Quantcast
Ornatos Violeta, O Monstro Teve Muitos Amigos no Alive 2019

Ornatos Violeta, O Monstro Teve Muitos Amigos no Alive 2019

2019-07-11, Passeio Marítimo de Algés
Nero
Inês Barrau
8
  • 9
  • 9
  • 8
  • 8

Os Ornatos Violeta, no seu concerto no NOS Alive, tornaram a dissecar emotivamente o coração desse genial disco da música portuguesa que é “O Monstro Precisa de Amigos”.

Formados no Porto em 1991, os Ornatos Violeta estiveram em actividade perto de uma década, graças aos dois álbuns editados e às suas intensas prestações em concerto. Os Ornatos ascenderam ao estatuto de “A Banda” do cenário musical pop rock português nos anos 90, através de uma  fórmula invisível, que fez de Manel Cruz, Peixe, Nuno Prata, Kinörm e Elísio Donas, senhores de um groove estranho, de uma sonoridade feita de miscigenação com a cidade do Porto: melodias e palavras invictas que resistiram a tudo.

Em 2002 anunciaram a separação, regressando em 2012 para a celebração dos 20 anos da sua formação, com oito concertos especiais. Nunca ninguém os esqueceu ou removeu do altar cultual. Existem vários factores que podem ter contribuído para isso: ser uma banda formada por amigos e colegas de escola, terem acabado no auge, a participação do Vítor Espadinha e do Gordon Gano nos singles do “Monstro”, a empatia com as letras do Manel, algum rasgo nos arranjos das canções, a paixão notória naquilo que faziam… Em última análise, nenhum fenómeno de culto tem uma explicação racional.

Em 2019 voltaram a juntar-se, no NOS Alive, para comemorar mais um marco. Editado a 22 de Novembro de 1999, “O Monstro Precisa de Amigos”, o segundo e último álbum de originais dos Ornatos Violeta, superou as expectativas criadas pelo disco de estreia, “Cão!”, e confirmou o talento da banda na composição de canções intemporais, verdadeiros tesouros do cancioneiro nacional. Produzido por Mário Barreiros, “O Monstro Precisa de Amigos” foi o habitual “difícil segundo disco” que acabaria por se revelar o magnum opus da banda, quer a nível musical,quer a nível comercial, atingindo a marca de Platina.

Se o primeiro disco puxava a Red Hot Chili Peppers, o segundo puxou a Radiohead. Notável pelos seus brilhantes arranjos, o “Monstro” traduz-se em suavidade e maturidade musical. Com o “Monstro”, os Ornatos Violeta tornaram-se  sólidos e coesos, tal como se mostraram no Passeio Marítimo de Algés.

O concerto começou com a arrebatadora suavidade da homenagem aos Xutos, através da interpretação de “Circo de Feras”. Cadenciada, eloquente, carregada no piano. Depois o som tornou-se mais musculado com “Tanque”, que contém essa fabulosa entoação que deveria persistir no imaginário português pelos séculos dos séculos: «Meu mal é ver que eu vou bem!» Foi aí que Cruz se muniu, pela primeira vez , de uma bruta Aria Pro II Thor Sound (pareceu-nos bem modificada, sem nos deixar apurar o modelo exacto). Peixe manteve-se sempre com um modelo semi-hollow da PRS. Já agora, Nuno Prata exibiu um poderoso Washburn. Abrindo a galeria de imagens do concerto (no fundo do artigo), podem ver as amplificações de cada um dos músicos, destacando-se o pré amp Groove Tubes de Cruz.

O colectivo deste grupo compõe uma magnífica argamassa instrumental, mas é este Manel Cruz que insufla vida na matéria. Depressa lhe voou a t-shirt, como se fosse preciso sentir estas canções com a pele nua. Mas depois vestiria uma, dos Ornatos (cedida por alguém na plateia), mascarando-se de fera, um felino improvável a cheirar o rasto quase desvanecido de amores antigos no suor dos outros. Foi já há mais de uma década que estas músicas foram escritas, e será preciso reencontrar a raiva, e amargura e dor e a doçura e o amor que um dia as alimentaram.

Naturalmente, “Ouvi Dizer” evocou maiores paixões ao público. “Há-de Encarnar” e “Pára-me Agora” são os extras que invadem o espaço do “Monstro”, temas extraídos da reedição expandida do disco. Até ao melhor fim que poderia haver para um disco e um espectáculo musical, através de “Fim da Canção”, com uma letra que vai de encontro à de “Tanque” e deu, tal como acontece no álbum, uma sensação intemporal ao concerto.

SETLIST

  • Circo de Feras
    Tanque
    Pára de Olhar Para Mim
    Para Nunca Mais Mentir
    Ouvi Dizer
    Há-de Encarnar
    Coisas
    Notícias do Fundo
    Deixa Morrer
    Nuvem
    O.M.E.M.
    Chaga
    Dia Mau
    Pára-me Agora
    Capitão Romance
    Fim da Canção