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O Soul das guitarras de Booker

O Soul das guitarras de Booker

2017-07-08, NOS Alive, Passeio Marítimo de Algés
Carlos Garcia
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Ao terceiro dia do Alive a fusão potente de soul, garage rock, gospel e o que mais couber no caldeirão, chamado Benjamin Booker chegou ao Heinenken.

Música de voz fumarenta e ritmos que ora demoram o seu tempo ou, pelo contrário, são debitados com fúria na guitarra. Booker vem fresquinho do lançamento do seu segundo álbum. Acompanhado de uma banda de excelência que sabe imprimir um groove bem seventies ao seu som, desfilando um rol de canções que se inserem na melhor tradição da música negra. Uma das características desta nova fornada geracional de músicos é a capacidade de fusão musical, pilhando diferentes géneros  (enquanto adolescente, Booker foi influenciado pela cena punk) e épocas (pode-se ouvir aqui Otis Redding, Stooges ou Black Keys). Tal deve-se, talvez, à mudança de paradigma que a internet trouxe, em que o zapping algoritmo que o Youtube ou o Soundcloud proporcionam fazendo com que o ouvinte seja transportado para quadrantes musicais que conscientemente nunca iria procurar. Uma espécie de associação livre digital.

Acompanhado de uma banda de excelência que sabe imprimir um groove bem seventies ao seu som, desfilando um rol de canções que se inserem na melhor tradição da música negra.

Seja como for, num músico como Booker isso traduz-se em pequenos apontamentos que levam as músicas para espaços que fogem aos cânones puros e duros do género. Pois, se Benjamin tem claramente como matriz principal a música negra norte americana, esta surge como fresca e contemporânea, não um simples repescar do que veio antes.

Músicas como “Witness” (apesar de ao vivo não ter a força coral do álbum), com o seu swing de espiritual negro tornado hino do movimento “Black Lives Matter”, ou “The Slow Drag Under”, compassada e cool como um passeio no lado certo da noite, são simultaneamente um relembrar do que o melhor que os Estados Unidos deram ao mundo situa-se nos quadrantes do soul e do blues, e ao mesmo tempo a procura de inovações no género. O tom garage de “Violent Shiver” é irresistível com as pitadas certas de surf rock. Booker em palco é intenso e soulful, lembrando um Sam Cooke mais rocker, ou que teria sido a carreira de Barack Obama se este se tivesse dedicado à música em vez da política. Um bom concerto que só ficou a perder por ter encontrado um público ainda demasiado morno. Esta prestação de duas horas mais à frente no alinhamento do Heineken teria tornado uma das grandes prestações do NOS Alive’17.

Fotos: Catarina Torres