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Metallica, À Sua Maneira

Metallica, À Sua Maneira

2018-02-01, Altice Arena, Lisboa
Nero
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Não se pode escrever Metallica sem metal. As memórias de um dos concertos mais marcantes dos gigantes do rock em Lisboa.

Que fique já dito que o concerto de Lisboa, que abriu a leg europeia da Worldwired tour, cumpriu os requisitos que se exigem à maior banda de metal do mundo. Revelador do impacto superlativo que os Metallica continuam a provocar, álbum após álbum, a Altice Arena fez coro, logo de início “Hardwired” e “Atlas, Rise!”, peças do recente “Hardwired… To Self-Destruct” que, naturalmente, ocupou a maior fatia da setlist. E se a atmosfera dentro do pavilhão já estava em polvorosa, a explosão sucedeu com a implacável “Seek & Destroy”.

A viagem ao passado prosseguiu com “Harvester Of Sorrow” e “Welcome Home (Sanitarium)”. “Harvester Of Sorrow” poderá não ser um dos temas mais consensuais de “…And Justice For All”, mas a sua estrutura de canção “de estádio” manteve todo o público em uníssono com a banda. Pessoalmente, permanece como um dos temas mais gratos dos Metallica, fazendo sempre evocar as imagens do infame Monsters of Rock de Moscovo, quando, a 28 de Setembro de 1991, milhares de pessoas se juntaram ao muro de “amplificação” que vociferou a sua liberdade e aclamou aí os Metallica como uma das maiores bandas de sempre em todo o mundo.

A setlist fez tabula rasa ao período entre os álbuns “Load” e “Death Magnetic”.

Mas o seguinte arco de temas, exceptuando “For Whom The Bell Tolls”, exclusivamente dedicado ao mais recente álbum, relembrou-nos que os Metallica, no final de tudo, não são deuses. O concerto mergulhou em algum marasmo e chegou a ser caricato o número à Toca Rufar (com todo o respeito pelo projecto cultural português) no final de “Now That We’re Dead”. No final de contas, “Seek & Destroy” foi o único tema do agressivo álbum de estreia a marcar presença na actuação de Lisboa. Talvez porque a fúria necessária para o executar em palco seja uma exigência demasiado pesada para idade dos músicos, o que se reflecte de, alguma forma, em “Hardwired… To Self-Destruct”, por mais que este disco tenha pontos de contacto com o primeiro álbum. E só assim se entende que o período entre “Load” e “Death Magnetic”, 12 anos da vida banda, tenha sido completamente colocado de parte no concerto. Nem um riff para amostra!

Trujillo liderou o público na revolta pela recente perda do Zé Pedro. Um momento inolvidável!

Mas o melhor da noite estava guardado para fazer explodir as emoções do público. Agora que tudo foi dito e repisado, passando a criar, à boa maneira portuguesa, polémica de sobra, a verdade é que, a homenagem a Zé Pedro e aos Xutos, apanhou, na altura, toda a gente de surpresa. Galvanizando e emocionando qualquer pessoa que esteve no concerto e tenha um pingo de coração. Pouco importa se o vão fazer em todos os países, recorrendo a ícones locais, pouco importa que tenha sido ou não uma versão que os próprios Xutos faziam em vez de um original. Naquele momento, Trujillo – podem tirar o homem do punk, mas não podem tirar o punk do homem – liderou os rockers ali presentes na revolta pela recente perda do Zé Pedro. Tal como, passe o exagero na analogia, os Metallica deram voz à revolta comprimida da juventude soviética em 1991. E, desta vez, ofereceram um momento irrepetível e uma memória inesquecível a todos os que estiveram no concerto.

A partir daí, o concerto tornou-se num exercício de manutenção da apoteose. Com uma rajada de clássicos como “Creeping Death”, “Sad But True” (hoje em dia possivelmente o tema mais pesado dos Metallica), “One” e “Master Of Puppets”, evocando o novo álbum uma vez mais, pelo meio, através de um dos seus pontos altos, “Moth Into Flame”. Infelizmente, o som esteve sempre num nível de volume algo reduzido, e o equilíbrio na mistura foi peculiar… Talvez para defender Lars Ulrich e a sua estranha performance no bombo (a maior parte do tempo apenas usado nas acentuações de pratos) e extremando os cacofónicos solos inundados de wah wah de Kirk Hammett. O James Hetfield é que continua um leviatã intratável!

Com os seus altos e baixos, este concerto provou que os Metallica se querem em concertos individuais e não em festivais.

SETLIST

  • Hardwired
    Atlas, Rise!
    Seek & Destroy
    Harvester of Sorrow
    Welcome Home (Sanitarium)
    Now That We’re Dead
    Dream No More
    For Whom the Bell Tolls
    Halo on Fire
    Am I Evil?
    Creeping Death
    Moth Into Flame
    Sad but True
    One
    Master of Puppets
  • Spit Out the Bone
    Nothing Else Matters
    Enter Sandman