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Kelis, nova alma

Kelis, nova alma

2014-07-10, Passeio Marítimo de Algés, Lisboa
Nero
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Os Arctic Monkeys foram um murmúrio distante para os poucos, mas devotos, fiéis do soul que se prostraram diante de Kelis.

O mega groove do baixo e a voz rouca de Kelis, com algo do timbre de Des’ree, quase bastariam para tornar este o melhor concerto do primeiro dia de Alive, mas a nova-iorquina fez ainda questão de extravasar tanta sensualidade quanto a dos sopros que a acompanharam.

Com o seu neo soul de regresso à melhor forma, a cantora apresentou muito do seu novo álbum, “Food”, com temas como “Breakfast”, “Cobbler”, “Floy” ou “Jerk Ribs”. A solidez do disco feito sob a tutela de Dave Sitek transborda para todos os temas e é capaz de impulsionar mesmo erros de carreira como as coisas de “Flesh Tone” ou “Tasty”, em que Kelis, que nunca fez o que lhe dizem, mas o que lhe apetece, é certo, perdeu tempo e encanto. Mas o concerto no Alive compensou tudo, e para isso bastaria ouvir a monstruosidade dinâmica instrumental que o single do álbum anterior, “Acapella”, ganha com uma banda em vez dos beats de David Guetta.

O timbre rouco e a sensualidade latente são prova de que Kelis carrega o soul no seu ADN

Kelis parece ter encontrado o seu lugar de conforto sonoramente, agora faltará que se proponha a trabalhar mais o seu potencial vocal, para deixar de ser uma promessa e tornar-se uma diva. Apesar de toda a entrega e de nunca ter acusado o facto de estar a tocar à hora do headliner, em termos meramente musicais, a nova-iorquina precisa de dar um pequeno salto e conseguir, considerando as suas próprias musas, liderar mais a banda com a voz, em vez de se refugiar um pouco atrás da cortina de groove instrumental que a acompanha. Até porque, relembrando o ínicio, o seu timbre já tem naturalmente o soul no ADN.