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Mr. Big em “grande” no Hard Club

Mr. Big em “grande” no Hard Club

2011-09-26, Hard Club, Porto
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Pela primeira vez em Portugal, no Hard Club, a banda mostrou-se como o vinho do Porto.

Cerca das 21h30 as notas que anunciavam os berbequins fizeram rugir o público presente no Hard Club. Os Mr. Big estrearam-se em Portugal com um início fabuloso, a pontificar “Daddy, Brother, Lover, Little Boy”. E é mesmo espantoso ver os solos com os berbequins, por mais batido que seja. Paul Gilbert arranca o primeiro momento de protagonismo com um pequeno solo que irá abrir outro clássico de “Lean Into It”, “Alive And Kickin’”, no qual faz o solo de guitarra com os dentes! Depois, para destruir completamente o público, a banda toca “Green-Tinted Sixties Mind”, não há quem não se deslumbre com aquele riff de abertura ao tema.

Antes que o público pensasse que iria ouvir integralmente o segundo álbum da banda surge então o primeiro single do último disco “What If…”, que motivou esta digressão. “Undertow” foi bem acolhido, afinal o público já estava completamente entregue à banda. E em sequência surge também o segundo tema do mesmo álbum, “American Beauty”. As emoções acalmam o tempo suficiente para perceber que Eric Martin adoptou uma atitude defensiva, com a voz um pouco por baixo dos instrumentos para controlar/disfarçar aquelas notas que já não atinge com a mesma facilidade de há 20 anos!

A regressão musical, essa, torna a surgir com “Take Cover” do álbum que na altura marcou a separação de Paul Gilbert dos Mr. Big e em jeito dramático a banda toca a grande balada “Just Take My Heart”. O público canta com saudade um tempo em que mesmo o romantismo tinha mais substância. Azeite? Sim, mas é sabido o título dado ao concerto de Bon Jovi aqui na Arte Sonora. Para compensar a suavidade melosa surge, de seguida, o “riffalhaço” pesadão de “Once Upon A Time”, mais uma do álbum de regresso. Então Eric retira-se e deixa o trio de instrumentistas cantarem um original dos Three Dog Night, “It’s For You”, ao qual irão juntar em meddley a irascível interpretação do clássico “Hoedown”, um excerto da peça “Rodeo” – o ballet do compositor Aaron Copland. Da sonoridade tão típica do folk norte-americano passamos para outra forma de tradicionalismo com o blues de “A Little Too Loose” e “Road To Ruin”.

A anteceder o solo de Paul Gilbert ouvimos a primeira incursão no álbum “Bump Ahead”, com “Temperamental”. Quanto ao solo, não creio ser capaz de descrever um solo de Paul Gilbert, que ainda evocou um dos seus grandes momentos em nome próprio, com os leaks de “Down To Mexico”, mas o guitarrista não está tão longe assim de Eddie Van Halen. O concerto já vai sendo longo, mas a banda anuncia os seus propósitos com mais um dos novos temas “Still Ain’t Enough For Me”. O preço a pagar para um grande concerto é recolhido pela banda em “Price You Gotta Pay”, quando Eric exige coro em resposta aos seus solos vocais, assim em jeito de gospel, e Eric anuncia “as God is my witness, wait… as Billy Sheehan is my witness” que irá terminar numa jam colossal de blues.

Demorou a surgir na setlist o álbum homónimo de estreia, mas não podia faltar “Take A Walk”, com um final em que Pat Torpey saiu um pouco da casca de subtileza em que baseou a sua prestação durante o concerto. E tempo para mais uma incursão no disco de regresso, com “Around The World”. Agora caminhamos para o fim e ouve-se “As Far As I Can See” seguida de um dos momentos mais aguardados: o solo de Billy Sheehan! A reportagem, se no solo de Paul Gilbert é impossível de descrever, no de Sheehan é impossível de explicar. Uma coisa é certa, cada um dos músicos é um Mr. Big, não o personagem vai-não-vai com aquela moça com cara de sapato da famosa série idolatrada pelo público feminino, mas um enorme músico em talento, criatividade e musicalidade. Depois, a entrada da guitarra em diálogo com o baixo só pode significar uma coisa: “Addicted To That Rush”! Um golpe bem baixo para deixar o Hard Club aos berros para que a banda retorne para o encore…

Eric Martin cumpre a formalidade de apresentar cada um dos músicos e a formalidade de pedir ao público o óbvio, berrar “To Be With You”. Para o final fica o insano “Colorado Bulldog”. Então sucedem as trocas com Paul Gilbert a sentar-se na bateria, Pat Torpey a pegar no baixo, Eric Martin na guitarra e senhoras e senhores… “Smoke On the fuckin’ Water” cantada por Billy Sheehan, que a meio passa o micro a Pat Torpey, para fazer o clássico solo de Ritchie Blackmore, enquanto Eric Martin vai pegar no baixo, para Pat Torpey surpreender positivamente enquanto lead singer no final do tema icónico dos Deep Purple. Para o final ficou o tema que Sheehan escreveu para o fabuloso álbum de estreia com o qual David Lee Roth provocou os Van Halen, “Shy Boy” lembrou-nos “Eat ‘Em And Smile”, e com esse pensamento, de barriga cheia e um enorme sorriso, o Hard Club despediu-se dos Mr. Big após a promessa de que cá voltarão!

Um “Senhor Grande” concerto.