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Reverence Valada, primeiro dia

Reverence Valada, primeiro dia

2014-09-12, Valada
Timóteo Azevedo
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O festival Reverence Valada aconteceu este fim-de-semana passado. Poucas foram as horas em que não se ouviu música para os lados de Valada. A longa maratona de concertos, foram mais de 60 nomes, chegou ao fim com o cansaço que é natural neste tipo de eventos, mas causando um impressão positiva a quem por ali andou.

Inserido num campo de futebol de onze, o palco Reverence foi o maior palco, onde foi possível ter a noção da quantidade de pessoas que compunham o público (uma massa maior do que estávamos à espera), e onde, naturalmente, foram recebidas as bandas maiores. A esses concertos dedicaremos artigos específicos.

Por questões logísticas no acesso às acreditações de imprensa, só nos foi possível entrar com os Cave Story a tocar o último acorde. Antes disso, ouvimos do lado de fora a “Richman”. Canção ideal para um início de tarde que, ao contrário das previsões meteorológicas, foi bafejada pela graça solar.

Após um passeio de reconhecimento pelo festival, chegamos ao palco Sabotage para os chocantes Putas Bebadas. Punk, noise e desleixe desmesurado: esta banda é um statement. Um concerto que talvez tivesse tido outro efeito a uma hora mais avançada.

Ainda no mesmo palco, os Killimanjaro voltaram a repetir a dose de rock que nos ofereceram no recente concerto no bar Sabotage. Tudo tocado nos trincos numa actuação só prejudicada pelo som. Infortúnio que aconteceu para grande parte das bandas que pisaram o palco Sabotage.

Wooden Wand, nome artístico do norte-americano James Jackson Toth, sobe ao palco Rio só e de guitarra acústica na mão para um concerto calmo, com aqueles trejeitos no cantar à Dylan. “Winter in Kentucky” é tocado com uma Fender Jaguar, embora, sem o resto dos instrumentos, perca a força da versão em estúdio. Com o final deste curto concerto, os portugueses Sunflare já arrancaram no palco Sabotage, O trio actua sob o desígnio do improviso, com ritmos de bateria intrincados e solos de guitarra incessantes e inflamados. Mais uma vez, o palco Sabotage com um som pouco amigo das bandas, o que acabou por prejudicar o concerto.

Os Cave foram uma das surpresas do dia. Krautrock interessantíssimo, feito a guitarras, baixo, teclas, bateria e um ocasional saxofone. Chega a haver uma certa vibe afrobeat, com ritmos sincopados e guitarras a tocar padrões psicadélicos. Onde muitas vezes acabamos por nos queixar disso em outras bandas, aqui a repetição é uma coisa boa. As pequenas nuances que vão sendo acrescentadas, ajudam a gerir a tensão entre expectativa e execução, algo bastante explícito na música que fechou o concerto, “Arrow’s Myth”.

O concerto de Ringo Deathstarr, apesar de alguma expectativa, não conseguiu captar a nossa atenção por muito tempo, e fomos apanhar Woods no outro palco. A banda formada em Brooklyn, cujo o percurso conta com oito álbuns, o último, “With Light and With Love”, lançado em Abril deste ano, foi o final de tarde perfeito, com a ligeireza necessária para acalmar os espíritos. Apesar do seu som mutante, que tanto vai buscar ao folk americano mais tradicional como ao rock psicadélico, o concerto centrou-se no último álbum, com músicas como “Shinning”, “Moving to the Left” e “Leaves Like Grass”.

Após os concertos no palco Reverence, o peso transfere-se para o palco Sabotage, com os portugueses Process of Guilt a obrigar ao headbanging inevitável. Ponto alto de toda esta máquina de peso foi a música nova “Liar”, lançada em split este mês com a banda Rorcal. Acabada a demolição que foram os Process, ainda conseguimos apanhar o final do concerto de White Hills. O que não falta a esta banda norte-americana é repertório, com treze álbuns lançados desde 2005. Contudo, os temas normalmente longos, e o contexto de festival, não permitem muita flexibilidade. Bateria, baixo, synth, guitarras e voz altamente processadas. Num psicadelismo do rock, mas que deixa margens para a exploração de ambientes estranhos e menos estruturados. Para ajudar o hipnótico da actuação, temos a silhueta de Ego Sensations, baixista da banda, em napa preta.

The Telescopes contaram em palco com os três músicos de Sunflare, para uma longa música de xamanismo rock, antes de darem lugar aos Black Bombaim, que foi o último concerto que conseguimos ver, dado o cansaço e a hora avançada. Ainda muitos resistentes ficaram para Miss Lava e The Cosmic Dead.

[Os concertos do palco Reverence têm artigos dedicados]