois do assombro que fizera com a acústica na introdução do tema.

“Mountain Time” antecede o esperado, mas nunca tão merecido encore. Para o final a deslumbrante cover de “Bird On A Wire”, original de Leonard Cohen, com o pico da demonstração de uma dinâmica de banda, no uso de volumes e intensidades, que durante todo o concerto foi exposta duma forma a roçar o sobrenatural. E, claro, “Just Got Paid”, a versão do original de ZZ Top que Bonamassa mistura com um tipo de tributo a Jimmy Page, não podia faltar – famosa a actuação no Royal Albert Hall com dois bateristas, mas e repetindo-me Tal Bergman chegou bem sozinho. Wow!

Entre a seriedade, naturalidade, diversão, evocações de riffs de Led Zeppelin ou a forma como notamos a influência mesmo de um Gary Moore na postura com a guitarra de Bonamassa [de resto, foi homenageado com uma cover de “Midnight Blues”], a suspensão das leis da física que moldou como quis no solo de guitarra acústica, tudo vai deixando a sensação de que Lisboa está a ver o concerto do ano.

Exagero dirão os que não conhecem, maldição dirão os que não foram, mas os que esgotaram o CCB sairam com a sensação de que presenciaram algo indescritível – um daqueles momentos em que a guitarra elimina qualquer dúvida, de que foi através de si que foi erigido o blues e o rock e que músicos como Joe Bonamassa têm o toque dos deuses ou que foram soprados à nascença pelo espírito de mil fantasmas do Mississippi.

 

SETLIST

  • “Slow Train” [Dust Bowl, 2011]
  • “Last Kiss” [The Ballad Of John Henry, 2009]
  • “Midnight Blues”
  • “Dust Bowl” [Dust Bowl, 2011]
  • “You Better Watch Yourself” [Dust Bowl, 2011]
  • “Sloe Gin” [Sloe Gin, 2007]
  • “The Ballad Of John Henry” [The Ballad Of John Henry, 2009]
  • “Lonesome Road Blues” [The Ballad Of John Henry, 2009]
  • “Happier Times” [The Ballad Of John Henry, 2009]
  • “Steal Your Heart Away”, original de Bobby Parker, [Black Rock, 2010]
  • “Blues Deluxe”, original de The Jeff Beck Group, [Blues Deluxe, 2003]
  • “Young Man’s Blues”
  • “Woke Up Dreaming” [Blues Deluxe, 2003]
  • “Mountain Time” [So It’s Like That, 2002]
  •  
  • “Bird On a Wire”, original de Leonard Cohen, [Black Rock, 2010]
  • “Just Got Paid”