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Optimus Alive – Dia 1: Crystal Fighters foram os melhores!

Optimus Alive – Dia 1: Crystal Fighters foram os melhores!

2013-07-12, Passeio Marítimo de Algés
Nero

Num dos Verões mais política e meteorologicamente instáveis de que há memória, Julho introduz um ponto de referência fixo no vai-vem desta estranha maré. O Optimus Alive abriu oficialmente as portas no passeio marítimo de lgés, rometendo trazer-nos o melhor cartaz de sempre! Hiperbólicos? Muito possivelmente! Além de que ter sucessivamente o melhor cartaz de sempre anula o conteúdo de tal proclamação. “All you need is Love” é o que se ouve este ano nos speakers, com imagens do Séc. XX português. Momento de pausa? Ponto da situação? A temperatura veio baixa, com nuvens escuras e humidade no ar, e isso parece proporcionar um clima de fim de festa quando esta ainda está apenas no início. As atuações ao longo do dia também parecem padecer desta flutuação ciclotímica. Alguma coisa haverá presente nos céus que faça com que nada se mantenha presente ou constante durante muito tempo. De forma irrevogável!

As DEAP VALLY atacam o palco Heineken com toda a forca do seu sotaque bubble gum californiano. Trazem o power de um qualquer bar de beira da estrada a caminho do México, onde se ouve tequilla e se bebe rock`n`roll! Pó e calor e humidade. E num Verão menos esquizofrénico do que este, teria estado um tal clima de calor sufocante no ar que faria as duas meninas deste duo sentirem-se em casa! E aí talvez o pedido insistente de um dos membros da audiência  pelas panties da vocalista Lindsey Troy (nome de heroína sci fi trash) tivesse sido atendido. Mas o pedido foi revertido, mostrando que são elas que despem as calças nesta casa.  Vieram a Portugal apresentar o seu novo (e até ao momento único) álbum, “Sistrionix” . Entram ao som de “Kashmir” e desfilam o seu rol de canções faiscantes. O duo guitarra-bateria parece ser um formato que suporta bem este tipo de Blues descarnado e musculado. Como se a redução ao mínimo essencial permitisse que a força das emoções surgisse de dentro para fora, despida dos tiques e adornos que tantas vezes descaracteriza este tipo de bandas. Num dia de humidade fina, trouxeram suor e trouxeram curvas. Estabeleceram desde o início a comunicação e a empatia com o público e foram a banda do dia que melhor o fizeram, num flirt descarado e permanente entre banda e público.  California ubber alles! E como num passe de mágica eis que as duas Californianas em palco se transformam, permanecendo os mesmos. Muda o género, muda a nacionalidade.  O nosso carro terá feito talvez inversão de marcha e, antes de chegar à fronteira com Tijuana, eis senão quando (numa daquelas decisões de último minuto regadas e iluminadas pelo pai Baco), fazemos pião no asfalto e rumamos agora ao norte, ao outro lado da fronteira. Continuamos no entanto apostados em perder a cabeça e os sentidos no mais refundido bar de nómadas e almas especiais no meio de nenhures. Quem ocupa agora os instrumentos deixados vagos pelas senhoras anteriores são os JAPANDROIDS. E apesar de o nome sugerir uma qualquer banda pop sintetizada de combates anime entre robôs gigantes, continuamos no entanto com a mesma toada de power blues. Guitarra com gemidos, bateria sólida e intensiva. Coros em backup. Quem veio numa onda de power duos teve hoje dose dupla. E é pró menino e prá menina. Música primal. E neste final de tarde aquele que é quase sempre o melhor palco do Alive torna-se uma imensa auto-estrada que conecta os pólos fronteiriços opostos dos Estados Unidos!

Ruma-se então ao outro lado do recinto para ver a estreia dos TWO DOOR CINEMA CLUB no palco principal. E neste rumar atravessamos o Atlântico, num percurso inverso ao de tantos emigrantes que foram procurar o sol e a fortuna ao outro lado do mar, e aterramos na Irlanda. E parece já ser uma tradição ter bandas enraizadas numa qualquer ancestralidade céltica a agarrar pelos cornos e conquistar completamente a multidão do palco Optimus. Talvez porque haja um sopro na alma lusa vindo em tempos remotos daquelas partes. Talvez porque o percentil do público provindo ele mesmo de terras Anglas(transportados pelos bem menos poéticoS ventos da EasyJet) continua elevado. Seja qual for a razão, e tal como os Mumford o haviam feito no ano anterior, estes lads de Bangor trouxeram a festa para celebrar o pôr do sol. Se a alma bárdica está presente no conteúdo, a forma no entanto não assume os contornos Folk habituais. Esta expressa-se por guitarradas indie e sintetizadores new wave. Visualmente podiam ser facilmente a reencarnação de uma qualquer banda neo romântica desaparecida cerca 1984. Gravatas e melenas trabalhadas sim,  mas filtradas pelo espírito do pub mais próximo. E com o sentido da dança sempre presente. Torna-se difícil dizer com precisão quando foi que grupos de rapazes brancos betinhos começaram a ouvir sons do Mali ou ritmos e batuques da Costa do Marfim. Ou talvez a coisa se resuma aos pais terem a discografia completa do Paul Simon em vinil lá em casa (Olá Vampire Weekend!). A verdade é que venha de onde venha a componente rítmica africana que se imiscuiu no indie pop, é bem vinda. Ou pelo menos assim parece demonstrar o público com o acolhimento a “Sun”, “I can Talk” ou “Next Year”.

E a viagem continua em perfeita sincronia pois regressando ao Heinenken regressamos também ao outro lado do Atlântico. Os EDWARD SHAPE AND THE MAGNETIC ZEROS, com o seu nome interminável, são uma espécie de troupe revivalista californiana. Com a sua quota parte de missionarismo evangélico, vieram-nos converter a um qualquer estranho deus, daqueles que foi importado do velho para o novo mundo, e existe agora com toda a sua velha essência de séculos, mas com novas roupagens. São muitos em palco e trazem qualquer coisa de sentido e genuíno. Como se tivessem encontrado um qualquer ponto de lucidez no coração e viessem aqui partilhá-lo connosco. Pregadores do deserto, batizando a multidão em pó de estrada, são um pouco a versão preparada para festivais de um qualquer número maior e mais conceptual. Um qualquer musical estranho, de temas bíblicos revistos sob a lente sagrada de plantas psicoativas. Se um dia a esquizofrenia instalada neste mundo tiver resolução, a banda sonora será possivelmente uma das músicas desta rapaziada. A vocalista Jade Castrinos desce até ao público no final para com ele cantar Home. Connosco. No meio de nós. Parece emocionada. São boas pessoas. They love their Ma e Pa. E vieram levar-nos a casa!

Rumando a costa leste, pelos canyons urbanos de Nova Iorque (a sua cidade de sempre), chegam os cabeças de cartaz do dia (isto num mundo normal em que a banda que encabeça o cartaz seja uma que tenha um mínimo de relevância no momento presente ou um passado glorioso inquestionável). Os VAMPIRE WEEKEND vêm apresentar o novo álbum, “Modern Vampires of the City”.

 

Apresentam-se com um line up de músicas irrepreensíveis. Cada canção é um single. Dançável. Ou pelo menos cantarolável. As mais recentes já são favoritas. A rodagem de palco nota-se claramente, e vê-se o quanto esta banda cresceu desde que se apresentou aqui neste mesmo palco há 4 anos atrás. Deram esta noite o que, segundo qualquer critério objetivo, foi um bom concerto. E no entanto… qualquer coisa esteve ao lado. Sempre. Houve uma estranha ausência daquele indefinível que transforma uma boa performance em algo mágico. E essa magia hoje não pairou sobre os Nova Iorquinos. Há noites assim. Em que se faz de tudo para descolar. E por razões de ordem técnica ou metafísica o combustível ou a propulsão não chegam para tirar o veículo do chão. A ordem do line up também pareceu não ajudar, tendo um início muito forte com o que de mais energético havia no primeiro álbum ou o rasgar poderoso que é “Diane Young”, mas que vai progressivamente baixando ao longo do concerto. “Walcott” aparece no fim como que a tentar resgatar a energia perdida, mas o dano já foi feito. Fica uma grande vontade de por uma vez os ver por cá em nome próprio e não encaixados entre outras duas presenças de festival. A sua apresentação já está mais que feita. Já mereciam uma grande noite de celebração só para eles. Com Peter Gabriel como convidado especial!

A magia que pareceu ir tomar um copo ou dois durante os Vampire, aparece em força e rejuvenescida com os CRYSTAL FIGHTERS. Estes guerreiros de cristal foram não só o melhor do dia como pela primeira vez a tipologia stoner/psychadelic rock parece-me fazer pleno sentido. Não uma coisa progressiva e derivante, mas antes uma fusão delirante de géneros, ritmos e influências. Tal como os Edward Shape têm o seu quê de troupe messiânica. Mas enquanto aqueles assentam num revivalismo inspirado na tradição cristã, estes parecem vir dos confins de uma qualquer tradição xamânica perdida algures no topo da Ibéria. Banda basca, utilizando vários instrumentos típicos daquela nação, parecem emergir das montanhas Asturianas para uma reconquista invencível, não da península mas antes do universo inteiro. A sensação de estar a ouvir algo genuinamente novo não ocorre muito hoje em dia. Quando a isso se junta o facto de isto ser completamente fora, dançável, cantarolável e revelatório, temos a banda sonora perfeita para festivais. Queremos vestir estranhas roupas coloridas e viajar com estes andarilhos neo ciganos pela estrada fora. Queremos vê-los a tocar no Alhambra ao pôr do sol. Queremos vê-los como banda sonora oficial destes tempos de crise, caos e redescoberta. E principalmente queremos consumir seja o que for eles estejam a tomar. Só pode ser bom!

A noite já vai longa e encerra com último sobrevivente do estranho vírus que um por um ceifou os Ramones na ultima década. MARKY RAMONE juntou-se a Mr.”Party Hard” Andrew W.K. e pôs o pé na estrada para com a sua batida metronómica  tocar os êxitos da banda que lhe dá o apelido. Todos conhecemos as músicas, o punk começou aqui e é André W.K. a assumir as funções de vocalista, navegando de forma competente na sempre ingrata função de não se afastar demasiado da matriz vocal original (e peculiar) de Joey Ramone, mas ao mesmo tempo não se limitar a fazer um simples mimetismo, trazendo o seu próprio estilo e conteúdo. O tardio mina as forças mas face ao apelo 1, 2, 3, 4, que aqui faz de não pausa entre as músicas, há sempre um último esgar de energia que assoma nas muitas clareiras agora abertas no recinto! “Shenna is” “I Wanna be Sedated” “BlitzKrieg Bop” e até “Pet Cematary” fazem a sua aparição aqui. Filthy lucre tour? We’re only in it for the money? Talvez! Mas hoje pouco importa. Hey ho let’s go home, que a primeira jornada está concluída!

Nota: E aqueles que se surpreendem com o final da review antes mesmo de umas palavras sobre Green Day, já deviam saber que a equipa da Arte Sonora tende a remar contra a maré. A ser do contra. Politicamente incorreta. É só escolher. Isso ou estivemos a fazer entrevistas a essa hora…

 

Foto: Optimus Alive