Quantcast
JUR: A competência de Wild Beasts

JUR: A competência de Wild Beasts

2016-10-24, Jameson Urban Routes, Musicbox
Pedro Miranda
6
  • 6
  • 5
  • 6
  • 8

O grande cabeça-de-cartaz do Jameson Urban Routes não fez mais que o que lhe cabia – e, por falta de mais, pecou.

Há muito a dizer sobre a interpretação de temas ao vivo: há quem reze para que se mantenham fiéis ao trabalho de estúdio; há quem considere as performances ao vivo uma obra de arte em si mesma e, por isso mesmo, prefira reinvenções daquilo que já está escrito na pedra; há ainda aqueles que se contentam com um pedaço de cada bolo e, como não poderia deixar de ser, aqueles para quem o meio é indiferente, desde que se atinja os resultados necessários. De qualquer das formas, é de algo mais que vão à procura as legiões de fãs que todos os dias comparecem em salas de concerto para assistir aos seus grupos favoritos – de outra forma, dita a razão, contentar-se-iam com os discos e as reproduções inesgotáveis, sempre à mão.

Seria então normal esperar que, coroados como o grande acto a antecipar do Jameson Urban Routes, os Wild Beasts trouxessem esse algo mais à baixa lisboeta. Mais que isso, tudo indicava que o fariam: perante sala cheia e com disco novo e acabado de sair, tinham o necessário para, apoiados na sua já volumosa discografia de base, apostar numa mescla de temas novos e antigos para uma performance memorável. O que obtivemos ao invés disso foi muito menos inspirador – um espectáculo sólido tecnicamente, mas desprovido de emoção ou apelo supra-melódico que o justificasse. De facto, os Wild Beasts não fizeram mais que o que lhes cabia, não no sentido de um cabeça de cartaz pronto a saciar os seus espectadores, mas no de grupo de indie rock para vir tocar algumas canções a uma sala num país que não o seu – e por isso, assentou na mediocridade.

Não ajudou, sejamos justos, o facto da sua música não dar propriamente azo a uma reimaginação ou erupção excessiva em palco. Os temas sucediam-se, um a seguir ao outro, sem grandes falhas a apontar, mas também longe de qualquer coisa que se assemelhasse sequer ao ímpeto performativo ou à entrega que se espera de um colectivo de rock’n roll ao vivo. Um estranho silêncio pontuava os intervalos entre as canções, durante os quais uma piada ou outra dificilmente disfarçavam a insuficiência da maioria dos temas que passavam, e as canções de “Boy King”, afinal a grande novidade a ser testemunhada, poucas vezes passavam o teste da exibição ao vivo (a introdutora “Big Cat”, um tema notoriamente esquelético na sua composição, foi prova disso mesmo).

Para um grupo de indie rock moderno temperado a sabores de electrónica e synthpop, não estiveram mal, e as suas virtudes estão bem à vista: exibem uma qualidade e mistura de som impressionantes, coesão notável entre os seus membros e, para melhor ou para pior, uma capacidade afinadíssima de reproduzir ao vivo os temas que montam em estúdio. E para alguns fãs, isso terá chegado, não obstante o burburinho que abunda invariavelmente nas fileiras mais distantes do palco do Musicbox. Mas em matéria de acto em destaque e em nome próprio num dos mais renomados festivais urbanos do país, não foi difícil perceber que se poderia pedir mais.

Fotos: Alípio Padilha