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Nicolas Jaar, ainda não foi desta

Nicolas Jaar, ainda não foi desta

2017-06-09, NOS Primavera Sound, Porto
Pedro Miranda
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O jovem prodígio da eletrónica americana continua a ficar aquém da expectativa que o seu trabalho granjeia.

É triste ver Nicolas Jaar ficar constantemente abaixo do seu potencial em matéria de performances ao vivo, principalmente enquanto reafirma, vez após outra, o seu lugar enquanto uma das mais criativas e pouco ortodoxas mentes da eletrónica americana. Fê-lo em pelo menos mais uma ocasião, o NOS Alive de 2014 (recaindo o julgamento acerca do seu desempenho no Lisb-ON do ano passado sobre quem lá esteve) e, sem surpresas, no palco principal do NOS Primavera Sound voltou a encetar uma das menos inspiradas performances da noite.

O caso não seria tão frustrante, não tivesse já Nico mostrado que repertório para chegar a outros horizontes não lhe falta. Primeiro, com o incrivelmente inventivo “Space is Only Noise”, em 2011, seguido dos EPs “Nymphs” e a banda sonora Pomegranates (com outros belos lançamentos pelo meio), e mais recentemente com o aclamado Sirens, mais uma prova de que consegue estar um passo à frente da convenção e renovar-se conceptualmente com cada projeto a que se dedica. E bem que Jaar fez por tirar proveito disso, chamando a si alguns dos momentos mais memoráveis do disco (No, Three Sides of Nazareth, The Governor), ainda que esses momentos, alguns dos destaques do seu tempo em palco, não evitassem que a transposição da sua música para o formato live deixasse muito a desejar.

É triste ver Nicolas Jaar ficar constantemente abaixo do seu potencial em matéria de performances ao vivo

É certo que a música de Nicolas não é propriamente a mais frontal e directa, em contraste com outros atos eletrónicos que por ali passaram (Justice ou Aphex Twin), mas o que sempre teve a oferecer em abundância e excelência em estúdio pecou pela escassez: a subversão letal, as dinâmicas complexas e texturas transgressivas às quais costuma estar associado foram trocadas por uma passividade flagrante, um misto de batidas secas, baixos mortos e progressão desinspirada que não lhe fez jus. O resultado é um espetáculo que não foi pior que a habitual noite de discoteca, ainda que esse não seja propriamente o termo de comparação que aqui se procura – apreciável e certamente dançável, mas longe de deslumbrante.

Faltou-lhe, talvez, a banda que uma vez chamou às digressões do seu primeiro disco, da qual resultou outros dos seus excelentes projetos, DARKSIDE; ou uma mistura de som que evidenciasse mais eficazmente as suas qualidades, ao invés de debilitá-las. De qualquer das formas, Nicolas Jaar veio ao NOS Primavera Sound para voltar a dar um espetáculo que, para bem do seu nome e de seus fãs, ficaria melhor esquecido que na memória.

_ © Hugo Lima | www.hugolima.com | www.fb.me/hugolimaphotography