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O sistema circulatório dos Muse

O sistema circulatório dos Muse

2016-05-02, Meo Arena
Redacção
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Os Muse vieram a Lisboa para uma dose dupla de “Drones World Tour”, um espectáculo musical a 360º de dimensões gigantescas. Ao vivo o que lhes corre nas veias ainda é o rock sujo e puro dos primórdios, agora mais do que nunca com uma transfusão de mainstream.

Ainda me lembro de ver pela primeira vez os Muse, em 2004, no Super Bock Super Rock, na altura abriam as hostes para Korn e Linkin Park e apresentavam “Absolution”. 12 anos e 4 álbuns depois, arrastam multidões e trazem a Portugal uma das maiores produções que já vi nas salas portuguesas. A isto chama-se progressão na carreira. Os fãs mais puristas protestam contra a decisão da banda “se ter vendido à indústria“, de ter perdido a essência com que se apresentou entre os finais dos anos 90 e início dos anos 2000.

Mas Bellamy, Wolstenholme e Howard são como qualquer outro trabalhador que entra num novo negócio, tem ambição de ser promovido e no final do mês ter a conta um pouco mais recheada. Começa por mostrar que é diferente dos outros colegas de profissão, que tem um valor acrescentado, que é mais criativo e inovador. Passa a gerente e começa a sonhar com ser o “Big Boss”. Alguns conseguem outros não. Os Muse ambicionaram e conseguiram, não sendo exagerado dizer que os Muse são no momento um dos grandes patrões do rock contemporâneo.

Claro que ao entrarem no mundo do showbiz mainstream há sempre algo que se perde. Perde-se espontaneidade e ganha-se um público menos atento à produção sonora e mais à produção visual. Se os mesmos 3 rapazes de Teignmouth, se apresentassem naquele pavilhão para cerca de 20.000 mil pessoas, sem o circo montado, a questão se coloca é “o concerto seria tão fantástico como foi?”, em termos sonoros sim e provavelmente até melhor, sem as preocupações de “agora vou para a esquerda, e na música a seguir para a direita…”. O público ia gostar? Provavelmente poucos e só os fãs mais leais saíriam do Meo Arena a dizer que tinha sido um bom concerto e dos melhores que tinham assistido. Por outro lado, se uma banda consegue passar a sua mensagem para milhões em vez de milhares fãs, se pode ganhar milhões em vez de tostões, não vejo problema algum nessa decisão, desde que mantenha a linha do bom senso, do bom gosto e já agora dos bons álbuns.

“Drones” não é a última bolacha do pacote, mas traz-nos boas malhas e ao vivo podemos comprová-lo. “Psycho” e “Dead Inside” passaram no teste e soaram poderosas ao . Claro que não ocupam o trono de uma velhinha “Plug in Baby” de 2001, de “Time Is Running Out” de 2003 ou de “Map of the Problematique”, “Knights Of Cydonia” ambas de 2006 ou de “Uprising” de 2009. Estes serão sempre momentos de efusividade e de flashbacks num concerto de Muse.

Com “Drones World Tour” os Muse voltam a surpreender com mais uma gigantesca produção, bem pensada, e sem cair no ridículo de algumas produções mais pop. Drones luminosos e dançantes, ficarão na memória de todos os presentes, efeitos audiovisuais fabulosos e com uma sintonia espectacular com a música que se ouvia. Momentos como “Isolated System”, “The Handler” e “The Globalist” são prova disso. Não faltaram bolas gigantes e confetis, esses sim, dispensáveis. As mensagens políticas com vontade de mudar mentalidades e instigar acções dos seres mais apáticos e conformados permanecem, e essa sim é a principal razão de todo este aparato, mas que permanecerá pouco tempo na mente de quem lá esteve.

Discordo de quem diz que a essência perdeu-se. Ao vivo, os Muse continuam a ser um bandão, onde não faltam “rifalhadas”, reverbs e distorções com fartura – aqui há quem tape os ouvidos – pois bem nas veias dos Muse ainda lhes corre a herança do rock n’ roll dos inícios. A voz de Matt Bellamy continua no ponto, e o tão malvado dedo do pé partido anunciado pela imprensa dias antes não afectou, em nada a prestação do frontman. Ah! e não caiu nenhum drone, felizmente ou infelizmente para esta review que ficaria mais interessante.

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