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PAUS, Se Brian Eno Fosse Latino

PAUS, Se Brian Eno Fosse Latino

2018-04-13, Capitólio, Lisboa
Nero
Inês Barrau
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Os PAUS apresentaram o novo álbum, “Madeira”, em Lisboa, revelando uma unidade renovada entre cada um dos seus músicos e as suas ideias.

Lê-se numa das várias notas de apresentação de “Madeira” que «os PAUS continuam a ser Hélio Morais, Makoto Yagyu, Fábio Jevelim e Quim Albergaria. Um baixo, teclados e uma bateria siamesa ainda são as ferramentas do seu ofício». Mas na apresentação ao vivo do novo álbum, bateu nos primeiros temas, “Pela Boca” e “Mo People”, que a singular sonoridade da banda tem coisas de Brian Eno. Claro, se Brian Eno fosse latino na sua forma de pensar progressões melódicas e, acima de tudo, tivesse as batidas desse folclore como endémicas, como PAUS.

E as batidas são o centro da banda e do som e foram também o centro do concerto. “Blusão de Ganza” (tocado numa fusão das duas partes que surgem no álbum) reaviva a sensação de resistência à matemática estranha dos PAUS, cuja compreensão é barrada pela lógica e surge, quando a abandonamos, através do instinto, através da força rítmica. Estranhamente metódica, a fusão das duas baterias apenas deu a sensação de maior descontrolo num momento como o semi hino “Bandeira Branca”, criando um vendaval de flam! Numa gestão em crescendo de intensidade, o peso que duas baterias (ainda que um único bombo) possam sugerir só foi materializado em “Tronco Nu”, a bomba do álbum homónimo, e depois na abertura do encore, com “Primeira”. São os temas de “Madeira” que apresentam mais subtilezas da linguagem gémea de Morais e Albergaria, como exemplifica o tema título e as suas vibrantes ghost notes. O mesmo poderia ser dito de “Sebo na Estrada” e “A Mutante”. Os PAUS, continuam o seu desenvolvimento como banda, em estúdio e ao vivo, e a certeza é que isto parece estar tudo ainda no início.

Foi o primeiro concerto que tivemos oportunidade de acompanhar no Capitólio e o som esteve… “lá”. A boca de palco parece eliminar reflexões, ajudando bastante a captação, e a sala soa seca, sem o costumeiro inferno de reverberações, mas deve-se dizer que o monstruoso som do Ibanez Jazz Bass de Makoto, um infame lawsuit dos anos 70, desempenhou nisso um papel preponderante.

SETLIST

  • Pela Boca
    Mo People
    Blusão de Ganza
    L123
    Sebo Na estrada
    970 Espadas
    Faca Cega
    Bandeira Branca
    A Mutante
    Pelo Pulso
    Madeira
    Tronco Nu
    Primeira
    Era Matá-lo
    Mudo e Surdo
    Deixa-me Ser