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Quelle Dead Gazelle + Lotus Fever: Musicbox em Maus Lençóis

Quelle Dead Gazelle + Lotus Fever: Musicbox em Maus Lençóis

2016-05-14, Musicbox, Lisboa
Pedro Miranda
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Corria ainda o ano de 2013 quando, pela primeira vez, os Quelle Dead Gazelle chamuscaram o tecido da alternativa nacional com um EP de estreia que surpreendeu pela garra e pela criatividade em igual medida.

Na altura, chegaram a tocar no ainda Optimus Alive, antes de se refugiarem numa qualquer toca durante o que se pode considerar demasiado tempo, pelo menos para uma jovem banda em ascensão à procura de se aproveitar do proverbial hype que se constituiu à sua volta. No passado sábado, de disco novo na algibeira, a dupla de post-rock  veio ao Musicbox mostrar o que esteve a fazer no período longe dos palcos.

A abertura ficou a cargo dos surpreendentemente familiares à plateia Lotus Fever, que deram provas do seu valor com um set tão animado quanto introspectivo. Em apenas cinco canções, que congregavam com um pé na tradição rock ‘n roll e outro na divagação exploratória, mostravam conhecer o melhor dos dois mundos, e deles aproveitavam-se para uma performance em diversos sentidos impressionante. Pedindo a ocasional dança do público, com ritmos eufóricos e batidas boémias, e simultaneamente exibindo a audácia sónica e composicional de quem andou a ouvir muito Radiohead em casa, os Lotus Fever demonstraram possuir uma maturidade que vai muito além do que denotariam as jovens caras do quarteto.

E por falar em talentos florescentes, Quelle Dead Gazelle tomaram o palco pela primeira vez perante um Musicbox a rebentar pelas costuras, comparência que os próprios admitiram não estar à espera. O concerto que davam, no entanto, clamava pelo contrário, à medida que Pedro Ferreira e Miguel Abelaira transpareciam não apenas maturidade, mas também amplificação no primeiro longa-duração, “Maus Lençóis”.

É certo que, sonicamente, não mudou muita coisa para os Quelle Dead Gazelle: a guitarra agressivamente distorcida acompanhada da secção rítmica colorida a tons de afrobeat (ou post-rock-para-quem-g0sta-de-dançar, se quiserem) permanece. Mas é apenas na faixa de abertura, “Sede”, que permanece ainda a redundância que definhou algumas das músicas do EP de estreia; todas as outras demonstram uma garra admirável, garra essa que o duo explorou em abundância na consolidação da sua performance. “Burundi”, “Chavalo Lusitano”, a encerradora “Fala Baixo” e o lead single “Pedra Pomes” estiveram no centro de um concerto que foi, todo ele, electrizante e ritmado a mãos fartas.

Após a performance do álbum na íntegra, Pedro e Miguel fizeram ainda questão de deixar um encore, sem que tivessem, para isso, de sair do palco. A contragosto do recinto, que já via os horários a apertar, ainda houve tempo para a acarinhada do público “Afrobrita”, que desdobrou em aplausos uma audiência que já se havia mostrado rendida. Comovidos pelo apreço mostrado, os Quelle Dead Gazelle despedem-se sumariamente, algo desajeitados, mas com a promessa de voltar com mais.