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Peter Gabriel

Passion: Music For The Last Temptation Of The Christ

Geffen, 1989-06-05

EM LOOP
  • The Feeling Begins
  • Of These, Hope
  • A Different Drum
  • Zaar
  • Passion
  • It Is Accomplished
Nero

O extraordinário trabalho musical de Peter Gabriel, criando pontes entre o Ocidente e o Médio Oriente, para o filme que Martin Scorsese (um dos seus mais espontâneos e melhores) construiu a partir do romance teológico de Nikos Kazantzakis.

Em 1988 um génio, em resposta sonora a um argumento gráfico, definiu as barreiras daquilo a que hoje chamamos world music e até new age. Muitos anos depois continuaram, a partir daqui, a ser moldados trabalhos como os de Sephiroth ou aqueles lançados por Ulf Söderberg em nome próprio. Mais mediática, a banda sonora que John Debney escreveu para o filme “The Passion Of The Christ”, de Mel Gibson, bebeu directamente deste disco, para não falar no que despoletou no som de Bredan Perry e Lisa Gerrard, entre imensos outros.

Este álbum criou essa definição imperialista britânica, do som que é feito fora dos moldes pop do mundo ocidental. Por coincidência, tal como o próprio cristianismo, apoderou-se de elementos que lhe eram externos e aculturou-os, emprenhando-os da sua própria força estética.

Portanto, ao mesmo tempo, criou a fusão entre ambas as correntes, entre todas as correntes, fez ponte entre mundos – até em músicos que trouxe para esta aventura e ganharam familiaridade junto dum público maior, como foi o caso de Nusrat Fateh Ali Khan, L. Shankar, Baaba Maal e, claro, Youssou N’Dour – trazendo mesmo para as composições inserções de peças tradicionais da Arménia, Curdistão ou Egipto.

É certo que a partir do momento que abandonou os Genesis, Peter Gabriel iniciou uma procura também progressiva, no sentido do termo, mas fora dos moldes do rock e os seus trabalhos tiveram sempre demarcada essa busca pelo som universal humano, no início excêntrica nas estruturas de ritmo e melodia até abraçarem uma certa sobriedade tocada pelo minimalismo com que escreve actualmente.

Mas aqui, no meio da sua carreira a solo, surgiu este trabalho que é um marco, um padrão de conquista musical único. A própria score serviu o filme “The Last Temptation Of Christ”, de Scorsese, duma forma perfeita. Pela fusão de características sonoras modernas e tradicionais, eléctricas e espirituais, a música corporiza a dicotomia do brilhante romance teológico de Nikos Kazantzakis. Foi a segunda banda sonora da carreira de Peter Gabriel e o seu oitavo trabalho a solo. Foi originalmente intencionado apenas para musicar o filme, mas Peter gabriel apaixonou-se pelo projecto e passou depois vários meses a desenvolvê-lo para editar o álbum como seu em vez de limitá-lo a OST.

Pelo impacto que este álbum, abraçando essas duas plataformas, teve na forma como tantos procuram pensar a música, é um trabalho incontornável, algo que acreditamos que qualquer verdadeiro amante de música devia ter na sua colecção. Há poucas obras no mundo que harmonizem teologia, filosofia, antropologia, cinema e música. Muito poucas.