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Portishead, o seu a seu dono

Portishead, o seu a seu dono

2014-07-19, Marés Vivas, Gaia
Redacção
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A banda trouxe “Third” de regresso à cidade onde, em 2008, foi inaugurada a digressão de suporte ao álbum. O Marés Vivas esgotou para ver Beth Gibbons.

De regresso ao Porto, um local grato para os Portishead, confesso por todos os membros da banda e em especial por Beth Gibbons. Foi este o mote que deu início ao concerto dos Portishead, na última noite da 12.ª edição do Festival Marés Vivas…

“Esteja alerta para as regras dos 3
O que você dá retornará para você
Essa lição você tem que aprender
Você só ganha o que você merece”

Foi também esta a cidade que em 2008 foi escolhida para o concerto inaugural da tour do seu último álbum “Third” e terão sido eles próprios a propor a vinda este ano ao festival. Depois do arranque a ferros desse álbum que, como eles referem, demorou o tempo necessário a ser criado de uma forma madura e consciente, apresentaram-se nesse primeiro concerto apreensivos pela reacção do público a um estilo que os afastava da estética sonora que toda a gente lhes reconhece e pilar do movimento trip-hop mundial. Apesar desse distanciamento, a gente do norte não desiludiu, nem no Coliseu em 2008 nem agora, prestando-lhe em audiência esgotada a derradeira homenagem.

Ansiosos pelo início, aguardava-se enquanto os pedidos a S. Pedro se sussurravam debaixo de nuvens carregadas de água no céu, até que o murmúrio se quebrou para uma explosão de vitalidade quando Portishead entraram em placo. Começa frenético com “Silence”, uma antítese tão evidente quanto o contraste entre a postura de Beth Gibbons e as imagens irrequietas que acompanharam toda a performance num painel gigante atrás dos artistas.

Mesmo os temas dos dois primeiros álbuns estiveram marcados pela dureza, pelo som experimental e sujo de “Third”, que caracterizou o concerto

Mas foi logo de seguida que, com os telemóveis em riste, se acompanhou “Mysterons” com a plateia a cantar em uníssono «all for nothing… did you really want…» E era sempre mais vibrante a reacção às músicas dos primeiros dois álbuns e, mesmo sem ter falado durante o concerto, a vocalista estava em discurso directo através de “Sour Times“, “Wandering Star” e “Over” deliciando todas as pessoas no recinto. Mas mesmo esses temas estavam marcados pela dureza, pelo som experimental e sujo de “Third” que caracterizou o concerto, juntamente com a componente visual muito presente. Isso percebeu-se em “Machine Gun”, um tema pesado e estridente, com vídeos alusivos a temas políticos e de guerra. Reflectiu a actualidade, trazendo uma forte carga emocional ao mesmo tempo que caía uma chuva em gotículas provocando “efeitos especiais” nos raios de holofotes que projectavam luzes nas nuvens.

O momento alto da noite foi com “Roads” já no encore, em som puro e cristalino entregando tudo de coração aberto a uma plateia que sempre a acolheu. Para terminar em “We Carry On” deixa-se abraçar descendo ao público e depois em voz trémula, num misto de emoção e surpresa, deixa um «thank you so much», numa retribuição do carinho ali sentido.

Da nossa parte, Obrigado também.

Texto: André Morais

SETLIST

  • Silence
    Hunter
    Mysterons
    The Rip
    Nylon Smile
    Sour Times
    Magic Doors
    Wandering Star
    Over
    Chase the Tear
    Machine Gun
    Cowboys
    Glory Box
    Threads
  • Roads
    We Carry On