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Mastodon, A Sombra de Leviatãs

Mastodon, A Sombra de Leviatãs

2019-02-17, Sala Tejo, Altice Arena
Nero
Inês Barrau
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Os Mastodon fecharam a digressão de “Emperor Of Sand” em Lisboa. O mesmo peso e ferocidade técnica de sempre. Os Kvelertak abrilhantaram a noite.

A costumeira abertura ao som desse clássico imortal de Gene Kelly, “Singin’ In The Rain”, foi estranhamente apropriada ao quadro meteorológico que se fechou sobre Lisboa na tarde de Domingo. Também os Mastodon fecharam o último capítulo dos seus quase vinte anos de carreira, terminando a digressão de promoção ao multi-aclamado “Emperor Of Sand” no nosso país. E fizeram-no através de um vendaval de riffs, como de costume.

Antes deles, os Mutoid Man foram recebidos com entusiasmo, mas sendo honesto, apesar do evidente pedigree do trio de músicos, se estivessemos a falar de uma banda portuguesa seríamos inclementes com o quão “average” são os temas.

KUH-VELL-ER-TACK

A segunda proposta da noite foi de outra estirpe. Como já dissemos em ocasiões anteriores, Kvelertak (Kuh-vell-er-tack) é uma banda da Noruega que toca música rock. É desta forma simples que a banda se apresenta no seu website oficial. E o rock dos noruegueses é também simples, como é epítome do bom rock. Esta é uma forma de o dizer. Outra forma é: se curtes AC/DC, DAD, Norwegian Black Metal, Celtic Frost, Thin Lizzy, The Who, sleazy rock e, lá no fundo, és membro do KISS Army, és dos Kvelertak e és a Best Band in Town!

Em comparação com o concerto que deram em Lisboa no ano passado, os noruegueses tinham agora mais público do seu lado e usufruíram de maior entusiasmo em torno da sua actuação. Ivar Nikolaisen, o vocalista que substituiu o fundador Erlend Hjelvik, a seguir ao final da tour com os Metallica, não soou com a mesma força ébria, nem com a mesma potência. As guitarras soaram enroladas e o volume esteve algo atenuado, sendo que o volume e a articulação das guitarras são factores determinantes num concerto com três guitarristas e com o cariz rocker dos noruegueses.

Ainda assim, a garra dos músicos, o dinamismo das canções e o quão cativantes são (mesmo cantadas em indecifrável norueguês), tal como no ano passado, abrilhantaram a noite.

MOBY DICK

O primeiro sinal de ferocidade foi dado imediatamente com “Iron Tusk”. Já agora, continuando com o uso abusivo de analogias, essa besta de canção colocou o foco do concerto em “Leviathan”, o segundo álbum dos norte-americanos, inspirado no célebre romance de Herman Melville. Seria o álbum mais representado na setlist, tendo sido tocados também os temas “I Am Ahab”, “Megalodon”, “Aqua Dementia” e “Blood And Thunder”, que encerrou o concerto.

Depois de 2017, e seguindo a banda ao vivo desde cerca de 2006 ou 2008, há uma sensação que se repete a cada concerto. Não é exactamente sobre as composições (embora esse assunto pudesse ser debatido), mas num sentido estético do som, na sua coloração, no espectro harmónico de guitarras e bateria. A sensação de que os Mastodon soam cada vez mais a Metallica. Será algo normal. Afinal, por mais que se tenha tornado “bem” bater-lhes, a verdade é que os Metallica lançam uma sombra sobre o metal norte-americano tão densa como os Celtic Frost sobre o metal europeu.

Dito isto, a banda até esteve bem colada às suas raízes , como afinal de contas se pode constatar pela setlist, talvez por terem feito várias das datas da digressão com Scott Kelly. Lisboa não teve a sorte de ver o homem dos colossais Neurosis, mas em conversa com a AS, nos bastidores do concerto, Bill Kelliher revelou-nos a vontade de fazer um disco em colaboração com o influente músico.

Voltando ao concerto. Um enorme som de guitarras, mais espantoso se pensarmos que, por exemplo, Kelliher se limita a usar uma Line 6 Helix, ligada em DI (os amps, entre os quais o infame ButterSlax não andam em tour). Sem grandes pausas, sem grandes conversas. Os Mastodon mimaram-nos com um tremendo set que procurou fugir do óbvio. Por exemplo, ao serem tocadas “Chimes At Midnight” e “Ember City”, em vez das mais orelhudas “The Motherload” e “High Road” do anterior álbum. A despedida foi meio bizarra. Final da tour, umas curtas palavras de gratidão e «vamos deitar que as visitas querem ir embora».

Agora, após a digressão de celebração dos dez anos de “Crack The Skye”, os Mastodon vão trabalhar no próximo disco (com ou sem Kelly). Espera-se que não demorem outra meia década a visitar-nos.

SETLIST

  • Iron Tusk
    March of the Fire Ants
    Mother Puncher
    Chimes at Midnight
    Steambreather
    Precious Stones
    Sleeping Giant
    Toe to Toes
    Ghost of Karelia
    Capillarian Crest
    Black Tongue
    I Am Ahab
    Ancient Kingdom
    Ember City
    Crystal Skull
    Megalodon
    Spectrelight
    Aqua Dementia
    Crack the Skye
    Blood and Thunder